O paisagismo é um elemento que influencia diretamente na valorização de um condomínio. Uma pesquisa de 2011 feita em nove países pela empresa sueca Husqvarna, que produz equipamentos para jardinagem, por exemplo, apontou que uma área verde bem cuidada pode agregar até 16% de valor a um imóvel. Já levantamentos nacionais do mercado imobiliário revelam que essa valorização pode ser de até 30%.
E após meses em que boa parte da população precisou passar mais tempo em casa, por conta da epidemia do Coronavírus, a importância desse tema pode ser ainda maior. É o que aponta uma pesquisa feita recentemente através de uma parceria com o Instituto Offerwise. Ela mostrou que mais de 73% dos brasileiros passaram a ver seus lares de forma diferente por causa da pandemia, sendo que 16,5% acabou decidindo se mudar, mesmo durante a crise ainda em curso. Dos entrevistados, 28,4% afirmou que passou a dar mais importância para a área verde ao entorno do imóvel.
No entanto, um ambiente paisagístico no condomínio requer atenção e uma série de cuidados. Especialistas na área dão dicas para configurar e manter esses espaços e evitar que eles acabem se tornando uma fonte de transtornos e prejuízos.
A paisagista Rayra Lira aponta que as pessoas vêm entendendo cada vez mais o papel que essas áreas (de paisagismo) desempenham na vida. “Esses ambientes acabam sendo o local de convívio da pessoa com o mundo, pois ninguém consegue viver sem árvores e sem plantas. Elas tornam melhores as relações e o dia a dia, principalmente na vida de quem tem criança. Sem contar os benefícios como uma melhor circulação do ar e um ambiente mais fresco”, diz a profissional.
Para que eles fiquem vistosos e agradáveis, no entanto, a manutenção precisa ser permanente. “Eu diria que a limpeza e o corte são dois trabalhos essenciais para se manter um espaço bem cuidado. Vejo, também, muitos erros com relação à irrigação. Não basta instalar um sistema e pronto. Tem que saber se de fato todo o jardim está sendo bem irrigado. O estudo tem que ser feito de maneira minuciosa e por um profissional experiente”, comenta.
Atualização e cuidados no dia a dia
O arquiteto e paisagista Cezar Scarpato diz que na maior parte dos condomínios antigos o paisagismo está diretamente ligado ao estilo da arquitetura do edifício. Em casos assim, uma solução pode ser uma reforma de atualização. “A reforma é a oportunidade para a atualização e inserção de estilo contemporâneo, seguindo tendências atuais e modificando também os acabamentos. Nesse caso, o paisagismo pode ser chamado de arquitetura de exteriores, definindo não só a vegetação, mas também o layout geral dos canteiros, elementos construídos, pisos, muros, gradil e iluminação externa”, salienta.
Ele explica, no entanto, que é preciso evitar alguns equívocos ao planejar a área: “Um erro comum, por exemplo, é colocar uma variedade grande de espécies que os moradores gostam, mas sem uma composição harmônica. Além disso, plantar determinadas espécies em locais de pouca ou muita exposição solar, refletindo na necessidade de rega excessiva ou crescimento lento”.
Scarpato frisa que é na concepção do projeto e na escolha de seus elementos e espécies que se define também a periodicidade da manutenção. “Orçamentos de manutenção estão atrelados à área total a ser mantida e a especificidade de cada espécie ou equipamentos. No geral, a quantidade de jardineiros e a constância do trabalho determinam o valor da manutenção, podendo variar de uma vez por semana até uma vez por mês. Um período maior tende a ficar mais caro, devido a questões como a demanda de limpeza de acúmulo de folhas nas espécies, reestruturação de desenhos pelo crescimento exagerado de determinada planta e reposição de espécies que ficaram doentes”.
O poder do paisagismo
O paisagista José Kolya explica que o paisagismo não é um equipamento ou um objeto de uso simplesmente. O paisagismo é o trabalho de criar e conectar espaços com soluções que deem conforto às pessoas, segurança aos animais, por meio de abrigos e pontos de apoio para sua alimentação e troca genética, e ainda reduzir os impactos sonoros, térmicos e visuais da vida na cidade.
“O benefício de haver uma área bem projetada de jardim se observa quando todas estas questões estão bem alinhadas. Imagine-se entrando em uma portaria perfumada por um vaso de jasmim. Um pouco mais à frente, no chafariz, alguns pássaros se banham e bebem água, e antes de acessar o hall dos elevadores, você pega algumas amoras no caminho e as come. Não é preciso nenhum exame clínico para aferir que você estará em um estado de tranquilidade benéfico para a sua vida”, comenta o profissional.
Mas, nem todos os lugares dispõem de espaço suficiente para se ter algo parecido com o exemplo dado pelo paisagista. Apesar disso, mesmo em condomínios pequenos é possível investir no paisagismo. “Uma excelente alternativa à falta de espaço é a utilização de vasos e cachepôs para trazer um pouco mais de verde. É muito importante apostar na planta certa e na montagem correta destes equipamentos, pois este tipo de erro – muito comum – é responsável pelo gasto desnecessário de recursos e desperdício de materiais”, diz.
Já o jardim vertical, que também costuma ser uma opção para locais com pouco espaço, requer uma atenção extrema antes de ser instalado, explica Kolya: “A moda agora é errar com os jardins verticais. O pior é que a culpa não é de quem compra, mas de quem vende a ideia sem explicar os riscos e os trabalhos envolvidos. Um jardim vertical precisa de muita atenção às questões de hidratação, infiltração nas paredes, super hidratação dos vasos que estão por baixo, recebendo o excesso de todos os que estão acima, folhagens de sombra em locais de sol, excesso de ventos e muito mais. Não quero desestimular a criação desses jardins, mas precisamos ser sérios em nossas recomendações. Muitas vezes, telas e grades podem ser utilizadas nas paredes para o crescimento de belíssimas trepadeiras”, frisa.
Entre as espécies mais populares atualmente, ele cita a costela de Adão, o ficus lyrata, a jiboia, a espada de São Jorge e a calathea lutea.
Tendências para os grandes centros urbanos
O paisagismo vem se tornando algo cada vez mais valorizado nos grandes centros urbanos. Neste sentido, o paisagista José Kolya destaca a tendência de ocupações de praças e avenidas de forma alternativa e inovadora, como em São Paulo, no Minhocão (elevado que conecta o Centro à região de Perdizes) e na Avenida Paulista aos fins de semana, quando é fechada e se torna uma área de lazer e convivência. Já nas cidades menores, isso é visto com menos intensidade, apesar de esforços como a construção de ciclovias, por exemplo.
“No caso dos condomínios, isso pode estar acontecendo de forma ainda tímida. É mais comum uma construtora empreender em uma área valorizada com parques do que projetar um parque dentro de seu empreendimento, e isso tudo porque obviamente o negócio é justamente a venda de espaço, e áreas muito grandes de lazer poderiam significar uma perda grande de retorno financeiro”, comenta.
Com relação às tendências de paisagismo nos grandes centros, ele destaca os jardins tropicais. “Na minha opinião, há duas razões principais. A primeira está relacionada à insolação reduzida, por conta de grandes prédios cada vez mais juntos, o que favorece o cultivo de grandes folhas originalmente recorrentes em sub-bosques sob a copa das árvores. A segunda questão é que naturalmente grandes centros urbanos vêm adotando o conceito urban-Jungle na tentativa de se reconectar com a natureza e reduzir as pressões visuais e psicológicas da vida na cidade, onde o espaço é cada vez mais caro e escasso.
Já especificamente falando dos condomínios, ele diz que há uma busca por espaços como hortas e bosques, sobretudo nos condomínios verticais. “Espaços para a prática de yoga, meditação e trabalho ao ar livre têm sido constantemente requisitados por meus clientes. Eu acredito que estar passivo às tendências é uma forma pouco eficiente de darmos mais qualidade às paisagens urbanas e, por isso, aposto em projetos que estimulem novos comportamentos. O trabalho do paisagista não se restringe apenas a adornar ambientes exteriores, mas sim conectá-los às pessoas e seus contextos locais, regionais, municipais, estaduais, nacionais, continentais e até mesmo globais. Desde a ideia de estimular a existência de abelhas polinizadoras até a criação de uma barreira de vento com árvores de folhagem densa, nosso compromisso deve sempre ir além do óbvio e do estético”, opina.
Dicas para configurar e manter ambientes de paisagismo no condomínio
- A limpeza e o corte são dois trabalhos essenciais para se manter um espaço bem cuidado;
- É preciso, ainda, planejar a irrigação. Não basta instalar um sistema e pronto. Tem que saber se de fato todo o jardim está sendo bem irrigado. O estudo tem que ser feito de maneira minuciosa e por um profissional experiente;
- É na concepção do projeto e na escolha de seus elementos e espécies que se define também a periodicidade da manutenção;
- Orçamentos de manutenção estão atrelados a área total a ser mantida e a especificidade de cada espécie ou equipamentos;
- Uma alternativa à falta de espaço é a utilização de vasos e cachepôs para trazer um pouco mais de verde.
Por: Gabriel Menezes