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Entenda o conceito de neuroarquitetura e como ele pode ajudar a humanizar os ambientes

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 16/02/2023

neuroarq
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Para o bem ou para mal, a concepção dos ambientes afeta diretamente as pessoas que neles permanecem. Tentar compreender essa influência é uma parte importante do trabalho de profissionais da arquitetura, do design e da decoração. Foi nessa busca que surgiu a neuroarquitetura, conceito que analisa esses elementos a partir de pressupostos científicos do funcionamento do cérebro humano.

De acordo com a arquiteta Tery Kanakura, que atua neste segmento, a neuroarquitetura, como disciplina e conceito, nasceu em 2003 na Califórnia, com o objetivo de vincular os conhecimentos da neurociência com a percepção humana do espaço. Embora o conceito seja relativamente recente, a ideia da integração entre mente, corpo e espaço é muito antiga. “Como exemplo, podemos citar o “Vastu Shastra” (que significa ciência da arquitetura, e é uma técnica milenar hindu de construir e desenhar templos) e o “Tratado de Arquitetura”, de Vitruvius, escrito no século I A.C. Ambos relacionam a harmonia do ambiente com o bem-estar daqueles que usam o espaço”, comenta.

Ela explica que a diferença entre os antigos ensinamentos arquitetônicos e a neuroarquitetura está na tecnologia aplicada. “Os conhecimentos de feng shui já abordavam conceitos da neuroarquitetura muito antes desta existir como disciplina. Elementos como cor, luz, sombra e sons já eram estudados pelos antigos mestres taoístas. Eles sabiam da importância do ambiente aos sentidos”.

No Brasil, ela destaca que o conceito ainda é menos usado em ambientes domésticos, mas ostensivamente em espaços comerciais, seja direcionado para aumentar a produtividade ou o consumo. “É muito comum o trabalho do arquiteto andar em conjunto com equipes de marketing a fim de projetar ambientes que facilitam e estimulam o consumo. As franquias de alimentos, academias e produtos eletrônicos, por exemplo, investem consideravelmente para que a experiência do consumidor seja agradável e lucrativa”, explica. 

Outro exemplo prático do conceito pode ser encontrado em hospitais. Muitos projetos buscam não se assemelhar a uma enfermaria, mas sim a um hotel. “Essa tendência tem apresentado bons resultados em relação à recuperação das pessoas internadas, já que a percepção de estar em um local que se assemelha a um hotel remete a momentos prazerosos de viagens e não a doenças. A neuroarquitetura não promove a cura, mas atua em outras vertentes que contribuem com o processo de recuperação”, comenta a profissional. 

Ela acrescenta que, assim como pode produzir ambientes agradáveis, o conceito também pode ser usado para o oposto. “Um exemplo é o Museu Judaico de Berlim, que foi projetado para realmente preservar a memória de uma das maiores atrocidades da História para que esta não venha a se repetir. Alguns ambientes são intencionalmente mal iluminados, outros claustrofóbicos para que tenhamos um pouco da percepção daqueles que passaram pelo Holocausto”. 

 

Circulação fluída é um item fundamental 

Um item fundamental para o bem-estar em qualquer projeto, independentemente da sua destinação, é que ele tenha a circulação fluída, explica a arquiteta Tery Kanakura. Segundo ela, uma passagem desobstruída, além de evitar possíveis acidentes, facilita a realização das diversas tarefas do cotidiano. “Ambientes bem iluminados e arejados são primordiais para manter a saúde do espaço e daqueles que usam o mesmo. Atenção à quantidade de luz e sombra, pois não é apenas um fator estético, mas sobretudo um fator de bem-estar. Um ambiente bem projetado otimiza a produtividade e até a saúde dos usuários”, diz. 

Ela lamenta que num país de desigualdades tão profundas como o Brasil nem todos tenham acesso a esses benefícios: “Um ambiente bem projetado precisa levar em conta o saneamento básico e infraestrutura adequados. Isso faz parte dos estudos da neurociência e do feng shui, tornando os benefícios práticos para quem usa o espaço. Não é à toa que a expectativa de vida de pessoas que vivem em bairros nobres costuma ser bem maior”. 

 

Entender as reais necessidades do cliente é fundamental 

Antes de elaborar um projeto arquitetônico, o profissional precisa entender quais são as reais necessidades do cliente. A arquiteta Aline Damasceno, especialista em interiores, explica que a maioria das pessoas não sabe exatamente o que realmente quer ou precisa no dia a dia. “Muitos chegam com inspirações que, muitas vezes, não se encaixam na sua própria rotina e isso traz desconforto e insatisfação. Falar sobre suas reais necessidades e sobre o que sente é de extrema importância para desenvolver todo um projeto exclusivo. Quando conseguimos chegar nesse ponto, sabemos que será um projeto com 100% de acerto. 

Ela acrescenta que desenvolver um projeto não é apenas construir móveis ou ocupar espaços. É necessário projetar algo que promova um bem-estar físico e mental para quem o ocupa, seja ele para uma residência ou comércio. É importante saber o que cada pessoa busca sentir dentro desse lugar e também seus objetivos futuros. “Não é necessário investir muito financeiramente. Pequenas intervenções no mobiliário já são o suficiente para estimular alegria e pertencimento”, comenta. 

Ela cita o exemplo de um projeto de móveis e design que fez recentemente: “A cliente estava em busca de algo mais particular e, mesmo depois de falar com diversos profissionais, ninguém chegava em algo que de fato a fizesse amar e se sentir confortável. Eu, então, fui à casa dela e conversei pessoalmente para analisar o que poderia ser feito olhando pela perspectiva dela. Quando cheguei, percebi que ela morava de frente com o estádio do time que ama. E o interior da casa falava diretamente com esse amor pelo time, mais ainda muito timidamente e sem organização das ideias em relação aos móveis. Senti que a família toda vivia em prol desse amor e essa foi a minha inspiração”, conclui.  

 

Por: Gabriel Menezes

 

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