Gabriel Menezes
As festas de fim de ano são ocasiões que, geralmente, inspiram moradores e síndicos a renovarem o visual do condomínio. Mas, quando esta mudança significa refazer a pintura das paredes e fachadas, é preciso estar por dentro das novidades e tendências para evitar desperdícios e trabalhos que precisam ser refeitos.
Escolher uma cor e um tipo de tinta pode parecer à primeira vista uma tarefa simples, no entanto, o segmento vem evoluindo tanto nos últimos anos que o leque de opções é cada vez maior e o risco de acabar cometendo equívocos, também. Por conta dessa ampliação, o setor possui no Brasil, desde 1985, a Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati), entidade que representa a cadeia produtiva de tintas, reunindo fabricantes e seus fornecedores.
De acordo com Carlos Roberto Thurler, gerente de marketing da Lukscolor, empresa do segmento com atuação em todo o país, a Abrafati possui um programa setorial de qualidade, desenvolvido em parceria com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e o Ministério das Cidades, para estabelecer uma qualificação para as tintas usadas para pintura de alvenaria. Elas são classificadas como Econômica, Standard, Premium e, mais recentemente, a Super Premium. “Cada uma delas especifica uma série de fatores que qualificam a tinta, considerando durabilidade, lavabilidade, cobertura e rendimento. Por isso, é sempre muito importante que em um processo de definição de pintura, os responsáveis observem qual a classificação da tinta que está sendo utilizada e os resultados esperados quando se utiliza uma delas”, explica Thurler.
A escolha, segundo ele, deve levar em conta principalmente as características do local: “A escolha da cor é sempre uma decisão que deve respeitar o coletivo, mas também observar esse tema da durabilidade e não desbotamento. Agora com relação à qualidade, essa decisão é técnica. Locais mais úmidos, com mais exposição ao sol, maresia, poluição, áreas de grande circulação ou de difícil acesso para limpeza influenciam na durabilidade das tintas. Por esse motivo, é muito importante escolher a tinta correta, porque certos processos de pintura demandam tempo, recursos especiais e outros detalhes que impactam no custo da pintura e que não podem ser prejudicados pela escolha de um produto de qualidade não compatível”, frisa o gerente.
Segundo ele, muitas vezes o consumidor acaba se decidindo por uma tinta econômica ou standard por conta do menor preço, mas elas inevitavelmente resultarão na necessidade de uma repintura em um tempo muito mais curto. “As tintas Premium e Super Premium tem uma relação custo benefício muito melhor: duram mais, retém mais a cor, tem mais lavabilidade e protegem muito mais a superfície”, conclui.
Tecnologia aumenta a eficácia contra danos nos imóveis
Pintura é uma questão de estética, mas é também uma questão de prevenção. E, com a evolução da tecnologia, as tintas vêm se tornando cada vez mais eficientes não só em relação à durabilidade e brilho da sua cor, mas também quanto a proteção da estrutura da construção. De acordo com Florencia Ordóñez, gerente de categoria de tintas para exterior da AkzoNobel – uma das principais fabricantes de tintas do planeta – , uma das novidades surgidas nos últimos anos, por exemplo, é a tinta com proteção para sol e chuva, que possui alta durabilidade e traz em sua fórmula a tecnologia do polímero flexível, que acompanha os movimentos das paredes e faz a tinta esticar e voltar, protegendo as paredes externas contra fissuras, mofos e algas. “Esta opção forma uma película emborrachada flexível que previne e combate a entrada de água e, consequentemente, infiltrações, fissuras, algas e mofos. A tinta estica e volta junto com os movimentos de dilatação e contração das paredes, por isso não acontece as microfissuras. A elasticidade da tinta dura mais tempo. E, com isso, permanece impermeável por muito mais tempo. Vale mencionar que a durabilidade das pinturas depende não somente da qualidade e adequação dos produtos aplicados, mas também da condição da superfície, sua preparação, a expertise na aplicação, seguindo as orientações do fabricante, a cor selecionada e a exposição às intempéries como sol e chuva”, explica.
Segundo a executiva, uma parcela expressiva da população ainda compra a mesma tinta premium para pintar interiores e exteriores, não escolhendo produtos especialmente projetados para resistir a condições climáticas adversas. “A maioria desconhece a existência de tintas impermeabilizantes com película flexível e da sua diferença em relação à tinta premium comum. Da nossa parte, há uma necessidade crescente de tranquilizar e informar os consumidores, e também os pintores profissionais, sobre os benefícios de nossos produtos de uma perspectiva técnica, mostrando tecnologia e como eles funcionam”, conclui.
Pesquisa indica cor que será tendência em 2020
A AkzoNobel realiza há 17 anos pesquisas anuais para definir quais cores estão em alta e serão tendência pelos próximos meses. Para o trabalho, são convidados profissionais renomados de diversas partes do mundo. Em 2019, pela terceira vez consecutiva, as artistas plásticas brasileiras Carlota Gasparian e Adriana Pedrosa levaram as impressões da América Latina para ajudar a compor o trabalho. Elas estiveram ao lado de outros especialistas em design, tendências, cor e arquitetura que proporcionaram uma imersão em insights globais, o que colaborou com a busca em compreender o que pensam os consumidores.
Para 2020, o estudo chegou à conclusão de que a cor tendência do ano será um tom delicado entre verde, azul e cinza (na empresa, a cor foi batizada de “Praça no Inverno”). “A cor do ano captura o questionamento de 2020 do que nos faz humanos, o mote deste ano e o estudo buscou as cores para valorizar essas qualidades, as quais precisaremos na nova década em que estamos entrando”, explica Fernanda Figueiredo, gerente de cores e comunicação de marca da área de tinta decorativas da empresa na América do Sul.
De acordo com o trabalho, algumas tendências foram percebidas sobre os consumidores. A primeira delas é que as pessoas querem se importar mais. A vida moderna e forte dependência da tecnologia e redes sociais significa que as pessoas estão se sentindo desconectados das coisas que realmente importam – as relações, o bem-estar, as comunidades, o ambiente construído e o mundo natural. Há um desejo crescente de construir laços reais, de se conectar com pessoas, com a natureza – e de se perguntar como podemos contribuir com a sociedade.
A segunda tendência percebida é a de que as pessoas querem se divertir. “À medida que vivemos, cada vez mais, sob o prisma das redes sociais, há um desejo crescente de criar espaço para momentos alegres, experiências inesperadas e encontrar prazer no mundo real. Isso significa valorizar a imaginação e estar aberto a encontrar novas maneiras de desafiar o pensamento ultrapassado”, destaca a análise.
Além disso, foi identificado um desejo de reconexão na vida real: “Os analistas de tendências perceberam que, neste mundo agitado e digitalizado, muitas vezes superficial, nos falta profundidade e sentido. O avanço rápido da tecnologia está nos fazendo questionar nosso propósito, palavra tão utilizada nos dias de hoje. Com isso, pode ser difícil sentir calma e relaxar, ainda mais vivendo em cidades cada vez mais populosas”, concluiu o estudo.
Por último, foi percebido um desejo das pessoas em serem mais criativas. “Com o crescimento da globalização, mecanização e tecnologia, nossa capacidade para a criatividade diminui à medida que as realidades virtuais, cada vez mais sofisticadas, soltam nossos elos com o mundo real. Parece ser a hora certa de fazer a pergunta fundamental: o que nos torna especiais e distintos dos robôs?”.
Antes de pensar em mudar o visual do condomínio, síndico precisa seguir a lei
A decisão de mudar as cores das paredes, fachada e tetos do condomínio não é algo que caiba exclusivamente ao síndico. De acordo com o Código Civil, para qualquer alteração nas áreas comuns é preciso a convocação de uma assembleia com item de pauta adequado e a aprovação pelo quórum mínimo de dois terços dos condôminos. “Caso o procedimento não seja devidamente seguido, o condomínio pode sofrer uma ação de declaração de nulidade do ato praticado pelo síndico, sendo obrigado a repor as cores originais. O síndico pode ter sua conduta julgada pela assembleia, sofrer penalidades previstas na convenção e ser obrigado a reembolsar o condomínio de todos os prejuízos experimentados e, ainda, ser destituído”, explica o advogado especialista em Direito Imobiliário André Luiz Junqueira, da Coelho, Junqueira & Roque Advogados, empresa parceria da APSA.
Segundo ele, é preciso, ainda, ficar atento às leis que regulam alterações de fachada, que podem gerar problemas judiciais ao condomínio. “Do ponto de vista do Direito Civil, tanto o Código Civil quanto a antiga Lei 4.591/1964 deixam claro que o condômino não pode alterar suas partes externas. Por outro lado, do ponto de vista do Direito Urbanístico, a alteração do projeto arquitetônico pode gerar sanções da prefeitura local”, destaca o advogado.
Ele ressalta que o tema é recorrente nos tribunais: “Considerando que há pouca uniformidade de entendimentos jurídicos sobre o assunto, é comum a discussão terminar no Judiciário. Para evitar isso, o condomínio deve buscar assessoria jurídica desde os primeiros passos, pois se consultar com um advogado somente para propor ou se defender em uma ação judicial é como buscar um médico somente quanto é hora da cirurgia, quando o estado do paciente pode já ser irreversível”, finaliza.