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Condomínio 5.0

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 11/11/2021
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Internet das coisas, inteligência artificial, computação em nuvem, realidade aumentada, robótica. Essas são as tecnologias que, em alguns anos, farão uma transformação completa no mundo, modificando substancialmente a sociedade que conhecemos. É a chamada quarta revolução industrial. Já em curso em alguns países, o processo ganhou esse nome em 2011, durante a Feira de Hannover, na Alemanha, e envolve a convergência de máquinas e computadores. 

Na prática, sistemas de conexão máquina-máquina serão cada vez mais comuns, em cenários nos quais as tecnologias vão trocar informações entre si, independentemente da interferência humana. Essa lógica impactará de maneira sensível a indústria, mercado de trabalho, modelos de negócios de empresas e a própria convivência humana.

“Sensores, estações meteorológicas, câmeras, redes sociais, navegação na internet, tudo isso gera dados que são tratados por modelos estatísticos de previsão ou de classificação e são, então, transformados em informações. Além disso, estamos caminhando para as smart cities, onde muitos serviços estarão conectados. No setor elétrico, a distribuição de energia já atua em redes inteligentes e geração distribuída. De uma forma ou de outra, já estamos inseridos nesse ‘adorável mundo novo”‘ , pontua Clécio da Silva Ferreira, especialista em Big Data e professor do Departamento de Estatística da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

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Segundo Clécio Ferreira, da UFJF, “estamos caminhando para as smart cities, onde muitos serviços estarão conectados”

A revolução 4.0 demanda novos arranjos sociais, criando o que os especialistas chamam de sociedade 5.0. É ela que absorverá as novas tecnologias e irá continuamente interagir com os sistemas inteligentes. O desafio da sociedade 5.0 não é, entretanto, meramente incorporar inovação tecnológica a processos e métodos, mas sim utilizá-la de forma a gerar mais bem-estar e qualidade de vida às pessoas.

Assim como ocorrerá nas diversas esferas da vida humana, o condomínio também será fortemente impactado por esse cenário de transformação digital. “No Brasil, estamos engatinhando para entender como as novas tecnologias da indústria 4.0 podem ser aplicadas para resolver as dores dos condôminos 5.0. Por natureza, esses condôminos são nativos digitais e prezam por soluções igualmente digitais. Mas eles ainda convivem com vizinhos que não dominam o mundo digital tão bem assim. Reside aqui o maior desafio: encontrar o equilíbrio para pensar tecnologias que atendam a diversidade de pessoas nos condomínios, culturas e gerações diferentes”, destaca Alcino Vilela, especialista em Inovação e criador da Homebook Smart Portaria, empresa de soluções de robótica para portarias. 

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Segundo Clécio Ferreira, da UFJF, “estamos caminhando para as smart cities, onde muitos serviços estarão conectados”

A tendência é, de fato, os condomínios se tornarem cada vez mais inteligentes, integrando máquinas a processos do dia a dia para facilitar a vida de seus moradores. Mas quais as reais possibilidades de aplicação das diferentes tecnologias 4.0 em um condomínio? Como adaptar suas estruturas e quais desafios devem ser superados para se tornar um condomínio do futuro? 

 

Inteligência Artificial (IA)

Uma das áreas mais promissoras da indústria 4.0, a inteligência artificial nada mais é do que a combinação de várias tecnologias — entre elas redes neurais artificiais, algoritmos e aprendizado de máquina — para simular as capacidades humanas ligadas à inteligência. A ideia é que sistemas de IA reproduzam parâmetros humanos de raciocínio, análise e tomada de decisão, sendo capazes de interpretar eventos, avaliar comportamentos e automatizar ações.

Essa realidade parece ser bem distante do cotidiano condominial, mas o fato é que, no âmbito de um condomínio, a aplicação da inteligência artificial terá muitas possibilidades. Uma delas é, por exemplo, o controle de gastos. Por meio de IA, o gestor poderá compor análises que antecipem o fluxo de caixa do prédio, ajudando-o a definir os gastos médios e tornando possível a comparação com resultados de outros condomínios.

“Podemos pensar em instalações de sensores para verificar a qualidade do ar nos ambientes internos, monitoramento de segurança e de consumo de energia, fechaduras eletrônicas, iluminação, sensores de movimentação, reconhecimento facial, assistentes de voz. O gerenciamento de todas essas tecnologias levará ao surgimento de novos serviços, e as soluções passarão por procedimentos automáticos de inteligência artificial, baseados em dados, aprendizado de máquinas e aprendizagem supervisionada”, comenta o professor Clécio da Silva Ferreira.

 

Internet das Coisas 

É por meio da Internet das Coisas, ou Internet of Things (IoT), em inglês, que muitos projetos de Inteligência Artificial ganharão força dentro dos condomínios. A IoT é a tecnologia que, ao permitir a conexão remota entre aparelhos, gera a possibilidade de ações a partir das interações. 

Na prática, ela torna possíveis projetos de acionamento de iluminação, por exemplo. Com sensores instalados em áreas comuns dos prédios, aciona-se a luz sempre que alguém estiver presente, desligando-a assim que o espaço fica vazio. Sustentabilidade ambiental e economia na mesma iniciativa. 

Os projetos de hidráulica do condomínio também se tornarão inteligentes com a ajuda da Internet das Coisas. Será mais simples identificar vazamentos por meio de sistemas de medição que monitorem a água e sinalizem quando houver aumento brusco do fluxo. Também será possível implantar sensores de umidade em solos e jardins que ativem a irrigação automática da área, assim que a temperatura chegar a um patamar previamente definido pelos gestores condominiais. 

Por meio de sistema de alertas é possível ainda configurar a medição remota da caixa d ‘água do condomínio, avisando o síndico sempre que o nível de água estiver baixo e houver o risco de racionamento.  Os sensores poderão ser posicionados, ainda, em telhados, para sinalizar a necessidade de limpeza nas calhas, ou em elevadores, para emitir alertas direto ao serviço de manutenção quando algum equipamento apresentar defeito.

 

Robótica Avançada

O desenvolvimento da Inteligência Artificial abrirá cada vez mais caminho para a utilização de dispositivos autônomos que interagem com as pessoas ou com seu ambiente — os famosos robôs — em condomínios e unidades residenciais. 

Hoje em dia, já é comum a utilização, por exemplo, de drones para realizar rondas de manutenção em prédios de diferentes portes. No geral, os veículos guiados sobrevoam as dependências do condomínio, reportando, em tempo real, eventuais irregularidades.

“O drone é equipado com câmera de inspeção visual e termografia para identificar falhas na estrutura predial, sem a necessidade da inspeção por escaladores industriais. Assim, a inspeção é realizada com muito mais segurança e eficiência. Utilizamos, conjuntamente ao drone, um software de gestão de dados e análise de integridade estrutural por inteligência artificial. A ferramenta permite que o edifício seja modelado em 3D e toda análise da estrutura seja feita de forma automática”, conta Mateus Maia, ex-piloto comercial de helicóptero e atual executivo do Grupo DR1, especializado em drones.

A Homebook Smart Portaria, empresa do Alcino Vilela, investe pesado em robótica e criou a Hellô, primeira porteira robô para condomínios do Brasil.  A inteligência artificial realiza todos os processos de acesso e cadastro de condôminos, prestadores de serviço e visitantes à unidade. Registra nome, CPF e foto, faz videochamada entre o visitante e condômino e autoriza a entrada abrindo o portão ou a catraca da recepção do condomínio. É capaz de emitir alertas e disparar alarmes, recebe encomendas, envia comunicados, interage com equipamentos como ar condicionado e bombas de água e — pasmem — liga até para a polícia, em caso de perigo ou invasão da unidade. 

“Para ter a Hellô, basicamente o condomínio só precisa de internet e energia elétrica. A portaria robotizada foi inteiramente parametrizada para funcionar e se conectar com o que o condomínio já possui de câmeras, alarmes, fechaduras, portões de garagem, independentemente da marca ou do modelo. Como a robô porteira está à disposição do condomínio 24h por dia e 7 dias por semana de forma ininterrupta, não existem limitações de unidades ou tamanho da unidade, nem mesmo quanto ao tipo, já que a portaria robotizada pode ser instalada em condomínios verticais (prédios) ou horizontais (casas), residenciais ou corporativos”.

 

Cyber segurança

A segurança é, sem dúvida, a área em que a tecnologia trará contribuições mais efetivas para o universo condominial. O mercado já está viabilizando projetos de cyber segurança, com infraestruturas de hardware e software focadas na proteção patrimonial e pessoal de prédios e condôminos. 

Interligadas a câmeras e alarmes, a ideia é que essas ferramentas diminuam sensivelmente os riscos associados a falhas e erros humanos por meio do monitoramento integral, em tempo real, de áreas comuns e vias próximas ao condomínio. Será possível identificar situações de perigo e reconhecer moradores por meio de placas e rostos. 

Algumas soluções incluem, por exemplo, cercas virtuais que, além de evitarem invasões de propriedade por serem capazes de diferenciar seres humanos de objetos e animais, são especialmente úteis para garantir a segurança em áreas de piscina e play. Uma vez configuradas, elas permitem acesso a espaços determinados apenas em horários permitidos, emitindo alertas sempre que a regra for descumprida. 

 

Quais os desafios a superar?

Apesar de inevitável, o caminho para um condomínio se tornar 5.0 não é trivial e envolve um esforço de atualização constante não só do síndico, mas também de condôminos, fornecedores e parceiros. Embora evidencie uma necessária adaptação tecnológica, a transformação digital depende, sobretudo, de uma mudança de mentalidade, de cultura condominial.

Um dos primeiros desafios que se coloca nesse percurso é o desenvolvimento de fornecedores capazes de pensar soluções focadas em problemas reais do condomínio. Não basta meramente forçar uma adaptação de projetos de mercado à realidade de prédios e residências. “Hoje, no mundo, existem grandes empresas e startups desenvolvendo big data, cloud computing, cyber segurança, smart cities e aí vai. Entretanto, poucas delas estão olhando o ‘microcosmos’ do condomínio. Para realmente a chave virar, será necessário haver cada vez mais empresas que procurem entender a ‘dor’ dos condomínios e de seus usuários para oferecer soluções efetivamente inovadoras e escaláveis para esse público”, pontua o líder de inovação Alcino.

A segurança dos dados no condomínio 5.0 é outra preocupação latente à medida que as unidades vão incorporando projetos de transformação digital. Com equipamentos, dispositivos e softwares conectados, o impacto de eventuais vulnerabilidades na rede é bem mais dramático e pode colocar em risco, em última instância, informações de proprietários e inquilinos.

“O problema da falta de privacidade é, aliás, um dos pilares da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Empresas e condomínios terão de se adequar à legislação, pois ter dados é ter informação, a riqueza do século”, afirma Clécio Ferreira, da UFJF. 

O debate sobre conectividade também precisa estar no centro das atenções do condomínio que pretende se preparar para o futuro. Isso porque os projetos de transformação digital dependem, eminentemente, de Internet – seja via redes móveis ou banda larga. É importante lembrar, entretanto, que a implantação do 5G — tecnologia que permitirá conexões mais ágeis e cobertura de Internet mais ampla, tirando do papel e tornando reais muitas das inovações citadas nesta matéria — tem previsão para iniciar em 2022 e somente será concluída em 2028. 

“Nem as cidades nem os condomínios brasileiros estão completamente preparados para as mudanças, que exigem adequações de infraestrutura, processos, acesso à internet. Somente com o início do 5G o cenário começa a melhorar, pelo menos nas capitais e grandes cidades”, opina Alcino Vilela.

 

Novos perfis

Um novo cenário exige novos personagens. É inegável que os papéis dos diferentes atores condominiais, principalmente síndicos e empregados, irão se alterar significativamente com a incorporação progressiva de tecnologia no dia a dia. 

Segundo pesquisa do McKinsey Global Institute, a revolução 4.0 afetará quase todas as ocupações em maior ou menor grau. Cerca de 60% das profissões atuais terão, pelo menos, 30% das suas atividades transformadas em tarefas automatizadas, o que forçará diferentes perfis profissionais a aprender a lidar — e mais — a trabalhar com a tecnologia. 

No condomínio, é claro, não será diferente. “Para o futuro desafiador que se apresenta, o profissional precisa ter visão, atitude, perseverança e, principalmente, vontade de aprender continuamente, estudar e se aprofundar nas novas tecnologias”, sublinha Alcino.

A mudança perpassará também síndicos e gestores, que precisarão, cada vez mais, não só acompanhar como conduzir as modernizações, entendendo como lidar da melhor formas com processos e pessoas nessa caminhada. “Às vezes, fica difícil fazer a conexão direta entre uma tecnologia e sua utilidade para um fim específico. Por isso, é preciso estar, antes de tudo, sempre bem informado sobre novas tecnologias”, finaliza Clécio.

 

Por: Aline Duraes

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