Gabriel Menezes
Os aumentos nos índices de inadimplência, dos custos dos produtos e serviços e, muitas
vezes das dívidas, além de um orçamento mais apertado, são alguns dos efeitos maléficos
que a crise econômica brasileira levou para dentro de boa parte dos condomínios. Mas,
mesmo diante deste cenário tão desfavorável, existem síndicos que conseguiram a proeza
de manter as contas nas rédeas e até mesmo puderam fazer melhorias estruturais sem
precisar recorrer às temidas cotas extras.
Com 50 unidades habitacionais, o Condomínio Adamina, na Tijuca – administrado pela
APSA – é um bom exemplo nesse sentido. No cargo há quatro anos – mesmo período em
que a crise econômica se agravou pelo Brasil -, o síndico, Fernando Muradas, conseguiu
colocar em andamento uma série de melhorias sem que os moradores precisassem pagar
cotas extras. “Neste período, foram realizadas muitas mudanças. Por exemplo, o
playground estava com diversas falhas de segurança que deveriam ser sanadas o quanto
antes. Ao invés de simplesmente ajustá-las, aproveitei para remodelar completamente esta
dependência para melhor servir aos moradores. Outro investimento foi a instalação de um
bebedouro na portaria do prédio. Com isso, além de melhorar a qualidade de vida do
porteiro, reduzimos o seu tempo fora da portaria, o que trouxe mais segurança para o
condomínio. Sem contar que todos chegam ou saem do edifício ganharam um ponto para
tomar água potável e fresca”, destaca Muradas.
Segundo ele, não é preciso fazer milagres para conseguir esses feitos, mesmo em tempos
em que a economia não bem das pernas, mas, é preciso ter organização. “Entre as
medidas adotadas por mim como síndico estão o planejamento de melhorias em longo
prazo. Outra iniciativa importante foi a substituição de funcionários que não estavam
alinhados com o comprometimento de reduzir custos e utilizar mais conscientemente os
recursos do condomínio. Pode parecer uma medida pouco efetiva, mas é importante ter
funcionários que entendam que a redução de custos e a otimização de recursos impacta na saúde financeira do condomínio de forma geral e afeta a todos. Por último, passei a realizar pessoalmente a negociação de cada serviço prestado ao condomínio”, explica o síndico.
Ele ressalta que outra preocupação constante foi evitar que o índice de inadimplência entre os moradores crescesse neste período. “Felizmente, o índice de inadimplência do
condomínio tem se mantido baixo e constante, com alguns acordos de pagamento
parcelado. Uma medida importante para manter esta situação é sempre aceitar os acordos
que aqueles que desejam pagar solicitam a administradora, inclusive liberando juros e
multas em alguns casos. Considero mais importante receber o principal da dívida do que
brigar por valores de juros. Cabe lembrar que estamos em crise e devemos ajudar aqueles
que desejam colocar as suas contas em dia, pois nunca se sabe se iremos estar em uma
situação semelhante no dia de amanhã”, opina Muradas.
Ele ressalta que outra iniciativa essencial para um síndico que busca fazer melhorias no seu condomínio em tempos de crise é fazer uma constante pesquisa de preços. “Como estamos em crise, existem muitos profissionais e serviços com preços convidativos. A mesma crise que afeta os condomínios também afeta o mercado, que tem que ajustar os seus preços a atual realidade do país. Cabe ao síndico pesquisar preços e negociar com os profissionais e empresas prestadoras de serviço. Outro ponto importante está relacionado ao controle de contas de serviços. O síndico deve estar sempre em contato com a assessoria jurídica da administradora para controlar os abusos cometidos por fornecedores de serviços, pois ocorrem eventualmente cobranças indevidas que podem inviabilizar o orçamento do condomínio. Por isso, a parceria com a administradora e com a assessoria jurídica é essencial”, conclui.
Envolver os moradores nas decisões é uma boa medida
Com uma experiência de mais de uma década, o síndico profissional e administrador de
condomínios residenciais Philipe Lantos afirma que, diante da crise econômica, o gestor
precisa fazer um balanço entre as expectativas dos moradores, as necessidades reais e o
que é possível fazer. “É comum que os condôminos tenham expectativas diferentes, na
maioria das vezes envolvendo investimentos de melhorias no dia a dia e bem-estar. No
entanto, devido ao período de crise que afetou a maioria dos condomínios, um movimento
natural que já existia – mas se intensificou – foi o corte de despesas, em alguns casos até de
manutenções necessárias. Portanto, é imprescindível que o síndico atue estabelecendo
prioridades, envolvendo os condôminos na tomada de decisões sobre quais investimentos
realizar. A proposta é fazer com que os moradores compartilhem mais as suas expectativas,
assim como tomem conhecimento das limitações e necessidades orçamentárias, tendo um
melhor entendimento da realidade”, explica o especialista.
Ele conta que, nos condomínios em que atua, conseguiu feitos positivos mesmo diante do
cenário desfavorável economicamente. “É importante levar em consideração que, nesse
momento de escassez de recursos, os investimentos que tragam economia futura ao
condomínio deverão ter prioridade. Dentre as principais medidas que já participei, ou
mesmo que acompanhei em outros condomínios, estão a instalação de energia solar,
projeto de eficiência energética, sensores de presença para iluminação, temporizadores
para iluminação, descargas de vaso sanitário inteligentes, reutilização de água para limpeza das áreas comuns e reciclagem. “Mas, todas as sugestões de melhorias dependem de fato da conscientização dos condôminos e, principalmente, dos gestores, quanto ao
acompanhamento e efetivação dos processos. A utilização da tecnologia e sistemas de
informação integrados ajuda bastante”, ressalta.
E, para evitar o risco de ter que se recorrer às cotas extras, Lantos diz que é essencial atuar
com planejamento e controle constante do orçamento e fluxo de caixa. “Juros bancários ou
cobrados pelas administradoras sobre saldos devedores costumam ser elevados. O
acompanhamento diário do saldo do condomínio, dos gastos realizados versus os previstos, e um processo de comunicação ágil com o conselho e com os condôminos também são imprescindíveis. Deve-se também evitar o desperdício e gastos supérfluos, assim como avaliar possibilidades de negociações em todas as aquisições, sejam de materiais ou prestação de serviços”, destaca.
Manutenção do patrimônio como prioridade máxima
Com 14 anos de experiência, a síndica Zeneida Matos é responsável atualmente pelos
condomínios Germano e Décios Villares, ambos no bairro de Copacabana. Ela afirma que,
mesmo diante da grande crise econômica no país, conseguiu investir na preservação do
patrimônio comum dos moradores. “As manutenções estruturais e preventivas tornaram-se prioridades absolutas. Além de realizar cotações com mais empresas, avaliando a
idoneidade das mesmas, busquei negociar o máximo possível as formas de pagamentos e
descontos. Creio que, mais do que nunca, é essencial também contratar uma assessoria de
arquitetos e engenheiros para avaliar se há a necessidade de manutenções estruturais
urgentes, evitando prejuízos maiores. Caso as obras sejam essenciais, é preciso buscar um
trabalho de qualidade, para garantir que o investimento terá um retorno de longo prazo”,
destaca Zeneida.
Segundo ela, nos últimos cinco anos a inadimplência na taxa de condomínio tornou-se um
grande obstáculo e uma preocupação constante para a gestão dos condomínios. “A
inadimplência foi responsável pela instabilidade financeira, acarretando a necessidade de
redução de despesas significativamente para evitar transtornos aos condôminos. Tem sido
primordial acompanhar o saldo do condomínio quase que diariamente para avaliar quais
manutenções podem ser efetivadas sem riscos à folha de pagamento dos colaboradores”,
conclui.
Crise fez país regredir três anos em índices socioeconômicos, aponta relatório
A crise econômica, que teve início em 2014 e causou forte recessão no país, afetou bem
mais do que a gestão dos condomínios, ela fez com que o nível socioeconômico das
cidades brasileiras retrocedesse três anos. É o que aponta o Índice de Desenvolvimento
Municipal (IFDM), divulgado recentemente pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), com base em dados oficiais de 2016, últimos disponíveis.
Somente com relação a emprego e renda, o relatório destaca que, entre 2015 e 2016, foram
fechados quase três milhões de postos de trabalho formais no país. Em 2016, quase 60%
das cidades brasileiras fecharam postos de trabalho. Com isso, o indicador de Emprego e
Renda do estudo registrou 0,4664 ponto, com pequena recuperação com relação a 2015
(0,4336). O movimento é explicado pelo aumento no rendimento real do trabalhador formal, em parte por conta da política de reajuste do salário mínimo. A recessão custou mais de uma década de desenvolvimento para o mercado de trabalho formal dos municípios.
A Firjan aponta que somente com políticas macroeconômicas para o equilíbrio fiscal e
gestão eficiente dos recursos públicos são essenciais para que as cidades se recuperem e
atinjam nível de desenvolvimento que atenda às necessidades dos brasileiros.
Dicas para um síndico em tempos de crise
É importante levar em consideração que, nesse momento de escassez de recursos,
os investimentos que tragam economia futura ao condomínio deverão ter prioridade.
Pesquisas de preços são mais importantes do que nunca. Como estamos em crise,
existem muitos profissionais e serviços com valores convidativos. A mesma crise
que afeta os condomínios também afeta o mercado, que tem que ajustar seus
preços a atual realidade do país.
Para evitar que a inadimplência aumente no condomínio, é essencial sempre
negociar e buscar um entendimento com os devedores, mesmo que isso signifique o
abatimento de juros e parcelamentos.
É imprescindível que o síndico atue estabelecendo prioridades, envolvendo os
condôminos na tomada de decisões sobre quais investimentos realizar. A proposta é
fazer com que os moradores compartilhem mais suas expectativas, assim como
tomem conhecimento das limitações e necessidades orçamentárias, tendo um
melhor entendimento da realidade.