A professora de educação física Mitzi Menezes ama acordar cedo e iniciar o dia em um passeio de bike, com direito a ventinho fresco no rosto e até um banho de cachoeira pelo caminho. Ela mora na Cidade Maravilhosa, metrópole que esbanja belezas naturais com suas florestas, montanhas, trilhas, praias, baías, ilhas e lagoas. Por isso, já tem em sua rotina esse revigorante pedal matutino. “Quando volto, é o momento de tomar café com o meu marido, que não é de acordar muito cedo”, conta. Roberto também curte pedalar, mas não na frequência e na intensidade de Mitzi.
Para essa carioca da gema, moradora da Lagoa – bairro que fica em torno da bela Lagoa Rodrigo de Freitas –, não há tempo ruim. Faça chuva ou faça sol, a bicicleta é o melhor meio de transporte. “Tenho a bike como uma das maiores parceiras, porque conto com ela para quase tudo. Até mesmo para ir ao banco, nos momentos de lazer e em compromissos sociais. Quando preciso sair, penso de cara na bicicleta, depois vejo se há necessidade de outro modal”. Mitzi lembra com saudade dos verões em que seguia pedalando rumo ao Arpoador, para assistir a eventos e shows memoráveis. “É muito boa a sensação de autonomia e liberdade que a bicicleta traz”.
Nessa cidade repleta de cenários paradisíacos, mas que sofre com a desigualdade social e os problemas estruturais que assolam todo o país, Mitzi faz a sua parte. É professora da rede municipal, mãe, avó e cidadã consciente e responsável. Com a bicicleta – símbolo da mobilidade saudável, sustentável e silenciosa – ela dá exemplo no seu dia a dia. Sai diariamente com uma sacola de pano que se desdobra para acolher verduras e frutas do hortifruti ou da feira mais próxima. Tem prazer em voltar deslizando pelas ruas com a cestinha da bicicleta carregada de compras e ama ainda mais levar o neto Lucca, de três anos, na garupa, a caminho da creche em Ipanema. “Ele vai na cadeirinha e adora esses passeios”.
Bem pequena ainda, Mitzi já se encantava ao ver o pai saindo de bicicleta pela zona norte carioca, onde morava com a família. Logo aprendeu a se equilibrar sobre as duas rodas e passou a pedalar com os amigos. “Era tudo mais fácil naquela época, os sábados e domingos eram passados tranquilamente na rua, com a criançada do bairro”.
Hoje, nem tanto. Muita coisa mudou nessas décadas. Mitzi, contudo, segue firme com seu propósito de lutar por uma cidade mais inclusiva, segura e acolhedora. “Faltam ciclovias e muitas das que existem estão apagadas e sem manutenção”, ela observa. Também o vaivém dos entregadores ciclistas, que estão sempre correndo para dar conta de suas funções, preocupa a professora, pois eles têm sido vítimas de acidentes nas ruas. “Além do investimento em ciclovias, é preciso que os motoristas respeitem os ciclistas, elos mais frágeis, como os pedestres. Manter distância e reduzir a velocidade nas ultrapassagens é fundamental”.
Mitzi não se arrisca a pegar avenidas e túneis com sua bicicleta. Prefere vias mais tranquilas, lugares nos quais possa pedalar com segurança e sossego. Gosta mesmo é de descobrir recantos e passeios perto da natureza, com trilhas e até subidas íngremes. Os anos e treinos na magrela modelaram seu corpo e sua alma: é chegada a aventuras e adora pedalar pelo Parque Nacional da Tijuca, passando pela incrível Vista Chinesa, um templo chinês a 380 metros de altura, no alto do parque, de onde se vê a Lagoa, o Corcovado, o Pão de Açúcar e o Morro Dois Irmãos, entre outros cartões-postais do Rio.
Ela também costuma visitar de bike o Jardim Botânico e sempre que pode pedala com o marido até a Praia do Arpoador, onde as pessoas se reúnem para assistir ao pôr-do-sol de um dos picos mais bonitos do Rio de Janeiro. “Voltar da praia de bicicleta, depois do banho de mar, é maravilhoso!”
Quando a pandemia estiver bem longe, ela pretende fazer cicloviagens pelo Brasil, como o roteiro ciclístico na Serra Gaúcha, parando em fazendas e vinícolas. Essas férias estão na sua lista de desejos. Em 2008, experimentou uma liberdade deliciosa ao pedalar em Lausanne, na Suíça. Hospedada na casa de amigos, encontrou uma bicicleta na garagem. “Era um modelo masculino e até desconfortável para mim, mas todo dia eu saía sozinha, para conhecer a bonita paisagem da região”, relembra.
Mitzi – esta libriana que se diz “comedida”, olha só –, realmente não aparenta seus 63 anos. Talvez porque leve em sua garupa a alegria, a flexibilidade, a energia e a curiosidade oriundas das pedaladas e dos horizontes vislumbrados à luz do dia.
E ela realmente não para. Há alguns meses, começou a fazer natação no mar. Mesmo nos dias mais frios do inverno carioca, acorda cedo para mergulhar e nadar no Posto 6, em Copacabana. E como chega lá? De bike, é claro!
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