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Raio-X de líderes

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 11/03/2013
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Personagem central no cotidiano do condomínio, o síndico tem a difícil tarefa de cuidar do bem coletivo e, ao mesmo tempo, lidar com as vontades e interesses individuais de seus condôminos, funcionários e colaboradores. A grandeza do trabalho afugenta muita gente. São poucos aqueles que chamam para si a responsabilidade de administrar um edifício.

Os desafios cada vez mais complexos vêm imprimindo mudanças nos condomínios. Especialistas garantem que o perfil do síndico mudou ao longo dos últimos anos, graças às crescentes obrigações jurídicas e administrativas das unidades, que começam a precisar de síndicos qualificados para exercer o cargo. Independentemente das novas exigências, uma característica continua a ser crucial para o sucesso da gestão: a vontade de zelar pelo patrimônio coletivo.

O início na função de síndico, na maior parte das vezes, acontece por acaso. Foi o que aconteceu com Cláudio Abram Lopes. Há sete anos, ele assumiu a gestão do Duque D’Anjou, condomínio com 16 unidades em Ipanema, por não haver nenhum outro condômino habilitado para o cargo. “Aqui, só moram pessoas idosas, algumas com mais de 90 anos. Não existe ninguém que possa desempenhar essa função além de mim”, afirma.

Cláudio tem as qualidades do que os especialistas chamam de novo perfil do síndico. Dedicado à carreira profissional, trabalha em um escritório de Direito e concilia os processos e causas jurídicas com a rotina administrativa do Duque D’Anjou. Apesar do intenso ritmo de trabalho como advogado, ele está sempre a postos para resolver os problemas e urgências. “Se você é um cara honesto e correto, fica fácil conciliar sua carreira com a função de síndico. Faço questão de saber tudo o que acontece no prédio. Não há nada que não passe por mim. Deixo tudo organizado de antemão para que não haja problemas enquanto eu estou fora. Mas, de qualquer forma, fico com o celular ligado o tempo todo. Esteja onde eu estiver, meu porteiro consegue me achar por telefone e, se for necessário, saio de onde estou e vou ao prédio resolver emergências”, conta.

A carreira, em vez de empecilho, ajuda Cláudio a resolver eventuais pendências do condomínio. O síndico de Ipanema cuida pessoalmente de todas as questões jurídicas do Duque D’Anjou. “Faço notificações, recursos de multa. Só não represento o condomínio como advogado em juízo, porque isso seria antiético. Tudo que faço é de graça e, assim, o condomínio consegue economizar bastante em consultoria jurídica”.

Para Cláudio, a tarefa mais difícil é administrar as finanças em um condomínio com poucas unidades. Consciente, o síndico trabalha sempre para promover melhorias sem onerar os condôminos, em sua maioria aposentados. “As pessoas aqui vivem com aposentadoria. Se você faz obras muito caras, algumas pessoas não terão como pagar e se sustentar ao mesmo tempo. Depois de certa idade, ninguém é obrigado a ter dinheiro para reformas. Nosso prédio é pequeno, somos apenas 16 unidades. É pesado fazer um rateio”, afirma Cláudio.

No olho do furacão, o síndico encontrou um jeito de driblar as dificuldades financeiras. Em vez de cotas extras, criou uma poupança com as economias adquiridas a cada mês. “Vou pintar o prédio agora. Para isso, criamos o fundo de pintura. Quando chegarmos a 70% do valor do serviço, vou fazer uma Assembleia e, só então, iniciar a reforma”.

Conectada aos desafios
Há um ano e meio, Fernanda Almeida tinha 25 anos e foi com essa idade que ela assumiu a gestão do condomínio Bosque dos Eucaliptos, em Vila Isabel. Inicialmente, substituiu a antiga síndica por seis meses. Acabou se interessando pelos assuntos condominiais e permaneceu no cargo. Hoje, tem 27 anos e está no terceiro ano de gestão. A idade avançou pouco, mas a experiência vem aumentando consideravelmente. Já no ano passado, realizou uma obra de grande porte para melhorar o abastecimento de água de um dos blocos do condomínio. Orgulha-se de dizer que, embora a obra tenha sido cara, não precisou fazer cota extra e ainda manteve o saldo credor no final do ano.

Fernanda é síndica, faz faculdade e ainda trabalha. Como ela consegue? “Apenas organizo meu tempo para cumprir todas as minhas tarefas”, conta a gestora do condomínio de 32 unidades. Ela dispõe de algumas ferramentas que a auxiliam a lidar com o corre-corre diário. A principal delas é a Internet. É pela rede que ela resolve todos os assuntos com a administradora condominial e, quando precisa comprar algum produto para o condomínio, é nos sites de compras que ela encontra. Além disso, Fernanda utiliza a rede mundial de computadores para pesquisar e adquirir conhecimentos interessantes à sua gestão no Bosque de Eucaliptos. “A internet é uma importante ferramenta para quem precisa se manter atualizado. Sempre surge um assunto novo que aborda o dia a dia dos condomínios, soluções, experiências e vivências de quem já foi ou é um síndico. Além disso, a internet soluciona o principal problema do mundo moderno: o tempo”, ressalta.

Jovem e mulher, a síndica de Vila Isabel conseguiu conquistar a confiança dos condôminos mostrando a eles sua característica mais evidente: a vontade de fazer o melhor pelo condomínio. “Quando me candidatei ao cargo de síndica, quis mostrar aos condôminos que, embora fosse jovem, tinha tanta capacidade de estar à frente do condomínio quanto uma pessoa mais madura, como normalmente é o perfil dos síndicos. Mostrei que possuo conhecimento, experiência profissional e principalmente que estava disposta. Acredito que tenha sido eleita porque alguns condôminos já me conheciam e pelo fato de quererem uma nova cara para a gestão do condomínio”.

Síndico à moda antiga
Josué de Oliveira tem à frente do Infante D.FelipeI quase o mesmo tempo que Fernanda tem de vida. São 21 anos dedicados ao condomínio com 36 unidades na Tijuca. O tempo não desmotivou o gestor que, todos os dias, faz questão de conversar com seus funcionários e colaboradores para se inteirar da rotina condominial.

O síndico tijucano possui um perfil mais tradicional de gestor: aposentado, destina atenção integral aos projetos e problemas da unidade. “Isso preenche o meu tempo. Vou para o computador, faço relatórios. Por ser síndico, você adquire conhecimento, conversa com pessoas de todos os lugares e formações distintas. É uma atividade que mantém a mente da gente funcionando. Minha esposa quer que eu pare, mas até meu médico diz que faz bem para a saúde”, afirma.

Ao longo de mais de duas décadas de gestão, Josué promoveu inúmeras melhorias para o condomínio, fato que, segundo ele, é o responsável pela confiança depositada pelos condôminos no seu trabalho. Trocou as telhas do telhado, reformou a lixeira, atualizou a Convenção da unidade. Hoje, aos 74 anos, continua incansável e já tem projetos para o Infante D.FelipeI, em 2013: trocar o taco do salão de festas por piso frio. “A experiência é a mestra da vida. Quanto mais o tempo passa, mais fácil fica para resolver os problemas que surgem. Eu conheço o prédio inteiro. Às vezes, funcionários e condôminos me perguntam se podem colocar um prego em determinado local, e eu sei se pode ou não, se a planta original foi mexida ou se permanece intacta. Depois de tanto tempo, saber essas coisas é a minha obrigação”, pontua Josué.

O que faz um bom síndico?
Homem, mulher, jovem, idoso, trabalhador, aposentado. Com tantos perfis, fica difícil definir qual deles é o mais indicado para gerir um condomínio no século XXI. Diante de tantas histórias, talvez o mais prudente seja dizer que o sucesso da gestão depende menos de um estereótipo pré-definido e mais da força de vontade com que o gestor administra o edifício.

Embora jovem, Fernanda Almeida já conhece as vantagens e desvantagens da função. Para ela, o segredo de uma boa administração está na atenção que o síndico dispensa às solicitações dos condôminos. “Não posso ser indiferente aos problemas do condomínio. Quando algum condômino me procura para falar a respeito de assuntos do prédio, ouço com atenção e busco resolvê-los o mais rápido possível. Isso me dá credibilidade, independentemente da minha idade”.

Já para Cláudio Lopes, do Duque D’Anjou em Ipanema, a palavra de ordem é presença. Fazer-se presente no condomínio é essencial, ainda que isso signifique abrir mão de momentos particulares. “Já perdi vários finais de semana para resolver problemas. Um síndico precisar ver o que acontece em seu condomínio. Se ele não vê, não tem como resolver”.

Josué de Oliveira finaliza lembrando que a maior recompensa que um bom síndico pode ter é o desejo de continuidade do trabalho manifesto pelos condôminos em uma reeleição. “Se o síndico for dedicado, o pessoal nunca vai querer abrir mão dele. Por isso, enquanto eu for síndico, vou sempre procurar fazer o melhor possível. E, se voltasse no tempo, faria tudo de novo. Sinto muito orgulho de ver meu prédio como ele está hoje”.

 

Texto: Aline Duraes
Foto: Marco Fernandes

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