Como o mercado imobiliário se adaptou aos novos modelos de trabalho?
Por Cidades e Serviços
Última atualização: 14/08/2023
Atualidade
Pode não parecer, mas já se passaram três anos desde o início da pandemia de Covid-19. De lá para cá, vivemos muitas coisas. De confinamento social extremamente restritivo e incertezas na economia a algumas oportunidades reais em diversos setores. O mercado imobiliário se mostrou resiliente mais uma vez e o retorno dos profissionais ao escritório segue consolidando esta retomada.
Antes da pandemia, morar perto do trabalho era uma das prioridades da maioria dos brasileiros na hora de comprar um imóvel. Mas após a pandemia, o mundo precisou se adaptar ao “novo normal”, que se apresenta em novos modelos de trabalho como o presencial, o híbrido e o home office. Os modelos adotados pelas empresas movimentaram bastante a rotina do setor imobiliário e, junto a eles, vieram uma série de mudanças e tendências no mercado. Vamos conferir como essas mudanças afetaram os imóveis comerciais e residenciais.
Segundo um artigo da Exame¹, enquanto os escritórios nos Estados Unidos ainda permanecem ocupados pela metade, espaços corporativos na Europa e Ásia voltaram a ficar agitados. Eles apresentam níveis de ocupação dos escritórios entre 70% e 110% se comparados com os níveis pré-pandêmicos. Isso significa que em alguns casos os escritórios estão sendo mais utilizados do que em 2019.
Ao mesmo tempo em que a Europa e a Ásia estão nesse ritmo, observa-se que os americanos adotaram com maior regularidade o modelo híbrido, aquele em que parte da jornada é realizada no escritório e outra parte no home office. A combinação de fatores, como maiores distâncias para se chegar ao escritório, menores níveis de desemprego e maior conforto ao se trabalhar de casa pode explicar essa divergência nos hábitos de retomada aos escritórios. E no Brasil, como as empresas estão se comportando?
Segundo o mesmo artigo, ao menos 70% dos edifícios corporativos apresentaram um retorno ao presencial igual ou superior a 50% na cidade de São Paulo. Enquanto algumas empresas já abraçaram o trabalho remoto, outras ainda resistem e enfrentam os desafios dos escritórios vazios. Apesar do debate sobre os níveis de ocupação desses espaços, especialistas afirmam que o número nunca mais voltará ao que era antes de 2020 e esse pode ser o início de uma crise imobiliária no que diz respeito aos imóveis comerciais.
Thiago Patrício, administrador do edifício comercial Vista Guanabara, localizado na zona portuária do Rio de Janeiro, afirma que desde o início da pandemia, nove dos dezessete andares do prédio já foram devolvidos por empresas que alugavam o espaço. “Alguns contratos de aluguel foram rescindidos e as empresas pagaram multas, outros foram renegociados, mas grande parte das empresas que tinham seus escritórios aqui, optaram pelo modelo híbrido ou home office para seus funcionários”.
A realidade do Vista Guanabara hoje é comum a muitos outros prédios comerciais, especialmente nos grandes centros urbanos onde estão localizadas as sedes de grandes empresas. Com menor necessidade de espaços de escritório em regiões comerciais das grandes cidades, a tendência é que a quantidade de imóveis vagos aumente e que o preço dos aluguéis entre em queda.
“Temos negociado bastante o valor dos aluguéis, principalmente dos espaços maiores, em que a demanda tem sido baixa. As empresas que hoje vêm nos procurar com o interesse de alugar algum espaço, não se interessam mais por andares inteiros e sim por metade ou até um quarto deles. As menores e com perfil de startups já adotaram o modelo híbrido e acabam optando por pequenos espaços com baias e até algumas salas de reuniões”, finaliza Thiago.
Impactos do home office no mercado imobiliário
O impacto do home office no mercado imobiliário brasileiro pode ser notado de diversas formas e o modelo remoto de trabalho já mostrou que veio para ficar. O aumento do uso do home office durante a pandemia rompeu com a resistência que muitas empresas tinham com esse tipo de modelo de trabalho. Analistas de mercado afirmam que muitas devem mantê-lo, ao menos em parte.
Segundo um levantamento realizado pela Revelo², 86% dos colaboradores entrevistados desejam permanecer no regime remoto. Especialistas afirmam que a tendência para os próximos anos é um regime híbrido de trabalho, com profissionais que trabalham remotamente e outros de forma presencial. O home office mudou a forma como as pessoas se relacionam com o trabalho e com os ambientes da casa – já que o mesmo ambiente de descanso tornou-se também de trabalho.
Em 2020, a maior capital do país, São Paulo, teve cerca de 300 mil metros quadrados devolvidos. Os dados são da consultoria Buildings³ e corresponde aos imóveis comerciais do estado. A taxa de vacância – índice que calcula o percentual de imóveis vazios – disparou 17,29%, no 4° trimestre do último ano, o que reflete as consequências diretas do home office. Segundo especialistas, 50% dos imóveis devolvidos são de empresas que se adaptam ao home office. Dados do IBGE apontam que cerca de 9,1% da população empregada brasileira segue trabalhando de forma remota.
Diante deste cenário, as pessoas não vão mais escolher imóveis por serem perto do trabalho, mas sim pelos atributos que aquele empreendimento conta para somar à qualidade de vida do comprador. A procura por espaços maiores e espaços coworking cresceu na pandemia, o que afirma ainda mais o argumento de que o home office é uma tendência que veio para ficar.
A estrutura que o empreendimento tem a oferecer é fundamental neste novo cenário. Morar bem irá além da localização privilegiada. Espaços modernos, ambientes de uso comum e os benefícios que a região tem a oferecer são fatores que hoje são considerados na decisão de compra.
O atual bom desempenho do mercado de escritórios e lajes corporativas sinaliza que a economia está em processo de recuperação. Do ponto de vista de investimento no setor, é importante analisar cuidadosamente antes de tomar qualquer decisão. Seja uma sala comercial, seja uma laje corporativa, espaço de coworking ou imóvel adaptado para o home office, o investidor deve ter sempre em mente que a localização é um componente para maior ou menor rentabilidade. É preciso ainda considerar intervenções urbanas que podem tornar uma região um novo foco de atenção.
Compreender este contexto de mudança é o desafio dos arquitetos na idealização dos novos projetos comerciais, dos incorporadores na definição dos seus produtos, das corretoras na elaboração das estratégias comerciais e das agências de comunicação com o mercado. Mas é também um desafio para os empresários que compram ou alugam esses espaços.
Por: Juliana Marques