Gabriel Menezes
A conta de luz – uma das despesas que mais pesam no orçamento dos condomínios – pode encarecer uma média de 2,42%, em 2020. O aumento consta no orçamento para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), um dos subsídios pagos pelos consumidores de energia. Para 2020, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou um orçamento para a CDE de R$ 22,453 bilhões, um aumento de 11% em relação ao orçamento de 2019, de R$ 20,208 bilhões. Desse montante, a parte paga pelos consumidores teve um aumento de 27% e deve passar de R$ 16,238 bilhões para R$ 20,645 bilhões. Diante disso, mais do que nunca, cabe ao síndico buscar maneiras de economizar energia e conscientizar os moradores sobre a importância da questão.
No Condomínio Gemini, no Jardim Botânico – administrado pela APSA –, essa preocupação começou antes mesmo de qualquer possibilidade de aumento. Há um ano, os dois blocos, cada um com 44 apartamentos, passaram a gerar boa parte da sua própria energia por meio de placas solares instaladas nas coberturas. Cada uma deles recebeu 80 placas.
De acordo com a síndica, Margarida Maria Sampaio Bonfim, além de ganhar praticamente autonomia na geração da energia utilizada nas áreas comuns, o condomínio passou a vender o excedente da produção para a distribuidora de energia elétrica. “Antes da instalação das placas, a conta de cada bloco ficava numa média de R$ 3 mil. Depois, houve meses em que cada conta ficou em R$ 400”, explica.
O investimento para a instalação das placas foi de cerca de R$ 220 mil e, de acordo com a síndica, a previsão é de que, com a economia gerada, ele esteja pago em quatro anos. “Como tínhamos dinheiro em caixa, não foi preciso cobrar a temida cota extra. Então, todos os moradores concordaram na hora. Além disso, havia uma previsão de que o condomínio teria de ser reajustado em cerca de 10% em 2019, mas, com a economia que já tivemos por conta da energia, não foi preciso”, frisa Margarida.
Ela explica que, antes da instalação da energia solar, é preciso calcular exatamente qual o consumo médio do condomínio e se basear nisso para definir o tamanho do sistema, a fim de torná-lo realmente econômico. “Não adianta instalar as placas e depois disso achar que pode gastar à vontade, porque não é assim que funciona. Se você aumenta o consumo, corre o risco até de você gastar mais dinheiro, porque a demanda não vai ser suprida”, conclui a síndica do condomínio Gemini.
Os vilões da conta de luz
A energia solar é apenas uma opção para promover a economia de energia elétrica no condomínio. Além dela, é possível adotar novos hábitos e fazer substituições que também geram grandes resultados.
De acordo com o engenheiro eletricista Alcione Belache, entre os principais vilões da conta de luz em condomínios estão os aparelhos antigos, como elevador e geladeira, além dos aparelhos de ar condicionado de áreas comuns, como o salão de festas. “Quando se trata de economia de energia elétrica, em primeiro lugar é preciso pensar em equipe, afinal em um condomínio não existe apenas um responsável por ligar ou desligar a luz. Há muitas pessoas envolvidas, e quanto mais envolvidos, caso não se cuide, o gasto pode ser gigantesco”, destaca.
Belache destaca que uma atitude interessante a ser tomada é a substituição das lâmpadas fluorescentes pelas de LED. Em um primeiro momento essa mudança gerará uma despesa maior no condomínio, contudo, os novos modelos têm maior durabilidade. Logo, em médio e longo prazo haverá uma menor incidência de compra de lâmpadas, bem como uma redução no consumo energético. As lâmpadas de LED duram até 25 mil horas e ainda são 30% mais econômicas do que as fluorescentes, no que se refere a gasto energético.
Outra solução importante, segundo ele, é a utilização de sensores de presença: “A ideia pode parecer simples, mas muitos condomínios ainda não utilizam sensores de presença. Esses equipamentos proporcionam mais conforto aos moradores, pois as lâmpadas acendem automaticamente quando alguém aparece no ambiente. Eles ainda dão mais segurança e ajudam a diminuir os gastos de energia, uma vez que não é preciso se preocupar em acender e apagar as lâmpadas”, frisa.
E, quando se trata de prédios antigos, o engenheiro diz que a troca da fiação elétrica pode gerar uma significativa redução na conta de luz. “A má conservação dos fios gera riscos aos moradores e promove o desperdício de energia, uma vez que o aquecimento excessivo dos fios entra no cálculo do consumo de luz. Problema semelhante ocorre quando a espessura da fiação também não está adequada para o perfil de consumo do ambiente”, conclui.
Energia solar: ecologicamente limpa e econômica
A produção de energia solar é uma opção que atrai cada vez mais pessoas no país, tanto pela economia que proporciona quanto pela conscientização ambiental das pessoas. Quando instalada num condomínio, a energia produzida pelo sistema fotovoltaico é direcionada para o quadro geral de energia do condomínio, o qual é responsável por abastecer os equipamentos das áreas comuns. Ou seja, é necessário compreender que a instalação do sistema em um condomínio visa atender o consumo das áreas de uso coletivo. Caso não seja utilizado todo o potencial energético produzido, esse valor é injetado na rede da concessionária e convertido em crédito para os próximos meses.
Segundo o engenheiro eletricista Alcione Belache, a instalação de um sistema fotovoltaico pode gerar uma redução significativa na conta de luz. Em alguns casos, o valor pode diminuir em até 95%. “Os painéis solares são a cada dia mais potentes ao mesmo tempo que seu custo vem decaindo. Isso torna cada vez mais a energia solar uma solução economicamente viável. O Brasil hoje vem sentindo o reflexo do crescimento do setor fotovoltaico assim como outros países do mundo. Esse crescimento resulta em maior investimento em tecnologia e consequentemente o custo tende a diminuir. É uma solução que atende os três pilares da sustentabilidade: o econômico, social e ambiental”, destaca.
Diagnósticos e soluções para economizar
A Universidade Federal do Rio de Janeiro possui há 26 anos a Fluxo Consultoria, uma empresa sem fins lucrativos que realiza projetos em diversas áreas da engenharia, entre eles, criando soluções e diagnósticos para condomínios relacionados à economia de energia e fazendo a implantação de sistemas de energia solar.
De acordo com Marília Nunes Roubles, integrante da empresa, é comum identificar erros simples que acabam gerando desperdícios. Entre eles, estão a instalação de aparelhos sem o selo de qualidade pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). “Esse problema vai desde a compra das lâmpadas quanto dos eletrodomésticos, no qual por muitas vezes não é dada a devida atenção em adquirir produtos com o selo de qualidade. Outro erro é em relação ao dimensionamento do ar condicionado, que pode ser central ou convencional. O subdimensionamento da refrigeração faz com que o motor do aparelho trabalhe em sua capacidade máxima, consumindo mais energia”, explica Marília, destacando que, nesses casos, é importante a concepção de um projeto com cálculo do dimensionamento da refrigeração.
Proposta deixa usuários de energia solar em alerta
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) abriu no fim de 2019 uma consulta pública que pode mudar a resolução sobre a tributação no setor de energia solar. Pela regra atual, o valor da energia gerada pelo consumidor é integralmente compensado pelo valor da tarifa de energia. Segundo a Aneel, a isenção permitiu a expansão da energia renovável no Brasil. No entanto, a mudança sob análise pode gerar tributos de 30% a 63% sobre a energia gerada.
A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) se manifestou dizendo que as propostas são prematuras e podem prejudicar os consumidores brasileiros interessados em gerar a sua própria eletricidade a partir de fontes renováveis. Segundo a entidade, a proposta apresentada pelo regulador está desalinhada com as melhores práticas internacionais. A Califórnia (EUA), referência mundial nas regulamentações para o segmento, deu início ao processo de atualização de suas regras apenas quando atingiu a marca de 5% de participação da geração distribuída solar fotovoltaica no atendimento de demanda elétrica de suas distribuidoras.
Ao atingir este patamar, o regulador estabeleceu que, quando injetar energia na rede, os consumidores com geração distribuída devem pagar US$ 0,02/kWh (R$ 0,08/kWh). “A quem interessa inviabilizar a energia solar na geração distribuída? Certamente, não aos consumidores brasileiros. A proposta desequilibrada, que foi colocada em debate, pode onerar em até 60% a energia renovável gerada pelo cidadão nos telhados, fachadas e pequenos terrenos. Isso parece atender aos interesses de grandes grupos econômicos ligados aos tradicionais monopólios da distribuição de energia elétrica, que procuram manter seus clientes cativos, num modelo de mercado do século passado e cada vez mais ultrapassado”, afirma Ronaldo Koloszuk, presidente do Conselho de Administração da ABSOLAR.
Ele destaca que, segundo uma análise da entidade, caso as regras atuais da geração distribuída sejam mantidas no país, os consumidores serão beneficiados com uma economia de mais de R$ 13,3 bilhões de reais em benefícios ao setor elétrico, como postergação de investimentos em novas usinas de geração, linhas de transmissão e infraestrutura de distribuição, redução de perdas, alívio na operação do sistema, diminuição do acionamento de termelétricas mais caras e poluentes, entre outros.
Adicionalmente, serão gerados mais de 672 mil novos empregos no País até 2035, haverá um aumento de R$ 25 bilhões na arrecadação dos governos federal, estaduais e municipais até 2027, além da redução de emissão de 75,38 milhões de toneladas de CO2 até 2035 e do alívio à pressão sobre os reservatórios hídricos do Brasil, principal fonte de energia elétrica do País na atualidade.