‘Cães-detetives’ identificam casos de Covid pelo cheiro com mais de 90% de precisão
Por Cidades e Serviços
Última atualização: 26/05/2021
Atualidade, Saúde
Conheça Marlow, Tala, Millie, Lexi, Kyp e Asher: os seis “cachorros-detetives” que, num estudo feito por um centro de pesquisa canina e duas universidades britânicas, conseguiram detectar o vírus da Covid-19 em centenas de amostras com mais de 90% de precisão. Além dos cachorros, o estudo também testou a capacidade de sensores detectarem o vírus.
A pesquisa ainda não está revisada por outros cientistas nem publicada em revista, mas foi divulgada na sexta-feira (21) e já está disponível on-line.
Nos testes, os cães com melhor desempenho detectaram o “cheiro” do vírus em amostras com até 94,3% de sensibilidade – o que significa um baixo risco de resultados negativos falsos – e até 92% de especificidade – o que significa um baixo risco de resultados positivos falsos.
Os resultados sugeriram que pessoas infectadas com o coronavírus, mesmo sem sintomas ou com sintomas leves, têm um cheiro distinto, que pode ser identificado por cachorros treinados e por sensores com alto grau de precisão.
Os cachorros foram capazes de detectar odores tanto em pessoas sem sintomas quanto naquelas com duas cepas diferentes do vírus, e com cargas virais altas e baixas (veja mais abaixo nesta reportagem os resultados de cada cachorrinho e detalhes sobre eles).
Para coletar os odores de cada pessoa, amostras foram coletadas a partir do hálito dos participantes com a ajuda de uma máscara facial descartável após 3 horas de uso. Já os odores da pele foram coletados com ajuda de meias de nylon ou camisetas de materiais naturais e sintéticos que foram usadas por 12 horas. Cada amostra dos pacientes foi embalada individualmente e armazenada congelada na temperatura de -20°C até o uso na pesquisa.
Cães-detetives
Uma das autoras da pesquisa, a cientista Claire Guest, é diretora de um centro de pesquisa, a Medical Detection Dogs, que já investigava como cachorros podem ajudar no diagnóstico de outras doenças, como câncer e diabetes.
“Esses resultados fantásticos são mais uma evidência de que os cães são um dos biossensores mais confiáveis para detectar o odor de doenças humanas. Nosso estudo robusto mostra o enorme potencial dos cães para ajudar na luta contra a Covid-19″, afirmou Guest em um comunicado à imprensa.
A cientista liderou o estudo junto com Sarah Dewhirst, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM, na sigla em inglês). A pesquisa teve a participação de dezenas de outros cientistas.
Segundo as especialistas, o estudo é o primeiro a avaliar se cães treinados podem distinguir entre o odor de pessoas infectadas com o coronavírus e o daquelas não infectadas, com um número suficientemente alto de cães e de amostras.
“Saber que podemos aproveitar o incrível poder do nariz de um cachorro para detectar a Covid-19 de forma rápida e não invasiva nos dá esperança de um retorno a um estilo de vida mais normal por meio de viagens mais seguras e acesso a locais públicos, para que possamos novamente socializar com família e amigos”, completou Guest.
Uso em aeroportos
Um modelo matemático que acompanha o estudo destaca justamente o potencial de cachorros serem usados em aeroportos: dois cães poderiam rastrear 300 passageiros de avião em cerca de 30 minutos. Dessa forma, apenas as pessoas identificadas como positivas pelos cachorros necessitariam de um teste do tipo PCR, considerado “padrão ouro” de diagnóstico da Covid.
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A estimativa das cientistas é que o rastreio pelos cachorros e o uso de um teste PCR confirmatório detecte até 91% dos casos e evite 2,2 vezes mais a transmissão da Covid-19 do que isolar apenas pessoas com sintomas.
Se usados em aeroportos, os cães também podem servir como um impedimento visual, avaliam as pesquisadoras – reduzindo o número de passageiros que viajam com certificados falsos de exame negativo de Covid.
Segundo as cientistas, isso já foi observado em relatos sobre a presença de cães detectores de explosivos e drogas servindo como um dispositivo visual que faz as pessoas desistirem de levar explosivos e drogas a locais públicos.
O “rastreio canino” de passageiros com Covid já foi testado em alguns aeroportos, como o de Helsinki, na Finlândia, e Moscou, na Rússia (o vídeoo mostra treinos na Rússia em outubro de 2020).
As pesquisadoras britânicas reconhecem, entretanto, que os resultados foram obtidos em um ambiente controlado, de teste, e com amostras – mas acreditam que os achados podem ser replicados no mundo real.
Os resultados
Os seis cães tiveram os seguintes resultados de sensibilidade (capacidade de detectar casos positivos corretamente) e de especificidade (capacidade de detectar casos negativos corretamente):
Tala
A cachorrinha Tala, da raça labrador, foi a campeã tanto em sensibilidade quanto em especificidade. Ela tem 4 anos e teve os seguintes resultados:
- Sensibilidade: 94,3% (de 89,4% a 98% na margem de erro; baixo risco de resultados negativos falsos)
- Especificidade: 92% (de 87,6% a 95,8% na margem de erro; baixo risco de resultados positivos falsos)
Segundo o site da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, Tala é afável, gentil e fofinha. É muito trabalhadora e muito decidida. Gosta de pular muito alto e de abraços.
Asher
O cãozinho Asher, da raça cocker spaniel, tem 6 anos e teve os seguintes resultados:
- Sensibilidade: 90,9% (de 85,3% a 95,4% na margem de erro; baixo risco de resultados negativos falsos)
- Especificidade: 84,8% (de 77,9% a 91,1%; baixo risco de resultados positivos falsos)
Segundo o site da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, Asher é excêntrico, ocupado, curioso, focado no trabalho e adora plateia. Gosta de usar o nariz, trabalhar e uivar para que abram portas para ele passar.
Ele já havia aparecido em uma reportagem do G1enquanto passava pelo treinamento para detectar a Covid.
Lexi
A cachorrinha Lexi, da raça labrador, tem 5 anos e teve os seguintes resultados:
- Sensibilidade: 90,8% (de 86% a 94,9% na margem de erro; baixo risco de resultados negativos falsos)
- Especificidade: 85,3% (de 79,9% a 90,2% na margem de erro; baixo risco de resultados positivos falsos)
Segundo o site da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, Lexi é feliz, entusiasmada e alegre. No trabalho é determinada e adora usar o nariz. Gosta de passeios na hora do almoço, de sua bola e de abraços.
Kyp
O cãozinho Kyp, uma mistura de labrador com golden retriever, tem 4 anos e teve os seguintes resultados:
- Sensibilidade: 88,5% (de 83,6% a 92,8% na margem de erro; baixo risco de resultados negativos falsos)
- Especificidade: 76,4% (de 70,3% a 82,1% na margem de erro; baixo risco de resultados positivos falsos)
Segundo o site da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, Kyp é amoroso, carinhoso e gosta de cantar. No trabalho, é brilhante e aprende rápido. Gosta de seus humanos, outros cães e zunidos.
Marlow
O cãozinho Marlow, da raça labrador, tem 4 anos e teve os seguintes resultados:
- Sensibilidade: 82,1% (de 76,3% a 87,3% na margem de erro; baixo risco de resultados negativos falsos)
- Especificidade: 90,1% (de 85,4% a 93,9% na margem de erro; baixo risco de resultados positivos falsos)
Segundo o site da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, Marlow trabalha muito e também brinca muito. É animado para entrar na sala de treinamento e sociável. Gosta de cochilos poderosos, explorar e brincar com outros cães.
Millie
A cachorrinha Millie, da raça golden retriever, tem 4 anos e teve os seguintes resultados:
- Sensibilidade: 85,5% (de 80,1% a 90,5% na margem de erro; baixo risco de resultados negativos falsos)
- Especificidade: 82,6% (de 76,9% a 87,6% na margem de erro; baixo risco de resultados positivos falsos)
Segundo o site da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, Millie é brincalhã, amigável e vocal. No trabalho, é feliz e tem um passo realmente animado. Gosta de começar brincadeiras com os colegas e correr pelo pátio.
O estudo
Para o treinamento dos cachorros, foram recolhidas amostras de odor de 1.097 pessoas infectadas com o coronavírus e de 2.031 não infectadas. O diagnóstico foi confirmado por PCR.
Após a fase de treinamento, os cachorros foram para o teste duplo-cego – em que nem os cachorros nem os pesquisadores envolvidos sabiam quais eram as amostras infectadas. Os ensaios foram feitos da seguinte forma:
- Os cães cheiraram 200 meias de pessoas infectadas e outras 200 meias de pessoas não infectadas. As pessoas infectadas podiam ou não ter sintomas.
- As amostras eram divididas em grupos de 3 e ficavam em um estande (veja foto abaixo). Os cachorros precisavam decidir entre “infectado ou não infectado” para cada amostra.
- Cada amostra foi apresentada a cada cão uma vez, com um máximo de três explorações permitidas a critério do treinador.
- Um software de computador foi usado para atribuir amostras de cheiros aleatoriamente para os testes. Portanto, o sistema de três estandes poderia ter qualquer combinação de amostras: todas infectadas, todas não infectadas ou qualquer combinação de infectadas/não infectadas em três posições.
- Cada amostra de meia foi cortada em quatro peças, cada uma com aproximadamente 80x20mm², e seladas individualmente em frascos ventilados, para evitar o contato direto do cão e seu treinador com as amostras, e armazenado a -20°C antes do uso.
Já os sensores testados foram do tipo semicondutor orgânico: eles foram testados ao capturarem o perfil de composto orgânico volátil das amostras de odores.
Fonte: G1