Pombos: inofensivos, mas que escondem um grande perigo
Por Cidades e Serviços
Última atualização: 07/09/2014
Edição 216 Set/Out 2014, Edições
Texto: Karina Moura
Uma ave quase inofensiva para alguns, mas que esconde grandes transtornos, não somente pelo seu crescimento populacional desordenado como também por riscos ao patrimônio e transmissão de doenças. Os pombos são considerados pragas urbanas e trazem muitos problemas para os condomínios. Algumas pessoas gostam de alimentá-los com restos de comidas, mas poucos sabem que este é o pontapé do problema.
O ciclo reprodutivo dos pombos domésticos Columbia lívia, espécie mais comum no ambiente urbano, é regulado pela disponibilidade de alimento, ou seja, quanto mais recebem alimentação, mais aumenta a sua capacidade reprodutiva, gerando grande proliferação da espécie. Em algumas áreas das grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, devido à grande concentração de locais para abrigo, é comum o aumento deste animal, mas quando a oferta de alimentos se reduz ou acaba as aves saem do local.
Seu tempo de vida em centros urbanos dura em média quatro anos. Em função do nosso clima e em boas condições de alimentação colocam cerca de 1 a 2 ovos por ninhada, podendo ter de 5 a 6 ciclos de reprodução em um ano. Dificilmente eles são caçados por outros animais neste território, o que faz sua população crescer muito rápido, além de se adaptarem ao ambiente.
Os pombos costumam procurar locais altos, como parapeitos de edifícios e pontos de telhados com água e que sejam confortáveis para pousar e defecar. Segundo a bióloga e médica veterinária, Maria Luisa Noronha, os problemas começam a surgir quando os pombos se instalam nesses locais e começam a trazer riscos à saúde ambiental e humana. “Os pombos se adaptaram bem, equilibraram suas populações e passaram a fazer parte da composição de nossa avifauna. Sob este ponto de vista, a presença em si dos pombos urbanos não é um problema, mas quando começam os transtornos a coisa muda. Por exemplo, quando ninhos desta ave são instalados na janela de um hospital ou no sótão de uma casa, ou então praças lotadas de pombos convivendo com barraquinhas de alimentos. Eles se instalam muito perto das habitações humanas, porém em locais de difícil limpeza”, ressaltou Noronha.
A conscientização das pessoas para ajudar no controle ainda é um grande desfaio, onde na maioria dos casos elas são as causadoras do transtorno. Este é um problema que a síndica, Carmen Maurício Gil, do Edifício João M. Magalhães, em Botafogo, sofre desde o inicio da sua gestão em 2011. Segundo ela, depois de tentar inúmeras vezes convencer uma moradora a não alimentar os pombos, teve que recorrer à justiça para tentar resolver o problema. “Este prédio é muito antigo e esta pessoa causa este transtorno aos demais moradores há bastante tempo. Temos um processo na justiça desde 2002 e que vem se arrastando até hoje. Tentamos resolver de maneira mais simples, mas sem sucesso. Começamos a multá-la quando alimentava os pombos, porém ela continuava a fazer a mesma coisa todos os dias, até que um dia começou a não pagar as multas. Descobrimos que ela, além de alimentar da sua janela, fazia a mesma coisa na cobertura do prédio. Os pombos criaram ninhos, alguns ficaram doentes e já atraíam até ratos por causa da comida jogada. Conseguimos controlar a situação, mas tivemos que levar o caso até o tribunal”, ressaltou a sindica, que conseguiu depois de anos ganhar a causa na justiça, onde a moradora está para ser despejada e o apartamento ser leiloado.
Apesar de parecem inofensivos os pombos podem ser uma ameaça, principalmente para a nossa saúde, além do incomodo devido à grande quantidade de sujeira que produzem. São capazes também de destruir equipamentos eletrônicos sensíveis, monumentos públicos, veículos estacionados, roupas postas a secar, obstrução de calhas e dutos de ventilação e ainda produzir um grande barulho.
O cuidado maior com os pombos, de fato, deve ser em relação às suas fezes, que além de sujar e depredar o patrimônio, são acidas e deterioram materiais, além de trazer graves problemas de saúde para as pessoas. Em especial àquelas com saúde debilitada e/ou que tomam imunossupressores, como transplantados. Os pombos produzem cerca de 2,5 kg excrementos por ano, que gera uma quantidade enorme microrganismos patogênicos e parasitas.
A forma mais comum de ser contaminado é através das vias respiratórias, com a inalação do ar contaminado pelas fezes secas. Outra forma também é por meio de piolhos, ácaros e pulgas que são encontrados nestas aves. O vento torna-se um facilitador na propagação e dispersão das doenças causadas pelas aves. São conhecidas mais de 40 viroses e 60 doenças transmissíveis atribuídas aos pombos e seus excrementos, como problemas dermatológicos, respiratórios, tais como alergias, histoplasmose (doença provocadas por fungos), ornitose (infecção provocada por bactérias), salmonelose (oriunda da contaminação em alimentos após ingestão), criptococose (contaminação no solo através das fezes de aves), meningite e até em alguns casos a toxoplasmose, porém são raros os casos, salvo quando ele mesmo apresentar cistos do protozoário.
A síndica do Edifício João M. Magalhães, citada anteriormente, afirmou que doenças como estas já foram diagnosticadas em moradores. “Descobri que três pessoas tiveram doenças por causa dos pombos no prédio, inclusive uma criança. Depois descobri mais um caso, antes da minha gestão, que uma pessoa aqui teria morreu também por causa de uma doença que poderia ser causada pelos pombos, mas não sabemos ao certo”, lembrou Carmen.
Hoje, já existem várias empresas especializadas no controle desta praga urbana. O síndico, ao orçar o serviço, não deve levar somente em consideração o valor, mas também a postura da empresa contratada, que primeiro deve fazer uma inspeção no local e elaborar um planejamento adequado para o imóvel. Segundo o biólogo e técnico de controle de pragas urbanas, Rafael Capponi Vittori, em geral a maioria dos condomínios ainda não se preocupam muito com o controle de pombos, só fazem este serviço quando a situação está complicada. “A maioria das pessoas acha que os pombos são animais bonitinhos e inofensivos, mas na verdade é um transmissor de inúmeras doenças e de ectoparasitos”, lembrou.
Segundo Capponi o melhor remédio ainda é a prevenção para uma futura infestação e a conscientização dos moradores e do síndico. “A melhor maneira de prevenção é manter sempre os locais que possam oferecer oportunidades de abrigo, sempre limpos. O controle de pombos é uma das técnicas mais trabalhosas pela complexidade de cada local”, afirmou.
O mais comum para o combate desta praga urbana é o uso de anticoncepcionais, porém são caríssimos, além de gel repelente específico para pombos, que são colocados em beirais e onde eles costumam pousar e fazer seus ninhos. São usadas também às espículas, que são estruturas pontiagudas instaladas linearmente nestas mesmas posições, evitando com isso que os pombos consigam pousar e fazer seus ninhos. Outra solução é a instalação de telas nos vãos de acesso dos pombos. “A duração de cada serviço varia muito. O gel tem que ser renovado em áreas abertas e fechadas no mínimo uma vez a cada dois a três meses, sendo que as espículas são colocadas de forma permanente. Desenvolvemos também um sistema de linhas que são fixadas em estruturas paralelas, bem duradouras, eficazes e com um custo bem mais em conta do que as espículas. Isso vai depender do tamanho do condomínio e da complexidade do serviço em si, podendo ser de um dia se estendendo para mais dias”, concluiu o técnico.
Depois de muitos métodos utilizados, muito dinheiro gasto e sem sucesso pela sindica Carmen, mencionada nesta matéria, ela resolveu tentar uma coisa inusitada e pouco comum. Contratou uma empresa de Falcoaria, que já é autorizada pelo IBAMA, para a realização deste serviço. “Tentamos colocar telas, mas sem sucesso, pois algumas janelas eram vazadas. Coloquei fios tensionados de um prédio para outo, mas sem sucesso também. Até que ouvi falar da Falcoaria. Contratando essa empresa para tirar os pombos do prédio, que por fim deu certo. Em seis meses limparam tudo. Foi um trabalho perfeito! Resolvemos o problema da cobertura”, pontuou.
A falcoaria, que é a arte de criar, treinar e cuidar de falcões e outras aves de rapina para a caça, está ligada principalmente ao controle da fauna, muito utilizada em aeroportos, na agricultura e na reabilitação de aves machucadas. Essa técnica permite perseguir os pombos, por exemplo, afastando-o do local desejado. Esse método vem sendo muito utilizado por alguns condomínios e vem obtendo resultados positivos, onde já é considerada a melhor maneira para acabar com esse conflito. Porém esse serviço não costuma ser um dos mais baratos. “O valor do serviço total foi de R$ 48 mil reais, mas que teve um excelente resultado”, garantiu Carmen.
É importante ressaltar que os pombos não devem ser mortos, mas apenas controlados, pois têm importância no meio ambiente, assim como todas as outras aves. O método de manejo da população de pombos visa reduzir de maneira gradual a população em um determinado local, cuja principal medida é amortizar a quantidade de abrigos e fontes de alimentação. “O manejo implica em ações que podem ser localizadas, temporárias ou definitivas. As ações de controle ou manejo, por exemplo, precisam ser bem pensadas caso a caso, ou podem resultar em dinheiro mal gasto e não resolverem o problema. Técnicas que implicam no sofrimento animal precisam ser evitadas, pois se constituem em crime e os responsáveis podem ser punidos por suas ações com multas e prisão”, concluiu a bióloga Maria Luisa Noronha.
Vale ressaltar que qualquer produto químico ou mecânico empregado precisa ser seguro para as aves, meio ambiente e o homem, sendo registrado pela ANVISA. Os pombos são protegidos pela Lei Federal de Crimes Ambientais nº 9.605/98, que considera protegido qualquer animal que utiliza o território nacional para local de abrigo ou reprodução, onde proíbe qualquer controle que provoque morte, danos físicos, maus tratos e apreensão, passível de pena de cinco anos.
Como prevenir seu condomínio dos pombos:
- Nunca os alimentem;
- Não permitam que façam ninhos em casas e telhados;
- Mantenha sacos e latões de lixo sempre amarrados e tampados;
- Recolha regularmente os restos da alimentação de animais domésticos, como cães e gatos;
- Não varrer as fezes secas dos pombos. Molhe-as primeiro e umedeça com uma solução desinfetante à base de cloro, pois através do ato de varrer, os microrganismos causadores das doenças podem ficar em suspensão no ar e serem inalados através da respiração;
- Ao manusear ou limpar os excrementos destes animais, não se esqueça de utilizar máscaras ou um pano úmido protegendo o nariz;
- Proteja alimentos e água exposta, tais como, por exemplo, caixas d’aguas e piscina;
- Limpe sempre forros, calhas ou qualquer outro local com ninhos e ovos;
- Vedação de vãos de acesso em forros de telhados, desvãos, saídas de tubulação de serviços e outros espaços, com estrutura de tela, tapumes ou argamassa.