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Construção civil aposta em práticas sustentáveis

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 08/03/2023

sustentabilidade
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Tido como um dos maiores vilões em relação à poluição, o setor vem mudando hábitos e desenvolvendo novas tecnologias e melhores práticas.

A construção civil sempre foi um dos setores mais preocupantes da nossa sociedade no que diz respeito à proteção ao meio ambiente, afinal é um dos campeões em poluição. De acordo com dados de 2022, do Ministério das Cidades, estima-se que os resíduos de construção e demolição representem de 51% a 70% dos total de resíduos sólidos urbanos que, se mal gerenciados, degradam o meio ambiente. 

Desde a destruição de áreas verdes para a construção, passando pela produção de dejetos, uso e desperdício de água, modificação de terras locais, impacto em comunidades, consumo de energia elétrica em todas as fases dos projetos, entre outros fatores, a construção civil carrega com folga o título de vilã do meio ambiente.

O cimento, por exemplo, material considerado grande poluidor, é amplamente usado no setor. Seu processo produtivo gera muito gás carbônico, um dos principais causadores do efeito estufa. Para se ter uma ideia do impacto: a cada tonelada de clínquer produzido, mais de 600 kg de CO2 são gerados.

No entanto, de algum tempo para cá, o setor vem buscando soluções e criando novos processos para gerar maneiras sustentáveis e inovadoras de diminuir os impactos da cadeia produtiva, tornando-a perene e mais amigável ao planeta.

“Quando falamos em sustentabilidade, nos deparamos com três fatores principais: o ambiental, o social e o econômico. A interação entre estes três pilares deve alinhar as ações de sustentabilidade, bem como as ações que vemos fortemente acontecendo na área da construção civil. Basta olhar para trás e ver o quanto mudamos em relação às nossas atividades e ao impacto que geramos ao meio ambiente, sendo que a construção civil tem um papel muito importante neste cenário, mudando a paisagem na utilização dos recursos naturais e no impacto que suas obras geram”, afirma Robson Costa, engenheiro civil e professor da Estácio.

Ele explica que, quando falamos da instalação de um edifício em um determinado bairro, por exemplo, temos uma escala de impacto. No início, a movimentação de máquinas, caminhões e material. Durante a construção, várias fases se seguem, com as concretagens, barulhos, movimentação de homens e máquinas, resíduos de construção, entre outros. E não acaba por aí. Ao final da entrega, os moradores chegam. Esses sim, fazendo parte deste novo ambiente e, consequentemente, aumentando o número de carros, de pessoas, de resíduos e modificando aquele novo espaço.

“É uma árdua tarefa ainda a ser desenvolvida entre o que desejamos como progresso e o que devemos fazer pela sustentabilidade. Sem dúvida, houve vários avanços no sentido de melhorias nas técnicas, nos materiais e nas formas aplicadas à construção civil, mas por si só ainda há muito o que avançar, pois o impacto gerado por determinadas obras, desde uma simples reforma, que já gera uma quantidade significativa de entulho, até grandes obras que modificam e transformam ambientes inteiros, ainda são necessários o envolvimento de vários profissionais e da sociedade para minimizar os impactos causados”, diz Costa.

De olho num futuro mais limpo e sustentável para todos e ainda considerando que os consumidores também estão atentos a esse novo movimento do mercado, as construtoras estão reorganizando sua maneira de trabalhar e inovando em projetos com práticas sustentáveis, além da aplicação de normas de ESG, sigla em inglês para Environmental, Social and Corporate Governance ou governança ambiental, social e corporativa. 

Ao completar 25 anos no mercado imobiliário em 2022, a Plano&Plano, uma das maiores incorporadoras e construtoras do país, apresentou o seu Relatório de Sustentabilidade, correspondente ao período de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2021. Entre as novas práticas implementadas nos empreendimentos, estão a coleta de lixo seletiva e planejada, a economia de energia com uso de lâmpadas econômicas, o sistema fotovoltaico nos empreendimentos: Laguna, Guaicurus e Bartolomeu do Canto, reuso da água da chuva, entre outras.

Nos canteiros de obras, também há boas práticas, tais como a utilização de madeira de origem legal, através do gerenciamento do sistema DOF (Documento de Origem Florestal), destinação adequada das lâmpadas queimadas, processo de logística reversa com blocos de concreto gerando uma nova matéria prima reaproveitável, entre outras. A construtora também conquistou o Selo Casa Azul+ CAIXA, um reconhecimento da Caixa Econômica Federal aos empreendimentos com práticas sustentáveis, e as certificações PBQP-H (NÍVEL A) e ISO 9001, sem apontamentos, pelo terceiro ano consecutivo.

“Em 2021, reafirmamos a relevância da sustentabilidade em praticamente todas as comunicações da companhia. E no Conselho de Administração, a escuta ativa contribuiu para mapear os melhores caminhos, conhecer os riscos e as oportunidades. Nossos resultados permitem afirmar que estamos cada vez mais preparados para enfrentar desafios e aproveitar oportunidades futuras, fortalecendo a estratégia de consolidação e crescimento sustentável”, conclui Rodrigo von, diretor-presidente da Plano & Plano.

As boas práticas ambientais na construção civil devem passar por todos os processos da cadeia. Começando com a escolha de um terreno adequado, que não esteja localizado em área de proteção ambiental, com atenção aos corpos hídricos; flora, fauna e comunidades locais. Priorizar árvores e paisagens locais no paisagismo do projeto também deve ser um ponto de atenção. Um outro ponto muito importante é a gestão da água utilizada na construção da edificação. 

E como o setor da construção civil não para de crescer e prevê alta para 2023, existem empresas de diversos segmentos que já estão de olho nesta oportunidade de negócio. Dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) apontam que a construção civil deve crescer cerca de 2,5% até dezembro, considerando os últimos três anos de expansão. Para se ter uma ideia da alta produção, somente em 2020, foram gerados R$325,1 bilhões em valor de incorporações, obras e serviços gerais. Assim, novas soluções estão surgindo para atender a esta demanda. É o caso da startup de purificação de água PWTech.

A tecnologia desenvolvida pela empresa é capaz de tornar potável a água contaminada oriunda da chuva, rios, poços, represas, açudes e lagos, eliminando 100% de vírus e bactérias e tornando-a própria para o consumo humano. O equipamento é recomendado para locais de difícil acesso, facilitando a operação logística, reduzindo custos e contribuindo com o melhor uso dos recursos naturais e metas de sustentabilidade nos canteiros de obra.

“A tecnologia foi desenvolvida em 2018 por meio de uma parceria operacional com a Universidade Federal de São Carlos — UFSCar, onde foi estudado, criado e validado o purificador de água PW5660. Nossa proposta foi inspirada em soluções modulares e compactas de tratamento de água, porém identificamos a inexistência de soluções que congregassem todos os elementos e funcionalidades, com peças totalmente brasileiras”, afirma Fernando Silva, sócio-fundador da startup.

Além da fácil portabilidade, o equipamento possui uma manutenção rápida e barata, por utilizar peças que já estão no mercado. Ao obter um kit de manutenção, os valores dos filtros ficam por menos de mil reais, e são trocados a cada 130 mil litros de água que passam pelo purificador. O aparato já vem sendo implementado e discutido não somente na construção civil, mas também em aldeias e locais de difícil acesso Brasil afora.

A economia de água em canteiros de obras é um dos principais focos em relação às práticas sustentáveis. A água está presente em cada ciclo de construção: não só nas fases de execução da obra e na obra concluída, mas também na produção dos materiais que são utilizados, que pode exigir grandes quantidades de recursos hídricos. No Brasil, o sistema construtivo tradicional é predominante, com elevado consumo de concreto e argamassas, que possuem alta representatividade nos excessivos volumes de água consumidos. 

Ao se comparar a utilização de água pelo setor com o cenário macro do país, vemos que o Brasil detém 12% de toda água mundial, mas, ainda assim, 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água potável, de acordo com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico. Assim, a economia de água é urgente. Embora os consumos por unidade (ton, m³) sejam elevados, as indústrias de materiais de construção têm atuado sistematicamente para reduzi-los, aplicando critérios de reciclagem de água em seus processos.

Na onda da economia de água, uma outra tecnologia vem ganhando espaço e promete um uso de praticamente zero água nas construções, o Steel Frame. O sistema construtivo utiliza peças de aço galvanizado como seu principal elemento estrutural, substituindo o concreto armado e a necessidade do uso de água. O fechamento dos espaços pode ser feito utilizando placas cimentícias, dry wall, madeira ou painéis de alumínio composto. Esse método é muito conhecido em todo o mundo e já é bastante utilizado nos Estados Unidos.

Leve e muito resistente, o Steel Frame pode ser utilizado para a construção de edificações de até 4 andares e a durabilidade do material pode chegar a 300 anos. “Há um ganho de área construída utilizando Steel Frame, já que a espessura das paredes é menor em relação aos tijolos ou blocos em uma construção de alvenaria. Esse sistema também facilita a passagem das instalações elétricas e hidráulicas da edificação, bem como sua manutenção. As construções que utilizam Steel Frame são bastante sustentáveis, com baixa produção de resíduos e a utilização de água é praticamente zero”, explica o diretor da Barbieri do Brasil, Gonzalo Javier Raspini, empresa que utiliza a tecnologia.

Em relação ao aço, a nova tecnologia também vem ganhando mercado. A pesquisa “Cenário dos Fabricantes de Estruturas de Aço”, realizada pela Associação Brasileira da Construção Metálica (ABCEM) e pelo Centro Brasileiro da Construção em Aço (CBCA), divulgada no final de 2022, considerou dados de 334 empresas participantes que produziram, em 2021, 1,04 milhões de toneladas de aço, com crescimento de 1,7% em relação a 2020, primeiro ano de pandemia, sendo 550,4 mil toneladas em produção de obras de estrutura metálica, 462 mil toneladas em produção para obras do segmento de energia e 32,2 mil toneladas em produção de defensas metálicas.

Já o estudo “Cenário dos Fabricantes de Perfis Galvanizados – Light Steel Frame e Drywall” mostra um crescimento de 10,3% (Light Steel Frame) e de 7,4% (Drywall) de produção em relação a 2020, com expectativas otimistas para os anos seguintes. As 35 empresas participantes apresentaram faturamento de R$1,4 bilhão de reais, com crescimento de 40,2% em relação ao ano anterior. Isso mostra que o uso do steel frame vem ganhando cada vez mais mercado no país.

“Cada vez mais vemos a participação do Light Steel Frame, principalmente em obras corporativas, pois exigem certificações, velocidade de entrega e também sustentabilidade. Quando o comparamos com o sistema tradicional, temos uma redução significativa no consumo de recursos hídricos e geração mínima de resíduos de obra (entulho), contribuindo de forma muito positiva para o meio ambiente”, afirma André Rossi, gerente de desenvolvimento e novos negócios da Barbieri do Brasil.

Além da água e do material, também é importante considerar outros fatores em relação à sustentabilidade em obras, como energia limpa, tratamento de resíduos, materiais sustentáveis, outros métodos construtivos industrializados como o Steel Frame, emissão de gases e ferramentas de gestão.

 

Legislação vem acompanhando o movimento do setor em prol da sustentabilidade
Segundo Robson Costa, engenheiro civil e professor da Estácio, a legislação brasileira vem se atualizando em relação às práticas sustentáveis na construção civil.

“Há ótimas leis que regulamentam as obras de construção civil. O licenciamento ambiental dependerá muito do local e do tipo de obra a ser executada, sendo a nossa uma referência de legislação ao mundo. Quando tratamos de construção civil, não podemos esquecer que as questões relacionadas ao urbanismo e ao uso e ocupação do solo devem ser previamente analisadas, juntamente com os aspectos ambientais que podem inviabilizar determinadas intervenções humanas, sendo necessário a consulta ao Código de Obras de cada município, que de acordo com suas particularidades, determina o que pode e não pode ser realizado”, diz.
O especialista afirma que as regras municipais são, de maneira geral, rígidas e bem determinadas, com a necessidade de alvarás e estudos de impactos ambientais, sob a pena de embargos e multas pelo seu descumprimento. Ele ainda cita as seguintes leis como as mais importantes em vigor, atualmente, sobre o assunto:

Lei Nº 12.305/2010: Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS): estabelece diretrizes ligadas à gestão integrada e ao gerenciamento ambiental adequado dos resíduos sólidos, além de propor regras para o cumprimento de seus objetivos através da responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e sociedade.

Lei Nº 9.433/1997: Política Nacional dos Recursos Hídricos (PNRH): A PNRH determina que a água é um bem de toda a população e, por isso, seu uso deve acontecer mediante aprovação do poder público, seja estadual ou nacional. A autorização do governo, por sua vez, é denominada de Outorga de Recursos Hídricos, que tem como objetivo controlar de forma qualitativa e quantitativa o uso das águas e fiscalizar o efetivo exercício dos direitos de acesso pelas organizações.

Lei Nº 6.766/1979: Lei do Parcelamento do Solo Urbano: estabelece regras para loteamentos urbanos, determinando principalmente, que estes estão proibidos em áreas de preservação ecológica, como aquelas onde a poluição representa perigo à saúde e em terrenos alagadiços.

 Lei Nº 7.347/1985: Lei da Ação Civil Pública: Trata da ação civil pública de responsabilidades por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor e ao patrimônio artístico, turístico ou paisagístico, de responsabilidade do Ministério Público Brasileiro. Em outras palavras, essa lei tem como objetivo proteger bens e direitos cuja titularidade recai sobre toda a sociedade e não apenas a um único indivíduo.

Costa afirma que, mais do que uma demanda de mercado, a consciência global e individual em relação à sustentabilidade e ao futuro do planeta vem crescendo de maneira geral, no entanto, o assunto ainda requer uma grande mudança cultural.

“A busca do equilíbrio entre o progresso e a sustentabilidade não está apenas na criação de leis, mas sim na mudança cultural de todos de nós e na busca de integrar nossas necessidades atuais, nossas tecnologias e o respeito às gerações futuras. E isso ainda é um grande desafio”, conclui.

 

 

Por: Mario Camelo

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