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Pilhas e baterias no lugar certo

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 23/03/2014
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Aline Duraes

Se seu celular quebra, o que você faz com a bateria do aparelho? E se as pilhas de controles remotos, rádios-relógios e câmeras fotográficas não funcionam mais, para onde elas vão? Se a resposta para as duas perguntas é o lixo, não se sinta culpado. Você não é o único. Todos os anos, mais de um bilhão de pilhas e baterias são produzidas no Brasil. Grande parte delas, depois de inutilizadas, tem como destino certo o lixo comum, sem nenhum tratamento técnico específico.

Poucas pessoas sabem, mas esses artefatos exigem um descarte diferenciado, já que podem agredir — e muito — o meio ambiente e a saúde humana. Por isso, é cada vez mais urgente que empresas — e por que não condomínios — comecem a empreender campanhas de coleta seletiva de pilhas e baterias entre funcionários e condôminos.

Apesar de a causa ser nobre, a reciclagem desses objetos ainda é insipiente no Brasil. Segundo dados de 2008, somente 1% das pilhas descartadas são recicladas no país. A falta de informação ainda é o principal entrave a programas de reciclagem mais abrangentes.

Por que reciclar?
Aparentemente inofensivas, pilhas e baterias tem em sua composição pesados elementos químicos, entre eles níquel, cádmio, chumbo, zinco e mercúrio. Ao serem lançadas em lixo comum, intoxicam rios, solo, plantas, animais e, conseqüentemente, o ser humano que está em contato e se alimenta desses recursos naturais.

Para se ter uma noção, cada pilha lançada ao meio ambiente pode contaminar o solo por 50 anos. O mercúrio que ela contém causa, entre outras coisas, perda de memória e problemas no sistema respiratório em seres humanos. Já o chumbo acarreta distúrbios digestivos e tremores musculares. O cádmio, por sua vez, é um elemento cancerígeno.

Esses dados mostram a importância de ampliar a vida útil desses materiais, reaproveitando-os em outros produtos e, assim, evitando a contaminação pelo descarte inadequado. A preocupação é tamanha que, desde o ano 2000, a resolução 257 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) determina que todas as pilhas produzidas no Brasil tenham quantidades mínimas ou quase nulas dos metais pesados mais poluidores.

A lei, no entanto, não atinge completamente o seu objetivo. Isso porque mais de 30% das pilhas e baterias utilizadas no país não respeitam as regras do Conama por serem ilegais, fruto de contrabando. Isso significa que cerca de 300 milhões desses artefatos continuam representando um risco ao meio ambiente e aos brasileiros. “Milhões de pilhas ainda são jogadas nos lixões e se transformam em uma grande contaminação”, alerta Andrés Vernet Vives, presidente da Milênio Verde, organização não-governamental fundada em 2009 com a missão de incentivar a reciclagem do lixo e estimular a sociedade a criar novos hábitos e serem co-responsáveis pela solução dos problemas ambientais.

O processo de reciclagem
Se você é daqueles que adora admirar os fogos de artifício na passagem de ano, deve agradecer, em parte, à reciclagem de pilhas e baterias. Quando recicladas, elas viram pigmentos que dão cores a vidros, tintas, pisos e, também, a fogos de artifício.

O processo de reciclagem é complexo e, em função disso, falta quem o realize no Brasil. A Suzaquim, companhia de São Paulo, é a única empresa que trabalha com isso no país atualmente. Segundo representantes da empresa,.a cobertura plástica que reveste os itens é retirada, lavada e encaminhada a recicladores especializados. A parte metálica restante vai para uma máquina onde será triturada até virar pó que, posteriormente, é prensado e seco. Depois disso, o produto passa por um forno de alta temperatura e se transforma em um óxido metálico inofensivo, que será vendido como matéria-prima para a indústria.

Promova essa ideia no condomínio
Antes de chegarem à reciclagem, pilhas e baterias devem ser coletadas em separado dos demais materiais que, normalmente, compõem o lixo doméstico. De acordo com determinação do Conama, elas precisam ser “entregues pelos usuários aos estabelecimentos que as comercializam ou à rede de assistência técnica autorizada pelas respectivas indústrias, para repasse aos fabricantes ou importadores, para que estes adotem diretamente, ou por meio de terceiros, os procedimentos de reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição”.

O processo de coleta seletiva é mais simples do que o de outros produtos. “As grandes cidades estão se tornando, cada vez mais, verticalizadas, e o condomínio se transforma em uma grande família. O síndico pode implantar a coleta seletiva e, além de unir mais os condôminos, estará contribuindo para a melhoria da cidade e do meio ambiente”, pontua Andrés Vives, da Milênio Verde.

O primeiro passo é descobrir o local mais próximo ao condomínio que receba as pilhas e baterias. Feito isso, basta instalar coletores nas áreas comuns da unidade e comunicar a iniciativa aos condôminos. “As campanhas de engajamento são diversas e vão da criatividade de cada um. Temos o caso de um prédio cujo síndico era muito preocupado com esse assunto e destacou um grupo de crianças do lugar para entregar a circular sobre o início da coleta das pilhas e baterias. Junto à carta, havia um botão de rosas. Foi surpreendente a rápida adesão dos moradores”, exemplifica Andrés.

Na hora de escolher os coletores que armazenarão as pilhas, é necessário atenção. Recomenda-se que eles sejam de plástico, duráveis e resistentes a pequenos impactos. Contêineres metálicos não são adequados, pois podem provocar a formação de curto circuitos e vazamentos precoces da pasta eletrolítica, o que dificulta a manipulação do material.

Comprados os recipientes que armazenarão as pilhas e baterias, chegou a hora de rotulá-los. “No nosso projeto, utilizamos uma lixeira de pia na cor laranja com um rótulo adesivo indicando que se destina à coleta de pilhas. Nesta lixeira, colocamos um suporte atrás para que seja fixada na parede. Para edifício de médio porte, é o tamanho ideal. Para edifícios maiores, há no mercado diversos modelos com preços variados”, compartilha o presidente da Milênio Verde.

Para facilitar o acesso dos condôminos, os coletores devem ser afixados nas áreas comuns do condomínio. Um bom lugar é o corredor da garagem. “Outra sugestão é que o condomínio destaque uma pessoa que ficará responsável pela tarefa de levar as pilhas até o local de descarte. Pode ser o zelador. Quando for recolher o material, o profissional deve sempre usar um saco plástico nas mãos para evitar contaminação, pois, às vezes, pode ter alguma pilha vazando”, explica Andrés.

O condomínio Alto Leblon, de 192 unidades, seguiu à risca a cartilha de boas práticas de coleta de pilhas e baterias. Há seis anos, a gestão passou a adotar medidas sustentáveis de apoio ao meio ambiente, entre elas a coleta seletiva de lixo e o encaminhamento de pilhas e baterias para reciclagem. “A decisão foi uma questão de gestão. Queríamos estar mais alinhados com as práticas sustentáveis”, explica Betânia Cruz.

Hoje, o condomínio já conta com um contêiner para coleta de pilhas e baterias que fica próximo à saída da garagem. Mensalmente, um funcionário da Comlurb recolhe o material que se acumula ali. “Assim que implantamos a ideia, foi feita uma circular pedindo ajuda dos moradores para que eles participassem da campanha. De imediato, notamos que a adesão foi total. Todos perceberam que ficou mais fácil tratar o lixo separadamente e coletar pilhas e baterias de forma específica”, salienta Betânia.

Combata a falta de informação
É consenso entre os especialistas em meio ambiente: a reciclagem de pilhas e baterias ainda não é realidade nas empresas e residências brasileiras por falta de informação. Só depois de entenderem os malefícios do descarte comum desses objetos e de serem apresentadas a alternativas sustentáveis de reciclagem, elas poderão adotar as práticas e cobrar de autoridades e instituições que façam o mesmo.

A boa notícia é que, vencida a desinformação, a adesão de condôminos à iniciativa é grande. “Nos edifícios em que implantamos o nosso projeto, a ideia foi um sucesso. É só colocar coletores próximos aos moradores. Recomendo aos síndicos fazerem o teste. É como funciona na Europa, onde os índices de reciclagem são altos, lá existem coletores em cada esquina e assim todos colaboram”, finaliza Andrés.

 

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