Grafite: galerias de arte a céu aberto
Por Cidades e Serviços
Última atualização: 09/03/2021
Comportamento, Cidades
As intervenções artísticas urbanas são cada vez mais comuns nas grandes e nas pequenas cidades. Os espaços públicos tornaram-se verdadeiras galerias de arte a céu aberto nas grandes metrópoles como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte… E é cada vez mais comum vermos painéis nas fachadas de condomínios e até mesmo em espaços internos.
No Rio de Janeiro, o coletivo Grafiteiros RJ, formado por quatro profissionais liderados pelos artistas Igor Izy e Douglas Chapolin, é especializado nos mais diversos tipos de trabalho com grafite como fachadas, painéis externos, logomarcas e até mesmo decoração para ambientes. No Condomínio Rio 2, por exemplo, na Barra da Tijuca, o coletivo desenvolveu uma ação recentemente na qual os próprios moradores ajudaram a pintar um dos muros do condomínio.
“O síndico entrou em contato com a gente para marcar e criamos uma ação de Dia das Crianças em que elas também participaram. Foram mais de 300 crianças envolvidas e o painel ficou lindo, exposto no condomínio. Foi bacana porque elas se sentiram parte da obra”, comenta ele, que é grafiteiro há mais de dez anos.
“Além de salvar vidas por meio da arte, o grafite toma um espaço muito grande em muitas cidades. Representa um papel muito importante de revitalizar os lugares. O Beco do Batman, em São Paulo, por exemplo, era apenas um bairro e, hoje, tornou-se uma atração por conta das obras, movimentando o turismo e a economia local”, exemplifica o artista.
Já em Belo Horizonte, no Condomínio Veredas Vistas do Horizonte, de 164 unidades, administrado pela APSA, um painel foi erguido em uma das paredes da fachada para evitar pichações, em 2017. A ideia partiu do síndico da época, que viu na arte urbana uma forma de prevenir tais intervenções. A ideia foi levada para discussão em assembleia, e aprovada por 23 votos favoráveis e 4 votos contrários.
Assim, o painel pintado pelo coletivo Minas de Minas foi concluído em março de 2017. De acordo com o atual síndico, Estevam Santos, os moradores aprovaram com louvor a ideia.
“Hoje, o centro de BH é recheado de painéis pintados nos prédios, o projeto Cura, o que reforça a aprovação da cidade com as obras urbanas. Por aqui, a aceitação foi excelente, alguns moradores na época até participaram do projeto. Até o momento, não houve reclamação, pelo contrário, sempre foi bem aprovado e não há nenhuma dificuldade administrativa”, conta o síndico.
O caso do painel que foi parar na Justiça
Com 1.365 metros quadrados, a obra da artista Criola, que mostra uma mulher negra com uma cobra atravessando o ventre e um útero, na lateral do Condomínio Chiquito Lopes, no centro de BH, virou caso de Justiça. A obra foi desenvolvida em outubro de 2018, também dentro das atividades do projeto Cura, o Festival Circuito Urbano de Arte, que funciona em esquema de parceria e que oferece reparos necessários em troca da possibilidade de serem realizadas pinturas em grandes paredes do centro de BH, com o objetivo de criar o único mirante de arte urbana do mundo.
No caso do Condomínio Chiquito Lopes, o prédio precisava de reparos na fachada e autorizou a realização da pintura em uma das paredes. As obras foram autorizadas pelo conselho consultivo, composto por seis condôminos. Como era um reparo necessário, não haveria custos para o condomínio e não seria necessário convocar uma assembleia com todos os condôminos. Foi assinado um contrato entre o condomínio e o festival para a realização das obras e manutenção da pintura por cinco anos.
Segundo informações do Cura, posteriormente, aconteceu uma assembleia e os 55 condôminos votaram a favor do projeto. Apenas um foi contra. Anos depois, esse mesmo condômino entrou na Justiça com um pedido de liminar para paralisar a obra. De acordo com o festival, ele utilizou como justificativa parte da Lei 4.591/1964 e que já foi até revogada no Código Civil de 2002. Segundo a lei, a realização da obra precisaria da aprovação unânime de todos os condôminos. O juiz da 22ª vara cível da comarca de Belo Horizonte negou a liminar e o mural pôde ser finalizado. Mas o processo ainda continua aberto aguardando a sentença há mais de um ano. No momento, há ainda um abaixo-assinado promovido pelo CURA para que a obra não seja apagada.
Projeto em parceria com artistas locais revitaliza fachada de fábrica em Campos
Para aproveitar as paredes de 120 metros quadrados da sua fábrica e para acabar com um problema recorrente: a utilização da faixa para acúmulo de lixo, a Corbion, empresa localizada em Campos dos Goytacazes, estado do Rio de Janeiro, desenvolveu um projeto em parceria com artistas da região. Assim, a empresa convocou grafiteiros locais para criar um painel temático: “Mural Mata Atlântica Vive”.
“Restando apenas 12% da cobertura original, tendo mais de 200 espécies ameaçadas de extinção e a falta de preservação da cultura indígena da nossa região, foi o nosso ponto de partida para o desenvolvimento deste trabalho. Os artistas optaram por representar de forma individual um elemento da Mata Atlântica e juntos fizeram a composição dos elementos secundários”, explica o grafiteiro e diretor de arte Andinho, quem conduziu o projeto ao lado Jhony Misterbod (Campos-RJ), Bia Vieira (Cabo Frio-RJ) e Cristiano Ousado (Cabo Frio-RJ).
“Seja qual for o tema, os murais e painéis de grafite interagem profundamente com a cidade e com a comunidade como um todo”, afirma.
Para o gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente da Corbion, Fernando Costa, a criação do painel artístico só poderia acontecer se fosse desenvolvido por artistas da região. “Precisava acontecer com o envolvimento de artistas locais que também acreditam na transformação que arte e sustentabilidade promovem”, conclui.
Por: Mario Camelo