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Iniciativas sustentáveis em alta

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 12/09/2022

Núbia Maria Oliveira e sua horta (6)
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A palavra sustentabilidade vem se atualizando e ganhando novos sentidos ao longo do tempo. É claro que quando a citamos, não estamos falando essencialmente de práticas de proteção ao meio ambiente. As práticas sustentáveis, hoje em dia, também se referem à economia de recursos e a auxílios sociais e socioeducativos, por exemplo. Assim, ter um condomínio sustentável é garantir práticas de proteção ao meio ambiente como coleta seletiva de lixo, mas também é economizar luz, é gerar renda para cooperativas sociais, é diminuir o consumo, entre outras ações.

Nos condomínios, a sustentabilidade não para de ganhar importância, especialmente pela questão da economia. Já é percebido que uma gestão sustentável também otimiza – e muito – os custos. Quem garante é o síndico profissional e consultor para sustentabilidade em condomínios, Carlos Garcia, que administra mais de 11 edifícios em Brasília. Em todos, ele aplica o que chama de “inteligência predial”.

“As políticas de sustentabilidade, hoje, envolvem muito mais do que só a parte de separação e coleta do lixo”, diz. Dos condomínios que administra, mais da metade são auto sustentáveis em energia e em reuso de água. Carlos explica que, não importa de que tipo é o seu condomínio, sempre é possível otimizar e implantar tais práticas. A mais conhecida – e essencial, atualmente – é a separação correta do lixo e seu recolhimento periódico. No Condomínio Brisas do Lago, de 750 unidades, administrado por Carlos, há uma cooperativa que vem comprar e retirar o lixo, devido a sua grande quantidade. 

“Criamos um plano de gestão de resíduos sólidos, desviando o lixo dos aterros sanitários. Normalmente, as empresas pegam esse material, jogam no lixão, cooperativas realizam a separação e levam para a reciclagem. Mas é importante fazer uma pré-separação no próprio condomínio. Separar plásticos recicláveis duros, tomadas. Separar vidro, metal, papel e plástico. Separar lixo hospitalar, quando houver. É uma separação mínima que todo condomínio deveria fazer e ensinar aos seus moradores os processos corretos”, explica.

Para o especialista, ainda falta muita informação sobre a questão da separação do lixo. “No geral, as pessoas não lavam o lixo que chamamos de seco, não sabem que precisa, e isso acaba contaminando as amostras. Tem muita gente que também não separa em casa e mistura tudo. É preciso lembrar que cada pessoa gera em torno de 1kg de lixo por dia. Imagine o estrago que isso pode causar a longo prazo”, afirma.

O condomínio Brisas do Lago tem também um sistema de aquecimento solar da água de todos os apartamentos, tecnologia que já foi implantada na construção do edifício.

“São placas solares de captação do calor do sol que esquentam a água e há reservatórios de água quente para que os moradores usem à noite. Temos ainda um sistema de complementação de calor para os dias que chovem. Para esta tecnologia, é preciso ter a manutenção em dia, porque as placas se sujam, tem que ajustar sempre as bombas, sensores, placas etc. É um sistema que tem um grande ganho do ponto de vista do gasto de energia e de economia de recursos. Economiza absurdamente a emissão de CO2. Se eu fosse aquecer tudo com chuveiros elétricos, estamos falando de um gasto de centenas de milhares de reais. Faz uma grande diferença na conta de luz do prédio”, diz ele, que já recebeu prêmios por suas iniciativas e integra o Smart Cities Business América, associação que debate iniciativas sustentáveis para condomínios e cidades.

O Brisas do Lago ainda recolhe resíduos tóxicos, faz compostagem no próprio condomínio em espaços separados especialmente para isso, possui um sistema inteligente de acionamento de luzes e tem um sistema externo de geração de energia fotovoltaica. São usinas de geração de energia solar que, por não terem espaço no condomínio, foram erguidas em outro espaço, mas conduzem a energia até lá. Por estar localizado em frente ao Lago Paranoá, o condomínio também possui um sistema de reutilização da água do lago.

“Temos uma outorga para a utilização da água do lago a partir de um poço. E essa água volta diretamente para o próprio lago, quando direcionada à água pluvial. Nessas condições, conseguimos a possibilidade de uso com o órgão ambiental, com o Instituto Brasília Ambiental (IBRAM) e a concessionária de águas. Temos uma expectativa de uma economia por volta de R$30 mil por mês”, diz Carlos Garcia, que também foi o primeiro síndico a implementar um sistema de geração de energia fotovoltaica em Brasília, além de já ter implementado sistemas sustentáveis em mais de cem condomínios. 

“Para termos uma cidade inteligente, é preciso ter um bairro inteligente e um prédio inteligente. O bairro é público, com outras dinâmicas e velocidades. Assim, o prédio inteligente é o primeiro conglomerado de inteligência. Devemos focar muito nos prédios. Se tivermos prédios inteligentes, o bairro também será inteligente sem precisar fazer nada, e teremos cidades sustentáveis”, afirma.

 

Em São Paulo, iniciativas implementadas constantemente

No Condomínio Wish Residence, de 76 unidades, erguido pela MBigucci Construtora, o síndico Edmilson Cassiolato e o conselho do condomínio vêm implantando práticas sustentáveis há seis anos, como a coleta de óleo, recipiente para coleta de pilhas e baterias, e a coleta seletiva revertida para uma ONG que faz o recolhimento. Por não ter uma quantidade enorme de lixo, o síndico optou por reverter a verba gerada à própria ONG. 

“Foi a primeira coisa que implementamos e as pessoas já foram se adaptando rapidamente. Temos ainda água de reuso, uma horta comunitária de temperos e ervas para os moradores. Trocamos as lâmpadas por LED e também inserimos sensor de presença nos pisos de garagem, gerando economia de energia”, explica o síndico que agora, se prepara para implementar as placas fotovoltaicas.

Para ele, é preciso conduzir os processos aos poucos, aprovando sempre em assembleia. “As placas fotovoltaicas são o nosso próximo desafio. Levamos em assembleia no ano passado e o custo acabou inviabilizando um pouco para nós na época. Esse ano o custo baixou, então, acho que conseguimos aprovar em outubro”, diz.

A MBigucci, responsável pela construção do condomínio, também vem fazendo a sua parte com o Programa de Responsabilidade Ambiental “Big Vida”. Iniciado em 2005, o programa tem como objetivo minimizar os impactos causados pela construção no meio ambiente, otimizar os recursos naturais como água e energia elétrica e manter a obra limpa e organizada. Durante a construção do Wish, foram feitas ações como captação e aproveitamento de água da chuva, iluminação natural com garrafas PET e telhas translúcidas, coleta seletiva de resíduos e envio para reciclagem, além da instalação de muro verde, jardim de temperos etc.

 

Muito mais que sustentável, a horta vira um espaço de convivência

Ainda em São Paulo, a síndica profissional Núbia Maria Ferreira, que administra e vive no Edifício Leão, de 18 unidades, em Vila Mariana, sempre foi apaixonada pelo cuidado com a terra. Alagoana de nascimento, ela trouxe a sua experiência no cultivo para o condomínio, criando uma horta no pátio que estava sem utilização. Sem terra e nem canteiro no local de 300 metros quadrados, ela decidiu criar a horta em vasos. 

“No começo, as pessoas eram muito descrentes. Falavam: vai fazer horta onde? Só tem cimento, concreto, não tem areia, não tem barro. E o jardim do condomínio era muito pequeno, já era todo montado, mas mesmo assim eu queria fazer”, diz.

Os vasos começaram com coentro, salsinha e cebolinha. Depois veio cidreira, boldo, alecrim, tomate e pimentão. Hoje tem também manjericão, boldo, erva cidreira, erva doce, louro, cúrcuma, hortelã, quiabo, maxixe, e até frutas como maracujá, jabuticaba, romã, morango e limão. Tudo em vasos. 

“Hoje cerca de 50% do espaço está ocupado com plantas. Também fizemos, na pandemia, uma área coberta para que as pessoas pudessem ter um momento de respiro e de lazer. E isso fez muita diferença, as pessoas descem, interagem, trabalham aqui, fazem festa com a churrasqueira que compramos, tornou-se um espaço de convivência”, diz.

Provando que a sustentabilidade vai muito além das práticas ambientais, a horta também se tornou um espaço sócio-educativo. “Muitas crianças vêm ver e descobrem que o morango, por exemplo, nasce de uma flor branca. Eles conhecem a natureza como ela é aqui, no nosso pátio, que antes só tinha concreto. Contam na escola e trazem outras crianças para ver. É emocionante ver o aprendizado dessas novas gerações, são elas que a gente precisa conscientizar pelo nosso futuro”, conclui. 

 

Por: Mario Camelo

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