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Doenças contagiosas no condomínio

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 13/10/2020

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Veja o que o síndico deve fazer para evitar que elas se propaguem e como prevenir o condomínio de epidemias e situações de risco

Mario Camelo

 

Doenças infectocontagiosas e surtos de doenças graves são assuntos que deixam qualquer síndico de cabelo em pé. Isso porque algumas dessas doenças são muito perigosas e facilmente transmissíveis. Num piscar de olhos, elas podem se alastrar, contagiando outros moradores. Assim, quando um morador contrai alguma doença deste tipo, é preciso acender um sinal de alerta. Mas sempre com o cuidado, é claro, de não constranger o condômino e nem causar alarme à toa, causando um clima desnecessário de insegurança aos demais moradores.

 

Quando notificar os órgãos de saúde?

De acordo com o Ministério da Saúde, em 2018, o país registrou um retorno alarmante do sarampo, doença altamente contagiosa que, em 2016, tinha sido considerada totalmente erradicada. No último ano, foram 106 casos confirmados no estado do Rio de Janeiro e 22 na cidade, segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os casos mais graves e o maior número deles, no entanto, aconteceu em São Paulo. Já em 2019, 10.620 casos foram diagnosticados até 30 de outubro, de acordo com um balanço da Secretaria Estadual da Saúde. Cerca de 56,6% do total de casos se concentraram na capital.

 

O Ministério da Saúde estabelece, aproximadamente, 50 doenças denominadas “doenças de notificação compulsória”, que são males cujo registro é obrigatório, universalizando a necessidade de notificações. O objetivo é ter um rápido controle de eventos que irão requerer pronta intervenção. Algumas delas são a coqueluche, a dengue, diversos tipos de febre, como a febre amarela, hanseníase, hepatites virais, leishmaniose, leptospirose, sarampo, tuberculose, entre outras. Vale lembrar que os caminhos de transmissão variam bastante de uma doença para outra. Algumas são transmitidas por vetores, outras por vírus (como uma simples gripe), outras por contato sexual etc. Ou seja, é difícil explicar com detalhes para os condôminos como se prevenir de todas elas.

 

Por outro lado, a Constituição Brasileira e os pactos internacionais de direitos humanos garantem que todos sejam tratados sem qualquer tipo de discriminação por conta da sua condição social ou de saúde. Portanto, o síndico deve ter muito cuidado para não expor indevidamente um morador que possua algum tipo de doença contagiosa, ferindo assim seus direitos. Isso porque pressupõe-se que quem é portador de qualquer doença infectocontagiosa já irá tomar os cuidados necessários para sua própria melhora e recuperação, bem como evitar o contágio dos demais.

 

A Dra. Mayumi Wakimoto, chefe do Serviço de Vigilância em Saúde do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), explica que o retorno de doenças como o sarampo é causado por diversos fatores como, por exemplo, uma baixa cobertura vacinal. O famoso “não lembro se tomei a vacina”.

 

“O sarampo é altamente contagioso e se propaga rapidamente. Se você tem uma população que não foi imunizada ou que foi imunizada de forma incompleta, você começa a ter casos da doença e ter mais pessoas suscetíveis. Foi o que aconteceu em São Paulo, o que acabou ocasionando a transmissão em massa. É por isso que se investe na campanha de vacinação e na verificação da imunização dos adultos”, diz.

 

No caso do sarampo, a especialista diz que não se pode dizer que trata-se de uma epidemia, mas sim de um cenário preocupante. Mas e o que deve ser feito se um morador estiver com suspeita de sarampo ou já identificado com a doença, por exemplo? Segundo ela, em caso de suspeita de sarampo ou de qualquer outra doença infectocontagiosa, é preciso checar qual é a Unidade de Saúde mais próxima. Em seguida, ir até o local ou notificar esta unidade para que o tratamento seja iniciado imediatamente.

 

“Na eventualidade de haver um caso dentro do condomínio, o local irá receber uma visita do agente de saúde, que irá orientar o síndico e todos os demais moradores com os quais o doente teve contato sobre instruções para a vacinação. Este é o procedimento indicado para os casos de sarampo, por exemplo, que há vacina. No entanto, há outras doenças, como a meningite, cuja contaminação se dá através de uma bactéria e não há vacina. Neste caso, a profilaxia se dá por medicamento”, explica a especialista.

 

Cuidados que o síndico precisa ter

Em um condomínio, moradores compartilham diversos ambientes como pátios, elevadores, corredores, piscina etc. Esses locais possuem objetos que facilitam a transmissão de doenças. Portanto, o primeiro passo para cuidar da prevenção – bem como evitar acidentes – é simples: a manutenção. Neste sentido, é essencial atentar-se não apenas aos procedimentos exigidos por lei, como laudos e vistorias, mas também aos pequenos processos de rotina e à limpeza das áreas comuns.

 

Outro ponto muito importante é tomar providências efetivas para educar os moradores, evitando assim que comportamentos de risco se propaguem. A utilização de cartazes informativos nas áreas comuns do prédio, por exemplo, é uma boa iniciativa. Eles trabalham na conscientização dos condôminos sobre boas práticas no dia a dia.

 

A Fundação Oswaldo Cruz e diversas outras instituições de saúde oferecem cartilhas e material informativo, que podem ser consultados e acessados tanto pela internet quanto pessoalmente. Compartilhar informação, na maioria dos casos, é sempre a melhor ferramenta.

 

Até aqui falamos de doenças bem graves, mas aquelas consideradas mais leves, como as gripes, não devem ser desprezadas. Elas são transmitidas por vírus, altamente contagiosas, e que com pequenas atitudes já é possível minimizar os riscos de que haja um alastre. As dicas são simples: lavar as mãos de forma correta, manter todos os ambientes do prédio limpos e arejados, proteger espirros e tosse com um lenço de pano ou de papel ou mesmo com as mãos e não compartilhar itens pessoais que possam contaminar outras pessoas.

 

Uma solução que começou a ser praticada por muitos condomínios e tem um ótimo custo-benefício é a instalação de um acionador de álcool gel. Ele pode ser instalado tanto na portaria quanto em outros ambientes de grande circulação, como próximo a lixeiras, no playground, salão de festas etc.

 

Doenças transmitidas por vetores e o verão

O verão é uma das épocas mais críticas quando pensamos em transmissão de doenças, pois é o período em que os temidos vetores chegam no auge do seu período de reprodução, quando entram em contato com a chuva. Apesar de não serem transmitidas via contato direto entre seres humanos e, desta forma, não serem consideradas contagiosas, as doenças causadas pelo Aedes Aegypti representam uma grande dor de cabeça dentro dos condomínios.  Afinal, o mosquito portador do vírus pode facilmente transmitir a doença para vários outros moradores, uma vez que pique o primeiro. Além disso, a proliferação de ovos do mosquito permeia diversas questões importantes de manutenção tanto das áreas comuns, mas também dentro das próprias unidades privadas.

 

A chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Insetos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a Dra. Rafaela Vieira Bruno, conta que a síndica do condomínio em que vive, o Elite Residences, de 97 unidades, localizado na Freguesia, soube que havia uma pesquisadora da Fiocruz entre os moradores especializada em vetores e não hesitou em pedir orientações sobre o famoso método do fumacê.

 

“Todos os condomínios aqui do entorno usam o fumacê, que era muito explorado antigamente. Eu tinha informações de que isso era prejudicial. Fui procurar a Rafaela e ela me explicou justamente isso”, conta a síndica Vânia Leite, que administra o condomínio desde maio de 2016.

 

Vânia convidou Rafaela e convocou uma Assembleia Geral Extraordinária para compartilhar as informações de conscientização sobre vetores e alguns dados estatísticos. “Esse foi o item exclusivo da pauta. A Rafaela trouxe vários prospectos com informações. Fizemos o mesmo trabalho com os funcionários. Todos, principalmente os que atuam com os serviços gerais, receberam as informações para aplicarem as ações de prevenção. Aproveitamos para realizar uma ronda no condomínio e identificamos tudo o que poderia ser melhorado para evitarmos a proliferação dos mosquitos e os possíveis criadouros”, relata Vânia, dizendo ainda que, hoje, eles brigam com os condomínios do entorno para que evitem o uso do fumacê, prejudicando assim a saúde dos moradores.

 

Segundo a pesquisadora Rafaela, a realização de palestras de conscientização de fato costumam surtir efeitos bem positivos. “Acho que o gestor deve sempre se informar sobre o que deve ser feito e repassar aos condôminos. Colocar cartaz no elevador, na caixinha do Correio, no mural… É válido que tenha um lembrete em todos os lugares”, diz ela, que lembra de locais até então inesperados que podem servir de criadouros, como as bandejas de geladeiras e os ralos, que necessitam de adequação com telas. “É importante que não deixem de usar mosquiteiro nesta época, não apenas por conta do Aedes Aegypt, que transmite mais de 30 vírus, entre os da Zika, dengue e Chikungunya, mas também para evitar o mosquito da noite. E sempre usar os repelentes que já são aprovados pela Anvisa, nunca os caseiros. Afinal, eles já foram testados e os componentes são conhecidos”, orienta.

 

E a última dica: seja lá qual for o caso de doença, que o síndico mantenha sempre a calma quando notar que um condômino possui sintomas ou um diagnóstico de doença contagiosa. Ele deve se lembrar que um dos seus objetivos é o de promover uma convivência harmoniosa para todos e que com os cuidados adequados, todo o perigo pode ser evitado.

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