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Gigante Verde

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 07/09/2015
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Aline Durães 

Há cerca de seis anos, Saul Cusnir assumiu a gestão do Condomínio Golden Garden, com 88 unidades, em Botafogo. Desde então, tem uma meta: tornar o condomínio mais sustentável. A opção pela sustentabilidade não foi apenas pautada na preocupação com o meio ambiente. Era também uma saída para equilibrar as finanças do edifício por meio da economia a ser obtida com as práticas sustentáveis. “Antes de me tornar síndico, eu não tinha preocupação com isso. Só que, ao assumir a gestão e ver o quanto o condomínio pagava de gastos com água para a Cedae, me vi obrigado a levar esse assunto a sério. Aproveitei também uma viagem que fiz a Israel, durante a qual conheci algumas atitudes tomadas pelo Governo sobre a utilização de água, e comecei a atuar com mais dedicação”, conta Saul.

O plano deu certo. Hoje, o Golden Garden é, sem dúvida, um dos condomínios mais ecológicos da cena carioca. Prova disso é que a unidade foi a vencedora do Concurso “Meu Condomínio Sustentável”, criado pela APSA para comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de Junho, e, ao mesmo tempo, reunir e difundir ideias que buscam o equilíbrio entre consumo e desperdício nas residências.

O condomínio de Botafogo chegou entre os três finalistas e foi a júri popular em votação na Internet. Desbancou concorrentes igualmente fortes no quesito sustentabilidade e foi o mais votado pelos seguidores da APSA no Facebook (https://www.facebook.com/APSAOficial). Entre as medidas que chamaram a atenção do público estão a redução nos gastos com água, a coleta seletiva e a transformação de lixo em adubo fertilizante.

Para Saul, a vitória é o reconhecimento de um trabalho que, embora dispendioso, se torna gratificante com o tempo. “Em um primeiro momento, adotar a sustentabilidade como meta de gestão demanda despesa, treinamento e dedicação. Mas tudo isso é recompensado com o tempo. Hoje, como síndico, eu me sinto muito orgulhoso e envaidecido em colocar em prática essas ações”, destaca.

Batalha pela água

A primeira medida sustentável que Saul Cusnir implantou no Golden Garden foi a substituição dos vasos sanitários das áreas comuns e das unidades residenciais. Os modelos de caixa acoplada de 10 litros foram trocados por exemplares de seis litros e duplo acionamento. A economia presente na mudança é fácil de entender: sistemas com a tecnologia do acionamento duplo possuem dois sifões em vez de um, como ocorre no equipamento tradicional. Esses sifões podem ser acionados juntos ou separadamente, por meio de botões de diferentes tamanhos. O botão menor libera menos água; enquanto o maior descarrega um volume maior do líquido no vaso sanitário. A ideia é interessante porque reconhece que nem sempre é adequado utilizar a mesma quantidade de água nas descargas. “Os vasos antigos não funcionavam direito, forçavam o usuário a dar várias descargas e acabavam deixando passar muita água. Com os novos vasos, isso acabou. Daí o sucesso da troca das peças ter sido ocasionado não apenas pela redução do consumo, mas principalmente pelo fim dos vazamentos. Essa economia é incomensurável”, explica o síndico.

A substituição dos vasos sanitários foi um dos passos dados pelos condôminos do Golden Garden na empreitada de reduzir os gastos do condomínio com a conta de água. Dentre todos os resultados que as práticas sustentáveis já trouxeram à unidade de Botafogo, este é o principal na opinião do síndico Saul: a redução do consumo de água de 98m³/dia para 52m³/dia, o que representa uma economia mensal de cerca de R$ 6 mil.

Engana-se quem pensa que foi do dia para a noite que Cusnir conseguiu a proeza. Uma série de medidas foi tomada para que o consumo de água se reduzisse a 50% no prédio. Além da substituição dos vasos, o Golden Garden apostou na instalação de bloqueadores de ar, peça que, ao impedir a passagem de ar pela tubulação, otimiza o funcionamento do hidrômetro e, então, contribui para a economia de água.

O sistema de rega do jardim também foi modificado. E o condomínio passou a captar água da chuva — que, depois de uma microfiltragem simples, é destinada à área de serviço dos apartamentos, para ser utilizada em tanques e lavadoras de roupas. Da mesma forma, foram instalados redutores de vazão, que diminuem praticamente para a metade a quantidade de água que sai das torneiras.

Mas não foi apenas a redução no consumo de água que fez o Golden Garden cair no gosto do público na Página da APSA no Facebook e angariou votos para o condomínio. O projeto de coleta seletiva da unidade também contribuiu para a vitória no Concurso “Meu Condomínio Sustentável”. Além da já habitual separação de papel, vidro, plástico e metal, o edifício de Saul Cusnir recolhe pilhas, baterias e óleo de soja.

A gestão dos resíduos envolve a venda dos materiais coletados. “Para alguns produtos, contamos com a Comlurb para o descarte. Em relação a pilhas e baterias, descartamos em um banco que faz esse trabalho. Além disso, usamos a coleta inversa, na qual as lojas são obrigadas a receber determinados produtos”, divide Saul.

Mais recentemente, outro projeto tem roubado a atenção do síndico de Botafogo e levado à perspectiva de mais economia e sustentabilidade ao Golden Garden: o sistema de compostagem. Em resumo, o projeto é uma iniciativa que busca estimular a decomposição de materiais orgânicos para gerar material rico em substâncias húmicas e nutrientes minerais.

Saul conta que, depois de três anos de experiência com três moradores de seu andar, resolveu estender a ideia a todo o condomínio. “Utilizamos composteiras com minhocas para a produção do húmus a partir de determinados produtos permitidos. Essas caixas são vendidas prontas com as minhocas, basta usar de acordo com a orientação do fornecedor. Nelas, produzimos húmus para o nosso jardim e um líquido que pulverizamos nas plantas como defensivo natural. Começamos o sistema para todo condomínio no último dia 1º de Julho. Até o momento, a avaliação é positiva, mas sabemos que podemos melhorar e muito”, analisa.

Apoio da comunidade condominial

Todas essas mudanças, entretanto, teriam sido inócuas se não fosse por outra ação que, embora bem mais simples e menos dispendiosa, tem grande impacto nas iniciativas que envolvem moradores de condomínios: a conscientização. O síndico Saul investiu forte para engajar seus vizinhos na luta contra o desperdício. “Todos os dias, colocávamos nos elevadores cartilhas de como utilizar a água de forma racional. Como o ser humano nem sempre repete no dia seguinte o que fez no anterior, repetíamos os avisos sempre. Ainda hoje usamos esses comunicados, que, junto com a compra de novos equipamentos e as mudanças positivas de hábitos, contribuíram para a verdadeira diminuição do consumo”, destaca Cusnir.

A propaganda, aliás, foi a alma do negócio no Golden Garden. Desde o início, o corpo de condôminos da unidade foi envolvido nas iniciativas sustentáveis da gestão, por meio de comunicados e avisos periódicos. Saul Cusnir conta que chegou a realizar eventos de demonstração das ideias nas áreas comuns do condomínio para engajar seus vizinhos.

Para o síndico de Botafogo, outros atores importantes no sucesso das práticas sustentáveis implantadas no Golden Garden foram os funcionários, sem os quais, “nada teria acontecido”. Ele afirma que os empregados passam por treinamentos regulares e reuniões em que são orientados sobre como colaborar para o sucesso dos projetos. A regra vale não só para os colaboradores do condomínio, como também para os funcionários de sua residência. Todos acabam descobrindo que podem contribuir de alguma forma.

Mesmo com todo esse esforço e do apoio da maior parte da comunidade condominial do Golden Garden, Saul ainda esbarra em resistências. A saída? Ser persistente. “É um trabalho de convencimento diário. Para ter uma ideia: somente nesse ano consegui trocar os 11 últimos vasos que faltavam de um projeto que começou em 2009. Tem que ser persistente, não pode desistir. Se em determinado momento eu vejo que não vou conseguir, sem problema, tento novamente depois. Noutro dia, durante uma assembleia, um condômino reclamou do consumo de água. Interrompi na mesma hora, concordando com ele, mas sugerindo que ele tentasse colaborar mais um pouco, trocando os vasos sanitários sem custo, já que a unidade dele era uma das poucas que não havia trocado. Ele aceitou na hora”, narra.

Como começar?

Saul Cusnir é direto ao responder essa pergunta: “a primeira dica é ter vontade de fazer”. A segunda dica é dedicar um capital inicial aos projetos. “Não existe resultado sem alguma despesa inicial, pois precisamos de equipamentos. O gasto, entretanto, será recompensado com o tempo”, conta o síndico que, atualmente, capitaneia o projeto de distribuir ampulhetas de cinco minutos para as pessoas usarem no banho: “mais uma vez copiei a ideia de um brasileiro, presidente de uma empresa na Austrália, que, ao adotar esse sistema, conseguiu reduzir o tempo do banho”.

Para o futuro, o síndico não tem algo concreto em mente, mas garante que haverá novas ideias. “Acho que o prazer de realizar é o que faz o desafio ser gratificante. Além do mais, o reconhecimento e a credibilidade que temos junto aos moradores facilitam muito a gestão”, finaliza.

 

Segundo lugar com sabor de primeiro

A disputa provocada pelo Concurso “Meu Condomínio Sustentável” foi acirrada até o último minuto. Lado a lado com o Golden Garden, outro condomínio competia pelo primeiro lugar na preferência dos seguidores da página da APSA no Facebook: o Duo Prime, com 80 unidades, localizado também em Botafogo.

Apesar de ter angariado um número menor de curtidas e, por isso, ter conquistado a segunda colocação no Concurso, a unidade administrada pelo síndico Luiz Henrique Ribeiro Junior é uma verdadeira campeã no quesito sustentabilidade. A redução nos gastos com água também ali é o carro-chefe das práticas sustentáveis. O condomínio possui 11 coberturas, quase todas possuem piscina própria e sem medição individualizada de água. Pode-se imaginar o nível de desperdício do líquido ao qual estava exposto o Duo Prime.

Para contornar a situação, o síndico implantou um controle de acompanhamento de consumo de água por meio de leituras diárias do hidrômetro. “Ajustamos internamente, nas caixas d’água e nas cisternas, uma forma de operar, monitorar e ajustar os níveis de água nesses reservatórios, o que nos remete a uma economia mensal média de 20% a 25% no desembolso em reais bem como aproximadamente 10% de economia no próprio consumo de água”, destaca Luís Henrique.

Os gastos com energia elétrica também ficaram na mira do gestor do Duo Prime que, há algum tempo, estipulou horários de funcionamento para elevadores, garagens e áreas comuns na tentativa de contingenciar esses custos. A medida, somada à fixação de sensores de presença nos andares residenciais e escadas e à substituição de lâmpadas alógenas para as de modelo mais duráveis, contribuiu para a economia sensível nos gastos com energia. “Se tivesse que eleger a medida de maior impacto social, no entanto, seria a implantação do sistema de coleta seletiva de lixo. A mobilização foi grande. Convidamos um consultor especializado para palestrar em uma de nossas assembleias. Houve treinamento para as funcionárias dos apartamentos (empregadas e babás) e também para os funcionários do edifício. Instalamos lixeiras coloridas nas áreas comuns e, no parquinho das crianças, lixeiras de bichinhos, que fizeram o maior sucesso”, orgulha-se.

Potencializar a vegetação do espaço e facilitar o acesso ao condomínio são outros diferenciais do edifício de Botafogo. Como não possui aderência para a implantação de telhados verdes, o condomínio dedica parte de seu playground para o plantio de flores e o cultivo de uma pequena horta plantar mais flores e uma pequena horta, além de disponibilizar rampas de acesso aos elevadores e ao banheiro no play para portadores de deficiência.

“A preferência pela sustentabilidade tem suas vantagens: nos permite atender à lei, como no caso da coleta seletiva; nos dá a possibilidade de reaproveitar materiais e produtos e de colaborar com o Meio Ambiente; além de reduzir cursos ao otimizar processos e racionalizar o consumo”, enumera o síndico.

Mas a maior vantagem mesmo está no reconhecimento de condôminos e prédios vizinhos. Luís Henrique foi reeleito por aclamação — “que consta em ata”— em abril de 2011, e credita às ações de sustentabilidade, educação, higiene e redução de custos a aprovação de sua gestão por seus colegas de condomínio.

O gestor foi procurado ainda por parentes de condôminos e visitantes interessados em aplicar as medidas praticadas no Duo Prime em suas próprias unidades. A resposta para os curiosos é sempre a mesma: “Quem quer faz!”. Na opinião de Luís Henrique, a principal dica para quem se interessa pelo tema e deseja transformar seu condomínio em uma unidade verde é começar com projetos mais simples, que, além de menos dispendiosos, são passíveis de serem realizados. “Por vezes, os condomínios gastam muito na tentativa de fazer coisas perfeitas, ótimas, projetos que, dada a sua complexidade, acabam sendo largados, esvaziados, deixados de lado em plena execução. Quando as iniciativas são minimamente factíveis, as chances de se tornarem realidade são maiores. E elas viram boas realizações! Então penso ser melhor um bom projeto realizado do que um ótimo inexequível. O ótimo é inimigo do bom”, finaliza.


Por dentro do Concurso

“Espero que esta ação sirva de iniciativa para o desenvolvimento de projetos semelhantes em outros condomínios. Bom para a natureza, bom para o bolso, bom para o mundo”. O comentário da seguidora Claudia Ticom foi apenas um dos mais de 130 computados nos posts que anunciaram o concurso e os projetos finalistas do “Meu Condomínio Sustentável”.

Todos os condomínios administrados pela APSA puderam participar da iniciativa. Para isso, bastava enviar à empresa uma lista com soluções adotadas pela unidade para o consumo de água, energia elétrica, separação e destinação do lixo, armazenamento de água de chuva e outras iniciativas sustentáveis. As três melhores iniciativas foram apresentas por meio de posts na página da APSA no Facebook. O que determinou a vencedora foi o número de curtidas que cada proposta recebeu.

Ao longo de sete dias, foram 824 votos e mais de oito mil pessoas alcançadas pelas publicações, o que representa quatro vezes o número de seguidores da administradora na rede social. “É importante divulgar bons exemplos e multiplicar as ações. O ponto alto foi ter apresentado o que fizemos no condomínio a uma síndica que, ao ler as nossas ações na página da APSA, me procurou pelo Facebook querendo saber mais”, conta Saul Cusnir.

Mas qual a razão para tanto sucesso? “Acreditamos que um concurso como esse aumenta as oportunidades para os condomínios praticarem atitudes que preservem mais o meio ambiente, tragam qualidade de vida para seus condôminos e tenham resultados positivos com a redução de custos em simples iniciativas. É importante que essas ideias sejam disseminadas para que ganhem corpo e realmente façam diferença para nosso futuro e das gerações que estão por vir. A APSA, como as demais empresas que possuem e atendem a um grande número de clientes, além de buscar e praticar a sustentabilidade no seu dia a dia, têm a obrigação e incentivar estas atitudes como membros ativos da sociedade”, conclui Jean Carvalho, Gerente Geral de Condomínios da APSA.

 

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