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Aluguel sobe quase o dobro da inflação, com crédito caro e volta ao trabalho presencial.

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 03/08/2022

Image of successful young coworkers focused in documents recieved from bank, ready to buy renting apartment, ready to have deal with realtor, stand closely nearwindow, study contract before singing
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A alta dos juros tornou o sonho da casa própria mais distante e fez com que o mercado de aluguel de imóveis ficasse mais aquecido. Em paralelo, a volta ao trabalho presencial levou muitos brasileiros que haviam se mudado para cidades do interior durante a pandemia a retornarem às capitais, contribuindo para o aumento dos contratos de locação. De acordo com o índice FipeZap+, o aluguel subiu, em média, 9,49% desde janeiro, quase o dobro da inflação no país no período, de 5,49%.

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Em algumas capitais, o salto foi ainda maior. Em Goiânia, houve alta de 19,55%, em Florianópolis, de 18,6% e em Salvador, de 15,26%. Mesmo com os reajustes, o preço por metro quadrado nestas capitais segue menor do que em mercados como São Paulo, onde sai por R$ 43, e Rio, por R$ 35. O valor para locação no Rio subiu 10,8% desde janeiro.

— O valor dos aluguéis vem subindo desde outubro do ano passado e acelerou neste ano com o avanço da vacinação, o mercado de trabalho respondendo positivamente. Tudo isso possibilita que os proprietários repassem preços para inquilinos. Os donos se veem ainda mais tentados em repassar com o aumento do IPCA — afirma Pedro Tenório, economista do DataZap+.

Com o salto nos juros, que passaram de 2% desde meados de 2021 para 13,25%, muitos brasileiros que já estavam com a chave da casa própria quase na mão adiaram os planos, em razão do custo do financiamento e do risco de inadimplência. O jeito foi refazer as contas e voltar ao aluguel.

Outro levantamento, do Quinto Andar, mostra que no primeiro semestre os contratos têm sido fechados no Rio com alta de 9,5%.

— As pessoas estão se segurando, evitando assumir financiamento de longo prazo com juros altos, eleições. E as aplicações competem com quem vai pagar à vista. Vale mais a pena manter o dinheiro em uma aplicação que rende ao menos 12% ao ano e pagar o aluguel com o que receber. — diz Leonardo Schneider, vice-presidente do Secovi Rio.

Taxa de vacância menor

O caminho é negociar. Carlos Eduardo Caldas, de 36 anos, transformou um reajuste de 60% em R$ 200 depois de conversar com a imobiliária e com o dono do apartamento que mora no Leme, na Zona Sul do Rio, há três anos.

— Eu gosto muito do lugar onde moro. Pensei em me mudar, mas, além de todo o estresse, seria deixar para trás a minha casa. Nas pesquisas por outros imóveis, vi que a correção do aluguel estava em desacordo com outros da mesma rua e decidi propor um acordo.

Para Jean Carvalho, gerente de imóveis da Apsa, que administra mais de cem mil unidades em várias cidades, a perda de renda — com o avanço da inflação — também retarda a aquisição, e muitos profissionais estão voltando do interior para o trabalho presencial.

Estudo interno corrobora essa avaliação: a taxa de vacância (imóveis vazios) estava, em 13,8% em maio, patamar equivalente ao nível pré-pandemia. No pior momento da crise, um em cada cinco imóveis estava desocupado.

Com o aumento no preço dos aluguéis, muitas famílias têm procurado apartamentos menores, em bairros menos valorizados ou em prédios que oferecem menos serviços. Em São Paulo, por exemplo, o Centro da cidade passou a ser buscado com mais ênfase, e crescem ofertas de imóveis de apenas um quarto.

Gabriel Leão, sócio responsável pela área de ciência de dados da Amora, uma startup que atua em compra, aluguel e revenda de imóveis para os próprios usuários, em São Paulo, percebeu esse movimento.

— As pessoas que nos procuram não estão abrindo mão da tipologia do imóvel. Não deu para Vila Mariana (Centro-sul de SP), ele aceita falar de Vila Andrade (Zona Sul), por exemplo — diz Leão, que acompanha em sua base cerca de 1.500 imóveis, além de tomadas de preços de diversas fontes.

Para o diretor de Locação da imobiliária Lello, Raphael Sylvester, o revezamento dos bairros na preferência das famílias é um fator que contribui para a retomada do mercado de aluguel ser bem distribuída. Sem ter mais como segurar o reajuste dos contratos em vigor, em muitos casos a solução foi ampliar os horizontes para regiões que antes não estavam nos planos.

— Isso é uma mudança natural. Perda de renda, restrição do crédito… A única opção é procurar regiões que te atendam, mas com um preço mais acessível para o bolso — conta Sylvester.

Edifícios antigos

O gerente de logística Carlos Nader não precisou se afastar da Mooca, na Zona Leste de São Paulo, onde queria permanecer. Após resistir aos reajustes, ele teve de ceder a um aumento de 10% no contrato que mantinha em um apartamento de dois quartos e 67m2, que foi a R$ 3.600 por mês (com condomínio e IPTU).

Achou a quatro quarteirões dali uma alternativa de 80m2, por R$ 2.100. A chave para resolver o problema no orçamento foi um prédio mais antigo, com menos serviços.

— Continuei no mesmo bairro e tive redução de R$ 1.500 por mês — diz Nader.

Segundo o gerente de dados do Quinto Andar, Thiago Reis, a demanda é maior por imóveis menores, que ficam ainda mais valorizados:

— As pessoas querem morar perto do transporte público, do trabalho.

Ele aponta como exemplo o Butantã, bairro da Zona Oeste de São Paulo. Contemplada recentemente pela expansão do metrô, a região viveu uma explosão de novos empreendimentos, boa parte dos quais dedicada a imóveis de baixa metragem, enquadrada ao novo zoneamento da cidade.

— Foi o bairro que mais se valorizou nos últimos seis meses em São Paulo, mais de 23% — conta o gerente do Quinto Andar.

A profusão de novas unidades de até um quarto a partir do novo zoneamento da capital paulista também criou uma oferta que veio ao encontro desse movimento de volta ao Centro, segundo Leão.

Flat virou alternativa

4 de 4 Fábio Balassiano, diretor de marketing, 38 anos em um flat na Lagoa — Foto: Lucas Tavares/Agência O Globo

Fábio Balassiano, diretor de marketing, 38 anos em um flat na Lagoa — Foto: Lucas Tavares/Agência O Globo

No Rio, quem não quer abrir mão de bairros mais nobres também precisa se mudar para apartamentos mais compactos. O diretor de marketing Fabio Balassiano iniciou a busca por um imóvel após o divórcio, em 2021. Ele mora de aluguel desde janeiro e sentiu um aumento de 20% no valor dos contratos, o que o levou a abandonar a busca por apartamentos e se mudar para um flat na Lagoa, Zona Sul do Rio.

— Eu desisti de procurar por apartamentos, estava tudo um absurdo. O flat pode não ser uma boa opção se você considerar apenas o aluguel, mas ele já está todo mobiliado, com faxina e espaços compartilhados, como a cozinha.

 

Fonte: O GLOBO

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