Juliana Marques
Um dos maiores desafios das grandes cidades é o controle das pragas urbanas que podem ser responsáveis pela propagação de doenças na população. O crescimento desordenado de moradias em locais inadequados, a falta de saneamento básico, falhas na coleta de lixo, a escassez de aterros sanitários e, principalmente, a falta de educação das pessoas contribuem para o aparecimento de ratos, baratas, formigas e outros tipos de vetores nos lugares em que vivem.
Nos condomínios residenciais, o cuidado deve ser o mesmo e a desinsetização preventiva é obrigatória. De acordo com a lei 1353/88, do Rio de Janeiro: “ficam obrigados a desinsetizar e desratizar suas instalações, de acordo com as exigências técnicas da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), do órgão fiscalizador profissional competente e da Secretaria Municipal de Saúde, condomínios de edifícios comerciais e residenciais. ” Portanto, é responsabilidade do condomínio controlar infestações de baratas, roedores, cupins, mosquitos e outras pragas que afetem a vida dos moradores. Mas como se prevenir?
A recomendação é que a dedetização seja feita com regularidade em áreas comuns do condomínio, como salão de festas, churrasqueiras, garagens, corredores e principalmente as lixeiras, local bastante estratégico. Este prazo pode variar já que cada condomínio tem necessidades e características diferentes como, extensão de área verde, tamanho de área comum, proximidade com córregos, infestações de pragas na região, etc. O ideal é manter o cuidado com essas áreas o ano todo, pois dessa forma, o local estará sempre protegido em casos de infestações sazonais, por exemplo.
Para Jorge Oliveira, gerente comercial de uma empresa especializada em dedetização, os condomínios podem concentrar uma grande quantidade de pragas e vetores urbanos dentro de sua estrutura, caso o processo de prevenção não seja feito com regularidade. “O artigo 3º da Lei estadual 7.806/17 determina que a periodicidade deva ser minimamente mensal. Quer seja para a aplicação de produtos ou, simplesmente monitoramento”, alerta.
Após escolher o prestador de serviços é importante que a empresa faça uma visita ao condomínio para fazer um diagnóstico de qual melhor estratégia a ser utilizada. Essa avaliação também ajuda a escolher o produto mais indicado e de que maneira poderá ser aplicado no local. A empresa é responsável por passar todo o tipo de informação sobre as etapas de execução do serviço assim como fornecer todo o equipamento de proteção individual (EPI) adequado para o trabalho.
Por lidar com pesticidas, é fundamental que a empresa contratada siga todas as recomendações legais. Segundo o gerente da Biovet, as dedetizações mais comuns em condomínios residenciais são contra baratas, formigas, desratização contra roedores, controle de colônia de cupins de solo ou de madeira seca. “O produto pode ser aplicado através de gel (baratas e formigas), pó de contato, iscas granuladas ou blocos parafinados (roedores em geral), pulverização em bueiros e lixeiras (baratas e formigas) e atomização espacial (mosquitos), além da aplicação de larvicida em córregos e águas acumuladas”, comenta Jorge Oliveira.
Tipos de dedetização
Qualquer tipo de dedetização possui uma aplicação específica e direcionada em controlar determinada praga. Nunca é utilizado o produto químico de uma praga para eliminar a outra. Conheça os tipos mais comuns e utilizados em condomínios:
MIP (Manejo Integrado de Pragas) ou CIP (Controle Integrado de Pragas)
O controle integrado de pragas é um conjunto de atividades educativas, corretivas e preventivas para eliminar todos os elementos que atraem as pragas: água, alimento, acesso e abrigo. O monitoramento é constante para controlar as pragas de maneira eficiente. É um serviço feito a longo prazo e por contrato.
Iscas
O método de iscagem pode ser utilizado para várias pragas como baratas e ratos. Normalmente se utilizam armadilhas para monitoramento de acordo com a infestação do local com caixas porta iscas para aumentar o grau de segurança.
Pó químico
Esse método consiste na aplicação de um pó seco com alto poder de penetração e que é resistente à água.
Pulverização
Pode ser líquido em gotas maiores ou atomizado com gotas menores e mais leves. O inseticida paira no ar por alguns instantes e, assim, consegue penetrar em frestas.
Gel
Como o gel é aplicado em pequenas doses, pode ser usado em qualquer ambiente, principalmente os mais sensíveis, como dentro de residências, hospitais e restaurantes, por exemplo. Ele é imperceptível, não mancha, não tem cheiro e não exala gases tóxicos.
Cuidados da dedetização
O controle físico das pragas é muito importante, mas é preciso estar atento a alguns cuidados. A desinsetização não pode ser realizada junto com a limpeza da caixa d’água, por exemplo, pois o veneno passado nas áreas comuns pode contaminar a água. Esse é um cuidado muito importante porque muitas empresas fazem os dois serviços ao mesmo tempo. A caixa de gordura do condomínio não pode estar com a tampa quebrada, assim como paredes não devem apresentar rachaduras ou fissuras. Os ralos, por sua vez, devem estar sempre tampados.
É importante que os moradores sejam avisados com, pelo menos, 48 horas de antecedência sobre o serviço a ser realizado, justamente para que possam aguardar e não circular em áreas que acabaram de sofrer pulverização. É importante verificar junto à empresa se há necessidade de retirar crianças ou animais domésticos durante a aplicação do produto, e sobre a restrição de sua circulação no período posterior, para comunicar aos condôminos.
Geralmente, enquanto os técnicos aplicam os produtos químicos, a orientação é que os moradores fiquem dentro dos apartamentos, pois o veneno pode incomodar os mais sensíveis, como crianças, idosos e animais de estimação. “Nos casos em que o combate se der através do método convencional, ou seja, pulverização de líquidos (caldas inseticidas), devemos afastar as pessoas e os animais domésticos. Quando a aplicação é feita por produtos em gel, não é necessário tal cuidado. Para amenizar os possíveis efeitos, a pessoa pode passar um pano úmido em determinados locais da casa”, orienta Jorge Oliveira.
A lei assegura a garantia de, no mínimo, 30 dias sobre esse tipo de serviço, mas normalmente as empresas oferecem uma cobertura maior, que varia de três a seis meses. Algumas, inclusive, aceitam ser acionadas caso animais, como ratos, apareçam mortos nas áreas comuns do condomínio para fazer a remoção.
Além do cuidado recorrente, outro ponto positivo é o valor anual do contrato de manutenção com o prestador de serviço. Geralmente, um pacote de cuidados ao longo do ano pode custar até 30% mais em conta do que pagar pelos mesmos serviços de maneira avulsa. Vale lembrar que para efetuar qualquer contratação que impacte nas finanças do condomínio, o síndico deve levar o assunto em assembleia.
Síndico há três anos do condomínio Village do Maciço, em Vargem Pequena, Fabio Regis Barroso, conta que a dedetização é feita uma vez por semana porque o condomínio está localizado em um ambiente propício para a proliferação de insetos. “Devido a grande área de mata em torno do condomínio, além de um rio que passa próximo, existe a necessidade de tentar controlar a proliferação de mosquitos, principalmente por causa das doenças que eles transmitem”, explica.
Na opinião de Fabio, além de contratar uma empresa especializada, o síndico deve procurar fazer campanhas educativas com os moradores para orientá-los a terem cuidado com o acúmulo de água parada dentro de suas residências e manter preservado o ambiente natural que o cercam. “O maior benefício da dedetização, sem dúvida, é o controle da proliferação de mosquitos, mas, apesar dos produtos passarem por um controle de qualidade, sabemos que eles agridem o nosso ecossistema por isso, contratamos uma empresa preocupada com as questões ambientais e que aplica os produtos apenas uma vez por semana”, afirma.
Sustentabilidade
Controlar as pragas urbanas não é uma tarefa fácil e eliminar 100% dos insetos e animais é praticamente impossível. Os métodos de controle utilizados hoje para a dedetização de pragas são variados e em sua maioria altamente venenosos, pois utilizam diversos produtos químicos em sua composição. A aplicação e o manuseio desses produtos devem ser feitos de forma adequada e por um profissional capaz de diferenciar suas utilizações, porém, além dos serviços de dedetização é necessária a manutenção de um ambiente limpo e higienizado para minimizar o aparecimento de pragas indesejadas.
O engenheiro agrônomo, Marcio Mattos de Mendonça, afirma que antes de avaliar e definir qual melhor método é importante compreendermos que em um ambiente natural um organismo se torna praga quando ocorre algum desequilíbrio ecológico. “O ambiente alterado pela ação do ser humano rompe os mecanismos de autocontrole de populações naturais e gera condições para a proliferação de pragas”, explica.
Marcio acredita que o controle mais eficaz é a adoção de métodos biológicos e procedimentos que minimizem o aumento de populações indesejadas de organismos que potencialmente podem se tornar pragas urbanas. “O controle químico tem certo grau de eficácia, mas também pode submeter riscos à população humana e gerar como consequência um maior desequilíbrio ambiental. Alguns métodos são bastante eficazes e simples como não deixar caixas d`águas e recipientes com água disponíveis, evitando o aparecimento de transmissores de doenças, como dengue, chikungunya, leptospirose, entre outras; evitar acúmulos de lixo, em especial material orgânico, e colocá-lo em local adequado; cuidar dos animais domésticos, levando-os sempre ao veterinário para prevenir a transmissão de zoonoses às pessoas e etc.”, enumera.
Mesmo com uma ação eficaz contra as pragas, se ela não for aplicada juntamente a uma mudança nos hábitos de higiene e na forma de descarte de lixo, dificilmente o problema será eliminado, pois existindo o acesso e a oferta de alimento, certamente haverá o aparecimento de novos indivíduos. Pense nisso!