Energia que vem de cima
Por Cidades e Serviços
Última atualização: 15/03/2015
Edição 219 Mar/Abr 2015, Edições, Últimas Notícias
Texto: Aline Durães
Um verão seco, com temperaturas na casa dos 40°C e sensação térmica beirando os 50°C. Essa foi a realidade do carioca nos últimos meses. O calor excessivo sobrecarregou, em especial, as contas de luz de residências e condomínios que, para driblar as altas temperaturas, tiveram de ligar por mais tempo condicionadores de ar, ventiladores e climatizadores.
Se, por um lado, o sol força maior gasto de luz, por outro, vem dele uma possível solução para a cada vez maior demanda energética do estado. A energia solar tem a vantagem de ser renovável e infinita. No Brasil, país marcado por forte incidência de radiação do sol, seu potencial é ainda maior, podendo gerar uma significativa redução do consumo de eletricidade. Por que então não aproveitar o calor extremo para gerar energia em vez de gastar?
Foi com esse propósito que o condomínio Residencial Recreio, com seis unidades, implantou, há cerca de um ano, o sistema de captação de energia solar. Dez placas fotovoltaicas ligadas a um inversor foram instaladas no edifício para abastecer as áreas comuns. “O sistema é conectado à rede e só capta energia durante o dia. Foi meu primeiro contato com energia solar. Uma experiência com o objetivo da economia em longo prazo”, conta o síndico José Alberto Guedes.
Para os especialistas, a decisão de José Alberto não poderia ser mais acertada. “Com exceção dos polos norte e sul, a energia solar está disponível em quase toda a área habitável do planeta, sempre. Mesmo nos dias nublados, há luminosidade que pode ser aproveitada. Nenhuma outra fonte, renovável ou não, tem esta característica. Outro diferencial importante é ser uma fonte absolutamente democrática, já que nenhum país tentou até hoje limitar o acesso de sua população ao sol”, destaca Paulo Doneux, diretor executivo de uma empresa especializada em sistemas de captação de energia solar.
Como funciona
Para os síndicos menos inteirados no assunto, a implantação de um sistema energético paralelo no condomínio pode parecer uma tarefa trabalhosa e distante da realidade. Mas, na prática, não é. Antes de tudo, caberá a síndico e condôminos escolherem o tipo de uso que o condomínio fará da energia do sol, optando pela energia solar térmica ou fotovoltaica. No primeiro sistema, a luminosidade do sol aquece a água depositada em um coletor solar. Logo depois, o líquido se dirige a um reservatório térmico de onde é redistribuído para abastecer os pontos de consumo.
Já o fotovoltaico é o que transforma a energia solar em energia elétrica. Ele funciona graças às placas fotovoltaicas que captam a luz do sol e geram eletricidade. “Há dois tipos de sistema fotovoltaico: o sistema conectado à rede da concessionária e o sistema isolado. A diferença fundamental entre ambos é a forma com que a energia é armazenada para compensar as diferenças momentâneas entre geração e consumo. Para edifícios, o melhor sistema é o conectado, cuja energia gerada não é ‘carimbada’, isto é, não se destina a um uso específico. Ela é consumida momentaneamente pela carga que estiver acionada, seja ela um elevador, uma porta de garagem ou o computador da guarita”, afirma Paulo Doneux.
Feita a escolha pelo sistema mais adequado ao condomínio, é chegada a hora da implantação. São instalados então painéis solares, inversores e equipamentos auxiliares, e, posteriormente, o sistema é conectado a um quadro de distribuição de energia, que deve estar localizado próximo aos equipamentos. Por fim, a concessionária aloca um medidor bidirecional na entrada de energia do edifício. “O processo de instalação em si é rápido. A parte mais vagarosa foi a vistoria da Light, que demorou a acontecer”, pontua o síndico José Alberto Guedes.
O condomínio pode ainda contratar o monitoramento on-line do sistema, o que permite o acompanhamento mais rígido da geração de energia solar. Dados precisos sobre a captação podem ser enviados por sensores instalados no sistema diretamente para uma página específica da Internet ao alcance do síndico e dos condôminos.
Por serem robustos e simples, os sistema fotovoltaicos são altamente confiáveis, demandando pouco esforço de manutenção. O principal foco de atenção deve ser a limpeza periódica dos painéis solares, necessária para que o sistema não perca eficiência. É recomendável também realizar uma inspeção anual com técnicos especializados.
Para evitar problemas futuros, é importante que o gestor condominial seja criterioso na hora de exigir a certificação dos equipamentos, exigência legal que poderá ser checada no site do Inmetro onde consta a lista de produtos certificados para uso solar. O especialista Paulo Doneux tem outras dicas: “o primeiro passo é selecionar bem as empresas que serão convidadas a participar da concorrência. O segundo passo é prover as empresas de informações de qualidade para que estas possam preparar propostas confiáveis, mesmo que preliminares. Para tanto, duas informações são importantes: uma cópia da conta de energia elétrica e uma planta da cobertura do edifício mostrando todas as possíveis interferências. Havendo aprovação do projeto, solicitar a visita técnica para confirmação da proposta. Certificar-se que a empresa irá assumir responsabilidade total pelo projeto é também importante”.
Para qualquer tipo de condomínio
A boa notícia para os síndicos de prédios de médio e pequeno porte é que não há exigências de tamanho para a implantação da tecnologia de captação de energia solar. As placas fotovoltaicas podem ser instaladas em condomínios de todos os tipos. Apesar de não impedir, a quantidade de espaço limita o uso do sistema: quanto mais restrita a área disponível para a alocação dos painéis solares, menor será a quantidade de energia gerada.
Outras características próprias dos condomínios – sejam eles residenciais ou comerciais – impõem desafios para a implantação de sistemas de energia solar. “O consumo é alto, principalmente por conta dos elevadores, e a área disponível para implantação do sistema na cobertura do edifício é normalmente pequena em relação à necessidade de geração. Há também a questão de sombras provenientes de outros edifícios, que precisa ser avaliada. Nos condomínios residenciais, há ainda a problemática da disputa de área de cobertura com os sistemas de aquecimento solar de água. Mas, uma vez equacionadas todas essas questões, os sistemas de energia solar podem ser implantados para gerar parte significativa dos consumos nas áreas comuns do edifício”, salienta Paulo.
Economia chega a 50%
A obra para instalação das estruturas necessárias ao funcionamento da captação de energia solar dura, em média, de 30 a 60 dias, e o processo não é barato. Os custos variam de acordo com as necessidades do condomínio, do dimensionamento, da instalação e do sistema usado. Dependendo do vulto do projeto, podem chegar a R$ 100 mil.
O valor que, inicialmente, soa exorbitante tem retorno garantido, já que o condomínio passa a poupar nas contas de eletricidade, água e gás. Segundo pesquisas, a redução de gastos para quem optar pelo sistema térmico chega a 15%. Já no caso do modelo fotovoltaico, a energia elétrica gerada é cerca de 5% mais barata do que a oferecida pelo distribuidor da rede pública. Alguns entusiastas desta fonte renovável de energia garantem que a economia na conta de luz pode chegar a 50%.
Um cálculo interessante para determinar o tempo de retorno sobre o investimento é o custo por kilowatts/hora anual. Atualmente, esse valor oscila entre R$ 6 e R$ 7,50. Basta então o síndico multiplicar o consumo do condomínio do ano por esse número e dividir o custo total da implantação do sistema pelo valor. “Nosso retorno ocorrerá em cinco anos. Esta é minha única crítica ao sistema de energia solar: o preço. Gastamos aqui cerca de R$ 25 mil. Em alguns países, como a Alemanha, por exemplo, o próprio Governo subsidia a fundo perdido a instalação dos equipamentos nos condomínios e residências. Acho que alguma iniciativa semelhante deveria ser adotada aqui no Brasil”, observa o síndico José Alberto Guedes.
O tempo de retorno pode ser ainda maior se forem levados em consideração a localização do condomínio, o grau de sofisticação do sistema, as obras auxiliares de infraestrutura necessárias para a implantação e a tarifa da energia elétrica. “No geral, varia de 5 anos a 10 anos, mas é importante lembrar que a vida útil destes sistemas é superior a 25 anos”, aponta Paulo Doneux.
Um último argumento a favor da energia solar é o fator ambiental. Renovável, gratuita e limpa, essa fonte não emite gases poluentes, o que contribui para a redução da poluição do meio ambiente e, no fim das contas, ajuda a valorizar as unidades do condomínio. “Cada vez mais, a população brasileira se conscientiza de que a energia elétrica não é uma dádiva. Com isso, dispor de sistemas de geração que sejam confiáveis e estejam próximos dos pontos de consumo será um diferencial importante na hora de decidir pela compra de um imóvel”, aponta Paulo Doneux.