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Manutenção para evitar tragédias

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 13/10/2020

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Mario Camelo

No último dia 8 de fevereiro de 2019, o Brasil amanheceu diante de uma nova
tragédia: um incêndio de proporções catastróficas atingiu um alojamento de jogadores
de futebol das categorias de base do Flamengo e matou dez deles, no Rio de Janeiro.
Os jovens, talentos promissores do futebol, tinham por volta de 14 anos e foram
carbonizados. O vice-governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, afirmou que a
tragédia pode ter sido iniciada devido a uma pane no sistema de ar-condicionado do
local onde os jovens dormiam. A fatalidade chama a atenção para uma questão que
jamais deve ser negligenciada pelos síndicos e gestores de condomínios: a
importância da manutenção dos sistemas elétricos e de ar-condicionado.

Certifique-se da seriedade dos fornecedores
A verdade é que qualquer tipo de instalação elétrica necessita da avaliação de
profissionais capacitados, de manutenção e de um acompanhamento profissional e
periódico, independentemente do tempo de construção da edificação. O alojamento do
Flamengo, por exemplo, que tinha uma estrutura moderna e interligada por
contêineres, havia sido erguido em 2014, apenas cinco anos atrás.

“Acho que uma das coisas principais é que temos que nos certificar de que os
profissionais envolvidos na instalação e na manutenção sejam de uma empresa séria.
Para isso, é preciso realizar uma pesquisa detalhada das empresas ou profissionais
autônomos, vendo histórico e selos de segurança, pois é uma responsabilidade
enorme para o síndico ter que fiscalizar os circuitos elétricos”, diz Victor Siqueira, dono
de uma empresa carioca especializada na gestão e na manutenção de aparelhos e
sistemas de ar-condicionado.

Para o empresário, a importância de estar sempre atento a esses equipamentos é
imprescindível para evitar a necessidade de reparos ou até mesmo da troca de
aparelhos e acessórios antes do tempo de vida útil.

“O risco de que ocorra um acidente em sistemas sem manutenção é altíssimo. Além
disso, fazendo a manutenção preventiva, eliminamos diversos problemas que podem
acarretar em tragédias, como foi o caso do Ninho do Urubu (como os torcedores
chamavam o alojamento do time de futebol do Rio de Janeiro)”, corrobora o
engenheiro Bruno Bivar, lembrando ainda que, no caso dos ares condicionados, com a
manutenção em dia, são evitados diversos problemas, tais como consequências para
a saúde dos usuários, perda da capacidade de gelar o ambiente e aumento dos ruídos
produzidos pelo aparelho.

E além de riscos de incêndio, a falta de manutenção dos sistemas de ar ou elétricos
também pode acarretar em descargas de energia. E os sinais, muitas vezes, são sutis:
as luzes dos interruptores podem começar a apagar sem explicação, os aparelhos
podem apagar ou desligar sem motivo, ou ainda, podem surgir pequenos chiados nos
interruptores. É preciso estar atento. E quem anda bastante atento ao sistema elétrico
do seu condomínio é o síndico André Wanick, do Condomínio Fontelas, em
Copacabana, de 12 unidades. O sistema elétrico da portaria do edifício acabou de ser
completamente substituído. Como o síndico percebeu?

“Primeiramente, notamos que havia algo errado quando as luzes começaram a
queimar com bastante frequência. Trocávamos diversas vezes e elas continuavam
queimando sem parar. Depois, começou a surgir aquela luz fraquinha que deixa o
ambiente com um aspecto turvo, e além disso, as luzes coloridas dos aparelhos não
acendiam direito. Obviamente, havia algum problema. Pedimos alguns orçamentos, e
sem esperar, demos início ao reparo completo do sistema da portaria. Esse é o tipo de
problema que não pode esperar, pois pode gerar consequências muito graves, como
por exemplo um incêndio repentino no instante em que um porteiro plugasse um
aparelho de celular numa tomada. Imagine o quanto isso pode ser perigoso e trazer
danos significativos a todos”, diz Wanick, que foi avisado pelo porteiro, e em apenas
uma semana deu início à troca dos fios e do sistema.

A compra de novos aparelhos e fios e a prestação do serviço custaram por volta de
R$2 mil, um valor irrelevante em comparação ao prejuízo (sob diversos aspectos) que
um incêndio poderia trazer. “Quando se trata de um item de segurança, é óbvio que é

preciso pesquisar o preço. No entanto, esse é um tipo de ajuste que precisa ser feito
sem qualquer demora. Felizmente, eu consegui absorver o custo e incluí-lo no fundo
do condomínio, sem gerar nenhuma cota extra aos moradores”, diz o síndico.

Fique atento aos prazos de manutenção
Para ele, acidentes como os já citados acontecem por uma sucessão de erros. O
primeiro é não estar atento ou não dar atenção ao primeiro sinal de que algo está
errado. Além disso, tentar resolver sozinho ou sem um acompanhamento profissional,
pode ser um erro fatal. “Tem muita gente que gosta de ‘dar um jeitinho’, mas têm
certas coisas que só um profissional habilitado vai poder resolver. Pode até custar
caro, mas o benefício para o condomínio vai ser imenso e incalculável, pois vai trazer
segurança e tranquilidade a todos. Além disso, o síndico deve compartilhar a
necessidade do reparo e os orçamentos imediatamente com os condôminos, pois eles
precisam saber de tudo o que acontece no condomínio. Claro, é preciso informar tudo
sem alardes e mostrando que o síndico tem a situação sob controle”, completa.

Mas nem sempre a solução é tão simples. Síndico do Condomínio do Edifício
Michelozzo, localizado na Barra da Tijuca, dentro do Novo Leblon, José Luiz Brandão
está prestes a iniciar a substituição de todo o sistema elétrico das áreas comuns do
prédio, que possui ao todo 160 unidades. A decisão foi tomada após a constatação de
uma necessidade de alterações para que o condomínio possa se modernizar e
também se encaixar na Lei Municipal da Autovistoria Predial, em vigor desde 2013,
que especifica uma série de regras de manutenção que devem ser seguidas por todos
os condomínios da cidade do Rio de Janeiro.

“Nós estamos começando o projeto agora. Seis empresas participaram da
concorrência para modernizar o sistema elétrico do prédio, que tem quase 40 anos de
construção. Vai começar ainda no primeiro semestre e durar aproximadamente seis
meses”, explica ele.

O síndico lembra que, há 40 anos, quando o edifício foi construído, os apartamentos
tinham um sistema elétrico direcionado para outras situações e para uma outra
configuração de moradia. “Hoje, todo mundo tem ar-condicionado, diversos aparelhos
e a demanda do sistema elétrico aumenta, sendo assim, você precisa direcionar cada
unidade em função do aumento das demandas do consumo de energia, além das
áreas comuns. Em 160 apartamentos, todos estarão 100% com o sistema trifásico,
mais moderno e atual. Esta é a nossa expectativa”.

Para fazer o pagamento da obra, o condomínio teve que abrir uma cota extra para os
condôminos ratearem entre todos as diversas parcelas do custo, que, para uma obra
deste tipo, acaba saindo alto. “Fizemos uma condição melhor para que não pese tanto
no bolso e no orçamento, mas os moradores sabem que é uma obra urgente e que
precisa ser feita”, diz.

O engenheiro eletricista Rafael Oliveira explica que, normalmente, abrangem o
sistema elétrico dos condomínios tudo o que está ligado às partes comuns como
corredores, PUC, portaria, playground e elevadores. “Toda a parte de uso comum do
prédio é de responsabilidade do condomínio, sempre com o seu consumo separado
das unidades privadas. Além de evitar incêndios e descargas elétricas, o bom
funcionamento desse sistema evita ainda o desperdício de energia”, aponta ele, que
completa: “É preciso sempre estar atento a esta área, pois ela pode oferecer,
inclusive, riscos à infraestrutura geral do condomínio”.

O profissional lembra ainda que, os avanços tecnológicos atuais e o aumento da
quantidade de aparelhos elétricos oferecidos à população, seja para uso prioritário ou
para conforto, consequentemente, trouxe um aumento de consumo para as unidades
residenciais. “Normalmente, são raras as atualizações do projeto de elétrica e das
distribuições de rede ao longo dos anos nos condomínios. Bem como dos sistemas de
ar nos prédios que possuem. Isso compromete a distribuição elétrica residencial e
chega a comprometer o sistema de distribuição desses prédios, uma vez que a
entrada de energia das concessionárias de energia é única”, informa.

Na dúvida, prevenir é sempre melhor do que remediar: “Negligenciar qualquer sinal de
risco é absolutamente errado. Os acidentes e as tragédias estão aí para provar que os
sinais jamais devem ser ignorados”, conclui o engenheiro.

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