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Por Cidades e Serviços
Última atualização: 07/09/2014
ABC do Condomínio, Edição 216 Set/Out 2014, Edições
Texto: Aline Durães
A cena é comum e provável de já ter acontecido no seu condomínio ou em algum próximo: o condômino chega de carro e aciona o portão eletrônico via controle remoto. Ao ingressar na garagem, ele se surpreende quando o portão fecha repentinamente e danifica o veículo. Os desdobramentos do episódio são vários e, em geral, atingem em cheio o gestor condominial, seja porque caberá a ele apurar de quem foi a responsabilidade pelo incidente, seja porque terá de providenciar reparos e consertos para o equipamento de acesso.
Recentemente, Fátima Vieira passou por um problema parecido no Solar Marquês de Valença, na Tijuca, da qual é síndica há oito anos. Ao perceber a presença do veículo de um dos condôminos se aproximando da garagem, o porteiro acionou o controle do portão. Como o equipamento demorou a abrir, o funcionário clicou novamente para acelerar o funcionamento, mas o portão fechou e imprensou o veículo. “Alguns condôminos ficam muito impacientes pela demora do portão. Isso provavelmente teve influência no erro do funcionário”, afirma Fátima.
Os portões automáticos são itens importantes que se popularizaram por proporcionarem, ao mesmo tempo, mais segurança e maior autonomia aos condomínios. São especialmente convenientes para os edifícios de pequeno porte, que não dispõem de porteiros para abrir os acessos da garagem. Apesar de necessários, eles costumam ser protagonistas de problemas frequentes. “Por ser um equipamento mecânico e elétrico, ele está sujeito a desgastes e a surtos de energia elétrica. Isso acontece principalmente quando o condomínio não tem o hábito de realizar a manutenção mensal preventiva”, explica Leandro Pereira Barros, diretor comercial de uma empresa especializada em serviços de controle de acesso.
Qual o portão ideal?
Existem diversos tipos de portões automáticos disponíveis no mercado. Cada um deles com estrutura e forma de funcionamento diferenciadas. O pivotante, por exemplo, possui pivots que sustentam seu eixo central e vertical, fazendo o portão girar. Já o basculante é um tipo de acesso que abre para cima, com um eixo horizontal através de polias e guias laterais. Há ainda o deslizante, com abertura lateral.
Os modelos possuem prós e contras de funcionamento e, segundo os especialistas, não há como prever qual o mais indicado sem, antes, uma análise minuciosa. O ideal, então, é convidar um profissional ou empresa qualificada para avaliar o condomínio e indicar, com base em sua experiência, qual modelo será a solução mais segura e com menor custo. “Todo motor de portão automático é feito em função do seu ciclo de uso. Se o condomínio instalar o motor correto, não terá problemas, ainda que o volume de moradores seja alto e demande uma maior utilização do portão. Agora, se economizar colocando um motor de um ciclo menor, ocorrerão problemas”, opina Leandro Barros.
Mais segurança e menos dor de cabeça
Seja qual for o modelo de portão automático, algumas dicas são universais e ajudam a minimizar os problemas causados pela má conservação ou uso incorreto dos acessos.
Para evitar, por exemplo, acidentes com carros como o citado no início desta matéria, é necessário adquirir o chamado “kit anti-esmagamento”, com sensores de presença que impedem o portão de fechar enquanto algum objeto estiver em seu percurso.
Instalar câmeras em áreas próximas ao portão permite o maior controle do tráfego de pedestres e veículos na região pelos funcionários. Da mesma forma, o condomínio pode criar um recuo entre o portão e a calçada ou sinalizar bem a área para chamar a atenção dos transeuntes e evitar acidentes.
Duas dicas simples afastam o perigo de panes, garantindo maior vida útil aos portões. A primeira é proteger a estrutura da água. Na hora de lavar a garagem, os funcionários devem ficar atentos para que os jatos do líquido fiquem bem longe do acesso. A segunda dica consiste em limpar periodicamente o portão, utilizando apenas um pano umedecido. Assim, a estrutura não enferruja e deixa de exigir tanta força do motor.
No processo de garantir mais segurança ao uso de portões automáticos, a participação do condômino é fundamental. Por isso, o gestor condominial deve orientar seus vizinhos a adotarem algumas medidas básicas, como somente acionar o controle remoto depois de se certificar que não há crianças ou animais domésticos no caminho e evitar o ingresso na garagem imediatamente após outro carro. Nestes casos, o ideal é aguardar o fechamento do portão para tornar a abri-lo.
No condomínio Solar Marquês de Valença, a saída para engajar os condôminos na segurança dos acessos foi compartilhar com eles algumas responsabilidades. Se, antes, apenas os funcionários acionavam o portão, hoje, cada morador tem um controle próprio. “Muitas vezes, é cômodo para o morador culpar a portaria por todos os problemas envolvendo acesso. Por isso, quisemos dividir a responsabilidade e, agora, cabe a eles abrir e fechar a garagem”, explica Fátima Vieira.
Manutenção periódica
Por ter o uso muito demandado no dia a dia condominial, os portões eletrônicos estão muito suscetíveis a defeitos que, se não contornados em tempo, podem prejudicar a rotina. Não são raras, por exemplo, as reclamações dos condôminos quando precisam ingressar com seus veículos na garagem e percebem que, mais uma vez, o acesso não está disponível por controle remoto.
Um dos meios de prevenir as falhas constantes dos portões automáticos é investir na manutenção periódica. A revisão regular aumenta a durabilidade e a vida útil dessas estruturas. “Independentemente do problema no equipamento, ele pode ser previsto com a visita periódica de uma empresa habilitada. Por isso, a manutenção é importante”, afirma Leandro Barros.
Alguns condomínios optam por firmar um contrato de manutenção. Além de cobrir a conservação periódica dos itens, esse contrato costuma ser importante para resolver problemas imprevistos e casos de emergência. “Quando você tem contrato com uma empresa, ela terá um compromisso com o condomínio, atendendo mais rápido em caso de algum acidente. Importante frisar que os contratos devem ser realizados dentro de uma razoabilidade de mercado como todo acordo entre duas partes”, pontua Leandro.
De quem é a responsabilidade?
O síndico adotou todas as medidas de segurança, mas, ainda assim, um incidente envolvendo o portão automático ocorreu. E agora? De quem é a responsabilidade? Saber quais os direitos e deveres do condomínio nesses casos é uma das dúvidas mais comuns dos administradores condominiais.
Segundo especialistas, cada caso deve ser analisado separadamente. A responsabilidade é do motorista, por exemplo, quando é ele quem acelera o carro para aproveitar o portão aberto por ocasião da entrada de outro veículo antes. Neste caso, o condômino terá de pagar o conserto do próprio carro, além dos danos provocados ao portão.
O condomínio terá que arcar com eventuais prejuízos, entretanto, se, sem motivo algum, o equipamento, depois de acionado corretamente pelo funcionário ou pelo morador, fechar sobre o veículo. Se a falha for provocada por mau uso ou imperícia de algum colaborador do condomínio também caberá ao condomínio ressarcir o condômino lesado e providenciar reparos para o equipamento.
A questão é que, nem sempre, as finanças do condomínio estão preparadas para os gastos que esses consertos exigem. Para não ser pego de surpresa e deixar a conta em déficit, o síndico pode contratar um seguro específico para cobrir acidentes em portões eletrônicos. A apólice viabiliza o reembolso ao condomínio por danos materiais causados a veículos de terceiros, tenham eles sido provocados por erro do equipamento ou por falha humana. “Nunca usamos o seguro aqui, mas sempre pagamos. É como um plano de saúde: você paga para ter segurança, mas esperando nunca ter de usar”, finaliza a síndica Fátima Vieira.