A venda de bikes disparou no Brasil desde o ano passado e segue em alta. De acordo com a Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike), após um crescimento de mais de cem por cento em 2020 com relação a 2019, o primeiro semestre deste ano registrou um salto de 34,17% em comparação ao mesmo período do ano passado. Com isso, os bicicletários passaram a ser uma demanda ainda mais importante em condomínios, sejam eles residenciais ou empresariais.
De acordo com a empresária Christiane Martins, sócia da Cicloparking Bicicletários, empresa especializada no ramo sediada no Rio de Janeiro, a procura pela instalação de novos projetos ou a ampliação de já existentes também vem crescendo. “A pandemia do coronavírus atingiu as nossas vidas de todos os modos e, na questão da mobilidade, a bicicleta se mostrou uma opção de transporte saudável, segura, rápida e eficiente para evitar aglomerações durante o transporte diário. Essa percepção refletiu no aumento de bicicletas nas ruas e, naturalmente, nos condomínios”, destaca.
O primeiro passo para instalar um bicicletário, segundo o passo a passo da empresa, é definir a quantidade de vagas que necessita, a partir de uma pesquisa ou contagem de bicicletas, ou a partir do número de apartamentos. Em seguida, é hora de identificar espaços seguros, acessíveis, de preferência cobertos, e que não atrapalhem a abertura de portas ou janelas, podendo ser uma parede na garagem, vãos entre pilastras, idealmente longe dos carros.
“Os modelos de bicicletário são divididos em dois grupos: verticais, em que as bicicletas são estacionadas suspensas em ganchos, e horizontais, comumente apoiadas no chão. Para cada grupo existem variações que atendem situações específicas, como bicicletário com cobertura para áreas externas, ou um design especial que atende diferentes tipos de bicicletas, como no caso das bikes elétricas”, diz Cristiane.
Ela destaca que o preço vai depender do tamanho, número de vagas e tipos de equipamentos utilizados para se formar o bicicletário. “Algumas pessoas tentam raciocinar em termos de valor por vaga ou por metro, mas não é assim que funciona. Costumo dizer que nosso serviço não é simplesmente colocar alguns suportes para prender a bicicleta. Um bicicletário é para ser mais do que isso, precisa de análise das informações preliminares, escolha de equipamentos adequados e uma boa distribuição dentro do espaço, favorecendo a circulação, visual e respeitando aspectos técnicos. Como ordem de grandeza, temos suportes de chão para cinco bicicletas a partir de R$458 e vertical de parede para oito bicicletas, a partir de R$1.198”, explica.
A BRWK – Obras e Facilities, empresa que faz retrofits (modernização) em edifícios corporativos, também vem recebendo mais pedidos de projetos envolvendo bicicletários nos últimos tempos. “Cresceu muito. Os prédios estão sendo retrofitados para atender essa nova expectativa do usuário. Praticamente todos os nossos projetos vêm com essa demanda. E quando não vêm, nós sugerimos que ele seja incorporado para atender a essa nova tendência na mobilidade urbana. O bicicletário é uma coisa muito barata e que agrega muito valor ao edifício. Você pode, por exemplo, estar usando duas ou três vagas (de carro) para isso. Vão ser 20 pessoas que vêm de bicicleta e ocupam duas vagas. É um investimento que se paga, seja pelo motivo de venda ou pelo objetivo final, de mais saúde e sustentabilidade”, destaca o engenheiro civil e empresário Victor Henrique Duque Castilho de Moraes, CEO da empresa.
No próprio edifício em que está localizada a sede da empresa, em São Paulo, foi instalado um bicicletário com 22 vagas. A ideia é expandi-lo em breve, já que o número de usuários vem crescendo. “A instalação do bicicletário no nosso edifício foi meio por osmose. As pessoas começaram a vir de bicicleta e encontraram os melhores lugares. Nós apenas adaptamos o lugar e demos mais cara de bicicletário. Depois, preparamos um ambiente para as pessoas tomarem banho, em casos de quem vem mais de longe. A experiência é positiva em todos os aspectos, seja na mobilidade urbana ou na saúde”, explica Victor.
Desafios e perspectivas para o setor
O mercado de bicicletas vive um momento especial no Brasil. De acordo com Daniel Guth, diretor-executivo da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike), o aumento nas vendas se deu basicamente porque a bicicleta se tornou uma espécie de símbolo no combate à pandemia, sendo inclusive indicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Ainda assim, é importante lembrar que o setor de bicicletas tem sido resiliente na pandemia. A procura continua alta e as vendas continuam crescendo, como os números mostram, apesar das dificuldades do próprio mercado de bicicleta em atender a demanda. A dificuldade vem principalmente por conta do desabastecimento da cadeia de suprimentos, como componentes para montagem”, destaca.
Os principais desafios, segundo ele, dizem respeito à cadeia de fornecimento de componentes para montagem e reposição, como câmbios, selins, pneus, rodas, manopla e freios. A demanda atual está acima da capacidade ofertada. “A nossa expectativa é de que isso deve ser normalizado em 2022. Infelizmente, em 2021 ainda vamos sofrer com esse descompasso entre a demanda e a capacidade de ofertar bicicletas e componentes no desejo de novos ciclistas”, afirma.
O primeiro semestre de 2021 registrou média de 34,17% de aumento nas vendas das bicicletas em comparação ao mesmo período do ano passado. O monitoramento da Aliança Brasil ouviu 180 lojistas de 20 estados diferentes, e com portes distintos.
De acordo com este levantamento, o pico das vendas ocorreu no primeiro trimestre do ano, em que o aumento registrado foi de 52% em relação a 2020. É importante pontuar que, no primeiro semestre do ano passado, o mercado de bicicletas foi bastante impactado por conta do fechamento das lojas nos meses de março e abril, pelo consumo represado das famílias e também pelo fechamento das fábricas na Ásia. Contudo, o mercado começou a se recuperar a partir de maio de 2020, tendo um pico de aumento nas vendas em julho do ano passado, com um crescimento de 118% sobre 2019.
Por: Gabriel Menezes