Condomínios na linha de frente: dicas para economizar água e combater a crise hídrica
Por Cidades e Serviços
Última atualização: 20/10/2024
Cidades, Sustentabilidade
Descubra como seu condomínio pode fazer a diferença, reduzindo custos e garantindo um futuro mais sustentável.
Gabriel Menezes
Em meio à intensificação da crise hídrica no Brasil, os condomínios podem e devem assumir um papel decisivo na adoção de medidas práticas de economia de água. Com ações simples e eficazes, essas comunidades têm o poder de reduzir custos operacionais e preservar esse recurso vital.
Desde a instalação de dispositivos economizadores até a promoção de campanhas de conscientização entre os moradores, essas iniciativas podem transformar o desafio da escassez em uma oportunidade para mudanças positivas, contribuindo significativamente para a sustentabilidade e garantia de um futuro mais seguro.
De acordo com Felipe Mendes, diretor comercial nacional e sócio da T&D Sustentável, empresa de impacto socioambiental com foco na economia de água, os condomínios podem adotar práticas imediatas, como a inspeção e o reparo de vazamentos em torneiras, chuveiros, vasos sanitários e tubulações. Outra prática eficaz é a substituição de equipamentos antigos por modelos mais eficientes, como torneiras com arejador e sistemas de caixa acoplada de acionamento duplo. Incentivar a aquisição de máquinas de lavar roupa e louça com certificação de economia de água também é recomendável.
A reutilização de água também é uma medida importante e pode ser implementada através de sistemas de reaproveitamento de água cinza para irrigação de jardins e limpeza de áreas comuns. A reutilização da água do enxágue de máquinas de lavar pode gerar uma economia de até 30 litros por ciclo de lavagem, sendo ideal para lavar pisos em geral.
“Paisagismo sustentável, utilizando plantas nativas e resistentes à seca, aliado a sistemas de irrigação eficientes, como gotejamento, também contribui para a redução do consumo de água. Essas práticas não só ajudam a economizar água, mas também reduzem os custos operacionais do condomínio e promovem a sustentabilidade ambiental”, comenta o especialista.
Ele acrescenta que a sensibilização e a educação dos condôminos são fundamentais. Informar os moradores sobre a importância da economia de água e os impactos ambientais e financeiros do desperdício é o primeiro passo para promover mudanças de comportamento. Campanhas de conscientização, por exemplo, podem incluir dicas práticas, como reduzir o tempo de banho, fechar a torneira enquanto escova os dentes e utilizar as máquinas de lavar roupa e louça com carga completa.
Além disso, envolver os moradores em programas de sustentabilidade e fornecer feedback regular sobre o consumo de água do condomínio são estratégias eficazes. Quando os moradores percebem os benefícios tangíveis das ações de economia de água, como a redução nas contas e a preservação dos recursos naturais, eles se tornam mais engajados e motivados a adotar práticas sustentáveis.
A tecnologia como aliada
A tecnologia tem se tornado uma aliada cada vez mais importante na gestão hídrica. Medidores inteligentes de água permitem o monitoramento em tempo real do consumo, identificando padrões de uso e possíveis vazamentos. Estes dispositivos fornecem dados detalhados que podem ser utilizados para implementar medidas de economia de água de forma mais eficaz. Sistemas de automação são outra opção, controlando e otimizando o uso de água em sistemas de irrigação, piscinas e outras áreas comuns.
Sensores de vazamento são outra tecnologia importante, detectando falhas em tubulações e equipamentos e enviando alertas imediatos para a manutenção. Aplicativos de gestão de água oferecem uma visão abrangente do consumo, permitindo a análise e a implementação de estratégias de economia.
Felipe Mendes comenta que a instalação de dispositivos economizadores, como arejadores e redutores de vazão, pode ter um impacto significativo no consumo de água em condomínios. Esses dispositivos são projetados para reduzir o fluxo de água em torneiras e chuveiros sem comprometer a eficiência. Os arejadores misturam ar com a água, proporcionando um fluxo suave e reduzindo o volume de água utilizado. Redutores de vazão limitam a quantidade de água que passa pelos chuveiros, mantendo a pressão adequada.
“No entanto, é preciso atenção. A implementação dessas tecnologias por pessoas sem o know-how necessário pode levar à má funcionalidade e ao desgaste rápido dos sistemas hidrossanitários, bem como à falta d’água e outras não conformidades. Por isso, é importante buscar serviços especializados”, alerta.
Um desafio que traz também uma oportunidade de aprendizado
Cíntia Martinez, síndica de um condomínio em São Paulo e bióloga, sabe bem a urgência do tema da crise hídrica. Ela destaca como sua formação a ajuda a lidar com o assunto no dia a dia: “A formação em biologia proporciona um olhar diferente para as questões relacionadas à gestão hídrica. Essa perspectiva permite uma compreensão mais ampla da importância da conservação dos recursos naturais. Uma das estratégias que essa formação possibilitou foi a implementação da água de reuso, como a captação de água da chuva, que contribui para uma gestão mais sustentável e eficiente da água no condomínio. Essa abordagem não só ajuda a economizar recursos, mas também a sensibilizar os moradores sobre a utilização consciente da água”.
Cíntia observa que a experiência de gerir o condomínio durante a crise hídrica tem sido desafiadora, mas também uma oportunidade de aprendizado. “A cidade de São Paulo vem enfrentando um cenário de estiagem severa, com interrupções diárias no abastecimento de água. Embora o condomínio conte com um poço artesiano, o que reduz o impacto imediato, a gestão da água ainda exige atenção constante e adaptação às novas circunstâncias”.
Ela acrescenta que, embora não tenha havido atrito direto por causa da água, justamente devido à disponibilidade do poço artesiano, a situação se torna crítica quando ele entra em manutenção, pois o condomínio fica temporariamente sem água. Pensando nisso, foram emitidos avisos nas áreas de circulação, como elevadores, além de comunicados e mensagens no grupo de WhatsApp do condomínio, pedindo a colaboração de todos para evitar desperdícios e garantir uma gestão mais eficiente dos recursos.
“Esses comunicados têm sido eficazes em reforçar a importância da economia de água. No entanto, como o condomínio conta com um poço artesiano, ainda há uma percepção entre alguns moradores de que a situação não é tão urgente. O aumento das contas de água, que chegou a R$15 mil por mês, serve como um indicador claro da necessidade de mudar essa postura”.