A versatilidade do Boho na decoração
Por Cidades e Serviços
Última atualização: 14/03/2022
Decoração
Liberdade, versatilidade e criatividade. Essas são algumas das características marcantes do estilo Boho, uma opção que funciona muito bem na decoração de ambientes dos mais variados.
Professora do curso a distância de técnico em Design de Interiores do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac EAD), Bruna Fagundes de Ávila explica que o estilo, também conhecido como boêmio contemporâneo (ou Bohemian Chic, do termo original em inglês), é caracterizado pela mistura de padronagens, texturas e materiais provenientes de culturas como oriental, étnica, hippie e vintage, o que proporciona composições inusitadas e bastante personalizadas.
“Eu diria que este estilo reflete bastante o momento em que vivemos, onde a globalização se faz tão presente, assim como a busca pelas nossas origens, conexão com o planeta de um modo geral e pelas representações de nossas ancestralidades e autoconhecimento”, opina a profissional.
Segundo ela, o primeiro passo para quem pretende adotar essa linha para a decoração de sua casa é pensar em algo com a sua própria personalidade: “O maior erro, na minha opinião, tanto para este estilo quanto para qualquer outro no mundo da decoração, é o projetista ou até mesmo o cliente querer copiar um projeto já pronto para o seu espaço. Quando isso acontece, o resultado é que, além da falta de personalização, ele (o projeto) pode não atender às necessidades do morador. Obviamente que podemos nos inspirar sempre, mas é importante que o espaço conte um pouco da história de quem realmente vive nele. Isso diferencia um projeto que foi adaptado para um estilo daquele projeto mais vivo, baseado na trajetória e nas experiências pessoais do cliente”.
Segundo a designer, uma das vantagens do Boho é justamente a versatilidade, exatamente por conta de o ponto de partida ser as experiências vividas pelo cliente. “Desse modo, aquela manta herdada de familiares pode compor lindamente o espaço quando harmonizada com almofadas trazidas de alguma viagem ou com quadros garimpados em alguma feira. O Boho é um estilo vivo. Ele vai sendo construído e modificado a partir das histórias de vida de quem habita o espaço”, complementa Bruna.
O cuidado para não exagerar em algum material específico
Para a arquiteta Cristiane Schiavoni, outra característica muito importante do estilo Boho é a ligação com materiais naturais, como fibras, madeira, tecidos ou outras opções com muita textura. “É interessante ter cara de feito à mão. Não pode ter nada industrializado. É uma pegada bem natural mesmo. É, ainda, um estilo que tem que parecer aconchegante. Para um quarto, por exemplo, podemos usar um edredom de tecido de algodão forrado com tricô ou vários outros tipos de tecidos que levam ao acolhimento. E para compor com essa mistura de elementos e continuar elegante, fluido e aconchegante, entendo que precisamos de tons e materiais neutros. Não existe Boho, também, sem as plantinhas. Aposte em espécies que sejam fáceis de cuidar e que possam ser cultivadas dentro de casa”, destaca a profissional.
Ela acrescenta que ao levar o estilo para um ambiente, uma boa dica é pensar antes de tudo numa paleta de cores bem definida: “A gente tem muitos tons terrosos no Boho. O segmento tem étnico, um pouco vintage e até oriental, mas sempre com a pegada natural. Não é para parecer arrojado. O estilo é composto por cores que são encontradas na natureza basicamente. Então, o marrom, o amarelo mostarda e o cinza mais vivo são opções ótimas”, orienta Cristiane.
A arquiteta comenta que um erro comum, ainda, neste sentido é o exagero em algum material específico. “Por exemplo, eu tenho uma cliente que me pediu por esse estilo e tudo o que ela via de corda, ela queria colocar. Era luminária de corda, mobiliário de corda, puff de cordas… É preciso ter cuidado para não ficar algo temático. A mistura de materiais faz parte. Então, quando algo é repetido exageradamente, fica caricato. O Boho, ao mesmo tempo em que busca o despojamento, é uma grande mistura de elementos, mas não no sentido de ficar carregado. É sempre bom ter displicência”, aponta Cristiane.
A tendência foi a escolhida por ela para o projeto de uma cozinha. O cômodo fica numa casa pensada com uma proposta tradicional. Havia uma pequena área aberta ao lado. A arquiteta, então, uniu a cozinha com essa área e fez um grande espaço gourmet. “Eu não queria perder a iluminação natural. A ideia não era simplesmente fechar, fazer uma laje e tornar a casa escura. A ideia era conseguir manter a iluminação e a ventilação naturais. Ou seja, simplesmente fechar com um telhado de vidro não era o ideal, porque aí não teria ventilação. Então, optamos por um teto retrátil. Os moradores, um casal, gostam de uma pegada um pouco retrô, com essa coisa do material natural. Eles me pediram algo bem descontraído, uma casa que realmente tivesse a possibilidade de receber muita gente e que fosse descolada e jovial”, conclui.
Uma pegada eclética
O nome Bohemian Chic é uma referência aos artistas e intelectuais da Europa da década de 1920. Mas foi nos anos 1960 e 1970 que a moda passou a destacar o estilo, em parte pela influência do movimento hippie. Ele voltou com força no início dos anos 2000, a partir do sucesso dos grandes festivais de música europeus.
A designer de interiores Fernanda Olinto explica que o ecletismo é uma de suas marcas registradas. “Utilizar objetos artesanais, elementos vintage e muita cor e estampa fazem parte da composição do estilo. Hoje, no século XXI, o termo evoluiu para boho-chic. Ele se tornou bem visto pelo olhar de decoradores e entusiastas, que trouxeram elementos mais refinados. Para seguir nesta linha, agora menos boêmia e mais chique, é preciso ainda utilizar elementos artesanais. Enfatizar as cores claras e mais relaxantes, abordando o uso de muitas camadas e texturas variadas em tecidos, tapetes e almofadas”, frisa.
Ela destaca, no entanto, que exagerar no requinte pode ser um erro fatal. “O estilo pede casualidade, ele sempre será adequado quando for confortável e informal. A vantagem dele é justamente a sua informalidade. Ele aceita mix de objetos diferentes, permite a mistura de estampas quando conveniente, a sobreposição de tapetes, o uso de muitas almofadas diferentes e também um layout mais bagunçado e livre de amarras”.
A profissional adotou o Boho para o projeto de um quarto e conta que teve como base uma cor neutra, focando justamente nos materiais naturais e nas texturas. “Criamos uma bay window (um tipo de vitrô) para o morador possuir mais proximidade e uso da janela, possibilitando maior integração com a paisagem. Ali, assim como na cama, utilizamos tecidos como linho e algodão. A naturalidade dos materiais segue presente também nos armários, onde utilizamos palha, criando detalhes e dando acabamento. O tapete de kilim (sem pelos e com forte textura) faz jus ao estilo, em tecido e padronagem étnica, assim como a madeira rústica e plantas que foram aplicados à decoração. Os pufes em terracota completam o visual, destacando o estilo Boho”.
Alternativa atemporal
A arquiteta Andrea Camillo classifica o Boho como um estilo atemporal, mas que vem ganhando ainda mais adeptos nos dias de hoje em que boa parte das pessoas passou a ficar mais tempo dentro de suas casas. “Pelo momento em que vivemos, as pessoas estão buscando essa sensação de acolhimento. Quem gosta desse estilo também procura passar uma imagem mais livre, com cores, plantas, artesanato e peças feitas a mão. A minha dica é usar a criatividade. Misture, ouse e não se sinta preso a nada. Não tenha medo de errar”, afirma a profissional.
A arquiteta Eduarda Negretti destaca a possibilidade de usar elementos que já estejam em casa. “Basta criar uma composição legal entre itens que você não tinha pensado em colocar juntos antes. Você pode mesclar elementos com preços mais acessíveis, como os móveis encontrados em um brechó, com algumas peças mais refinadas. Vale a mistura. Isso trará para o ambiente a atmosfera alegre e descomplicada”, explica.
Sócia de Eduarda, a arquiteta Nathalia Lena acrescenta que entre essa mescla de elementos é preciso ter algo que traga harmonia. “Misturar muitas cores no mesmo ambiente pode ser um erro. Isso vai gerar um efeito contrário ao aconchegante, vai virar uma poluição visual. Portanto, a dica é escolher cores que se complementam”, salienta a profissional.
Dicas dos especialistas para quem quer levar o Boho para os seus ambientes
– Pense em algo com a sua personalidade. Evite copiar projetos prontos, porque, quando isso acontece, o resultado é que, além da falta de personalização, ele (o projeto) pode não atender às suas necessidades reais;
– Isso não quer dizer, no entanto, que não possa haver inspirações. Pode sim! Mas é importante que o projeto tenha um pouco da história de quem vive no local;
– E, pensando nisso, é possível juntar elementos que já existam na casa, como lembranças de viagens, com peças novas compradas especificamente para compor o projeto;
– Outra possibilidade é mesclar elementos com preços mais acessíveis, como os móveis encontrados em brechós, com algumas peças mais refinadas;
– Um erro comum é o exagero em algum tipo específico de material. É preciso ter cuidado, para que o ambiente não fique caricato;
– Outro equívoco é exagerar no requinte. O estilo pede casualidade;
– O Boho é composto por cores que são encontradas na natureza basicamente. Então, o marrom, amarelo mostarda e o cinza mais vivo são opções ótimas.
Por: Gabriel Menezes