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O que são e quais as diferenças entre retrofit, reabilitação e restauro?

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 06/05/2021

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Embora a multidisciplinaridade seja uma das mais interessantes virtudes da formação dos arquitetos e urbanistas, ela pode se confundir com certa imprecisão e desvios a respeito da apreensão das possibilidades práticas da profissão quando interpretada de forma genérica. Vez ou outra, é importante reiterar as particularidades do grande leque que a palavra “projeto” supõe ao campo, já que são elas que produzem tipos de conhecimento específicos e nichos que podem e devem ser ocupados pelos arquitetos.

Neste sentido, muitos termos ligados à arquitetura são usados de forma análoga inadequadamente. Exemplo evidente disso ocorre na forma de referir-se, no que se pode entender de forma ampla, a intervenções em edifícios que já existem. Aparecem as palavras restauro, reforma, retrofit, requalificação, reabilitação de forma extensiva e quase sempre sinônima, o que exige a necessidade de algum esclarecimento.

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Restauro de apartamento de 1934 projetado por Le Corbusier e localizado na rua Nungesser-et-Coli, em Paris.

Em primeiro lugar, vale ressaltar que todas estas atividades pressupõem projeto. Todas estão ligadas à prática arquitetônica uma vez que demandam uma abordagem ligada ao pensamento do desenho no momento da intervenção. Levando isso em conta, é possível fazer uma primeira grande cisão entre esses termos: restauro é uma disciplina, conhecimento autônomo, que dentro do campo da arquitetura vem, desde o século XIX, discutindo a preservação do patrimônio cultural, enquanto as demais palavras são usadas essencialmente como variações de “reforma”.

Apesar disso, no correr do uso desse vocabulário no cotidiano do trabalho, algumas atribuições são vinculadas a palavras específicas. O mercado adotou o termo retrofit, por exemplo, para lidar com as obras de atualização tecnológica nos edifícios existentes. Existem escritórios especializados nesse tipo de prática, cujo trabalho reside na adequação das construções às normas técnicas locais, e adaptações para tornar os espaços funcionais e modernizados para responder às demandas contemporâneas.

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Transformação de 530 unidades habitacionais em Bordeaux / Lacaton & Vassal + Frédéric Druot + Christophe Hutin architecture. Imagem: © Philippe Ruault

Reabilitação costuma ser atribuída ao tipo de intervenção que pressupõe uma mudança de uso no programa do edifício construído, mas também visa uma atualização e reflexão acerca dos espaços, como em todas as reformas. O mesmo vale para outros nomes, como “requalificação”, “remodelação”, “renovação”, que são todos variações dentro do guarda-chuva de “reforma”.

Há inúmeros exemplos desse tipo de projeto disponíveis, e o que cria o limite para encontrá-los é o fato de que os objetos de intervenção não possuírem valor cultural ou patrimonial a ser preservado. Talvez o mais recorrente seja o de reformas residenciais, que podem explorar a condição da preexistência de forma respeitosa e interessada na manutenção de valores presentes, mas, a princípio, sem compromisso com a articulação de um discurso ou manutenção de uma referência cultural ou patrimonial de interesse coletivo.

O que diferencia fundamentalmente todos as demais terminologias de “restauro” é justamente o valor cultural que este atesta do objeto que sofre a ação de projeto. A disciplina do restauro está interessada em pensar os meios de projeto disponíveis para lidar com preexistências cuja relevância relaciona-se à narrativa histórica ou cultural. Assim, o objetivo de uma intervenção de restauro em geral está relacionado à preservação desse valor, e a forma como isso ocorre varia caso a caso. De fato, na maior parte das vezes, o restauro supõe uma série de reformas e readequações, mas sempre lançadas a um campo de debate e elaboração crítica.

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Museu Damião de Góis e as Vitimas da Inquisição / spaceworkers. Imagem © Fernando Guerra | FG+SG

Apesar da notável diferença de abrangência que esses termos convocam, é imprescindível considerar que todos referem-se à prática de projeto. Mais do que isso, os princípios colocados pelo restauro podem ser absorvidos pelos demais tipos de reforma, uma vez que trata-se, ante tudo, de um exercício do olhar sensível para o edifício construído.

Como o BIM pode tornar as reformas e retrofits mais eficientes

 

BIM (Building Information Modeling) é uma sigla cada vez mais usual entre os arquitetos. A maioria dos escritórios e profissionais já vem migrando ou planeja mudar para esse sistema, que representa digitalmente as características físicas e funcionais de uma edificação, integrando diversas informações sobre todos os componentes presentes em um projeto. Através dos softwares BIM é possível criar digitalmente um ou mais modelos virtuais precisos de uma construção, o que proporciona maior controle de custos, eficiência na obra. Também há possibilidade simular o edifício, entendendo seu comportamento antes do início da construção, e seu respectivo suporte ao projeto ao longo de suas fases, inclusive após construído ou na sua desmontagem e demolição.

A metodologia BIM é majoritariamente desenvolvida e aplicada para projetos novos de construção e seu potencial para reformas e retrofits ainda é muito pouco explorado. Se levarmos em conta as necessidades da sociedade para melhorar a qualidade espacial e o mau desempenho da grande maioria do estoque de edifícios existentes, especialmente no que diz respeito ao consumo de energia, o BIM pode contribuir para tornar as reformas e as modernizações (retrofits) mais eficientes, inteligentes e sustentáveis.

Por permitir um melhor controle das etapas de projeto, diversos governos, empresas e proprietários já vem solicitando a confecção de projetos em BIM, por possibilitar um maior detalhamento de orçamentação, planejamento e manutenção preventiva do empreendimento, e prever os possíveis erros na geração de desenhos de construção para diferentes áreas do projeto, além da verificação dos impactos das decisões de projeto e a identificação das incompatibilidades entre sistemas. Um projeto iniciado na plataforma BIM tem uma abordagem bastante diferente do que no CAD, já que não apenas sua geometria mais visível é representada, mas todos os seus componentes e mesmo elementos que não estão tão evidentes e podem influenciar nas decisões de projeto.

É inegável que trabalhar com reformas é sempre um pouco mais arriscado do que iniciar uma obra do zero. Há surpresas agradáveis e desagradáveis durante o processo, que necessitam de resoluções rápidas e precisas para evitar o desperdício de tempo e, sobretudo, de recursos. Para diminuir as possibilidades de percalços, o primeiro passo é investir em uma pesquisa e representação digital do ambiente ou da edificação. Para isso, tudo desde desenhos 2D em CAD ou conjuntos de documentos de construção constituem-se de informações valiosas para criar um modelo de construção. Evidentemente, se a edificação for mais antiga, é muito provável que todos os documentos estejam em papel, exigindo digitalização e trabalho extra. Há empresas especializadas em levantamentos, assim como processos que capturam digitalmente o ambiente usando lasers e scanners, através de nuvens de pontos ou fotogrametria, que pode ser feita através mesmo de drones.

Depois que a geometria é capturada, começa a parte mais difícil da introdução de dados sobre as instalações (tubulação, HVAC, eletricidade). Vale a pena o esforço, no entanto, já que com um modelo bem construído, fiel ao edifício a ser remodelado, tem-se uma base de dados que pode ser usada e atualizada durante todo seu ciclo de vida, desde a obra em si às manutenções programadas posteriores. Mais importante ainda, com um modelo BIM é possível entender e prever como o projeto será executado e como ele se comportará em questões como conforto térmico, lumínico, acústico, entre outros. Além disso, pode-se registrar no modelo e ter um maior controle das origens dos materiais, dos processos que passou e do destino adequado no caso de desmontagem.

Por exemplo, através de um modelo BIM é possível simular o aproveitamento da iluminação natural, elementos sombreadores, e mesmo o potencial de aproveitamento de energia fotovoltaica em determinado local. Se o modelo for completo o suficiente para abranger as instalações hidráulicas e de ar condicionado, é possível testar e propor modificações pontuais ou radicais que podem melhorar a eficiência dos sistemas. Evidentemente, o importante é ter a possibilidade anterior de calcular se o investimento será ou não coerente. Ou estimar rapidamente o desempenho real da energia, ao se substituir um determinado revestimento de fachada por outro com maior nível de isolamento ou outra cor, por exemplo. Ou mesmo, ter um relatório rápido dos créditos de carbono na edificação, auditando todos os materiais e processos, para uma possível certificação posterior.
Axonometric Design of Metal Structure – Casa Piedra Blanca / Pablo Lobos Pedrals, Angelo Petrucelli. Image

Além disso, o BIM permite uma maior cooperação entre os diversos consultores e atores envolvidos no projeto, além de um melhor gerenciamento do tempo e dos fluxos de trabalho, e, principalmente, auxiliar na detecção de quaisquer conflitos e incompatibilidades, tão comuns em obras de reforma e retrofit. Com o enorme estoque de edificações existentes em nossas cidades, aliado às preocupações latentes com a conversação dos recursos naturais e sustentabilidade, nada mais natural do que focar em desenvolver reformas e retrofits mais inteligentes, sustentáveis e eficientes. E o BIM pode contribuir muito para isso.

Fonte: Archdaily

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