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Quando “felicidade” é sinônimo de “cuidado”

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 29/06/2023
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Bianca Damasceno
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A cada ano que passa, parece que a fama jubilosa do povo brasileiro vai se esvaindo e deixando clara a verdade: somos um país recalcado e cheio de ressentimentos.

O último Relatório Mundial da Felicidade, das Organizações das Nações Unidas/ONU [World Happiness Report], estudo anual que classifica a felicidade global em mais de 150 nações ao redor do planeta, divulgado no dia 20 de março de 2023, aponta que despencamos da 38ª para a 49ª posição do ranking (queda de 11 posições) entre os países mais felizes do mundo.

Congratulações à Finlândia, que segue na 1ª posição por 6 anos consecutivos. O pódio finlandês vem acompanhado por Dinamarca e Islândia, respectivamente (SIMONETTI, 03/2023)

O que se mede na classificação?

O World Happiness Report elenca o seu ranking questionando a percepção dos participantes a respeito dos seguintes critérios: apoio social, renda per capita, vida saudável, liberdades, sensação de generosidade e ausência de corrupção. A alta confiança da população nesses fatores é o que está em jogo, portanto, para elevar ou diminuir o grau de felicidade dos pesquisados. No caso da Finlândia, o professor Frank Martela, da Universidade de Aalto, aponta a capacidade do país de provocar nos seus cidadãos o reconhecimento de “serem cuidados”.

Como exemplo, ele diz que os “benefícios de desemprego relativamente generosos e a assistência médica quase gratuita ajudam a mitigar as fontes de infelicidade, garantindo que haja menos pessoas insatisfeitas com suas vidas” (Idem). Outro modelo dado pela campeã do ranking, segundo a professora Marketta Kyttä, também da Universidade de Aalto, é o seu planejamento urbano, intimamente conectado com sustentabilidade e senso de comunidade (Idem). Não estamos na Finlândia… e por aqui, seguimos tristes e aflitos.

Matéria da BBC News, apresentada no G1 e assinada por Rone Carvalho, revela que “de acordo com o último mapeamento global de transtornos mentais, realizado pela OMS, o Brasil possui a população com a maior prevalência de transtornos de ansiedade do mundo – aproximadamente 9,3% dos brasileiros sofrem de ansiedade patológica” (CARVALHO, 02/2023)

Os motivos que levam a esse nível de adoecimento emocional e psicológico estão relacionados com situações de desamparo como, na opinião de especialistas consultados pela BBC Brasil, o alto índice de desemprego, a instabilidade econômica e a falta de segurança pública. “O Brasil tem uma alta taxa de violência, que faz muitas
pessoas saírem de casa com o receio de serem assaltadas. Receio que gera ansiedade”, aponta Rafael Boechat, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília/UnB (Idem).

Quando falamos das ameaças que rondam os brasileiros, empurrando-os para a zona das patologias neuronais devido a tantas vulnerabilidades, como as apresentadas acima, precisamos lembrar que essa realidade está associada, principalmente e em grande escala, à massa humana amontoada nos principais centros do
Brasil. De acordo com o Censo Demográfico IBGE/20203, 76% de nossa população (com destaque para o Sudeste e o percentual de 87%) habitam os espaços urbanos do país.

Somos, por conseguinte, profundamente afetados pelas condições de nossas cidades: poluição de toda forma, barulho, violência, congestionamentos de vias, precariedade de locomoção pública, falta de saneamento, má qualidade dos serviços em geral… O cotidiano de quem depende das cidades brasileiras começa na necessidade, passa pela insistência e acaba na tristeza ou na ansiedade.

É para lá de urgente que a pauta dos agentes decisórios e influenciadores da sociedade leve em conta os impactos dos aspectos socioambientais e econômicos sobre as subjetividades. Chega de letargia, procrastinação e falsas promessas. As nossas cidades precisam de uma mudança radical. No caso do Rio de Janeiro, queremos não ter que abrir mão de cantar com Fernanda Abreu, Fausto Fawcet e Laufer – “Rio 40 graus, cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos”… Atualmente, com a falta de modernização de nosso projeto arquitetônico-urbanístico, e sem medidas sérias de resolução de tanta mazela, já estamos batendo 50 graus com facilidade, a beleza vem perdendo para o caos e o purgatório quase sendo substituído pelo inferno.

Basta! Que todas as cidades do país cantem suas maravilhas, que a população possa se sentir cuidada e que nosso lugar no ranking da ONU pare de despencar quando o assunto for a Felicidade!

 

Por: Bianca Damasceno – Sócia Gerente da BSDH, Organização e comunicação de ideias

Referências utilizadas no texto desta Coluna
1 SIMONETTI, Giovanna. Finlândia é eleita país mais feliz do mundo; Brasil está em 49º. Forbes. Disponível em
https://forbes.com.br/forbeslife/2023/03/entre-os-paises-mais-felizes-do-mundo-em-2023-brasil-esta-em-49o/. De
20.03.2023. consultado em 04.04.2023.
2 CARVALHO, Rone. Por que o Brasil tem a população mais ansiosa do mundo? BBC News/G1. Disponível em
https://g1.globo.com/saude/noticia/2023/02/27/por-que-o-brasil-tem-a-populacao-mais-ansiosa-do-mundo.ghtml. De
27/02/2023. Consultado em 05.04.2023.
3 CENSO DEMOGRÁFICO DE 2020/IBGE. Disponível em https://saudeamanha.fiocruz.br/censo

 

 

 

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