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Churrasqueira? Que nada, eu quero a senha do WiFi

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 14/10/2020

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Mario Camelo

Não é de hoje que escutamos a expressão “condomínio-clube”. Os condomínios estão oferecendo cada vez mais vantagens, serviços e opções de lazer aos seus moradores e um dos grandes destaques em lançamentos nos últimos anos são as chamadas lan houses ou salas de internet. Verdadeira febre lá nos primórdios da internet banda larga, as lan houses eram os lugares preferidos de onze entre dez adolescentes, que utilizavam o espaço principalmente para se divertirem com jogos. Não demorou para essa mania se espalhar pelos grandes condomínios como espaços de convivência focados nos jovens e adolescentes. Hoje, mesmo com o surgimento de novas tecnologias e funcionalidades bem práticas como os smartphones, esses espaços mantiveram sua importância, ou então, ganharam novas funcionalidades.

Local serve para estudo e até para trabalho

No Condomínio Quartier, de 864 unidades, localizado no Largo do Machado, a antiga lan house, hoje é chamada de sala de internet e continua movimentando os moradores, que se revezam diariamente, das 9h às 21h, para aproveitar a conexão e as funcionalidades do espaço, inclusive nos sábados e domingos. Entre as 36 opções de lazer que o condomínio oferece, a lan house continua sendo uma das mais procuradas.

“O espaço foi inaugurado há 10 anos, junto com o lançamento do edifício. Surgiu como uma lan house, pois foi projetada durante aquele ‘boom’ desses ambientes no início dos anos 2000, mas hoje, funciona como um home office mesmo, um espaço de cultura e informação para todos os moradores, e está localizado dentro da biblioteca”, explica João Ferraz, gerente de negócios da APSA, responsável pela gestão do condomínio.

O ambiente conta, atualmente, com dez computadores, e, segundo Ferraz, a utilização é bem grande. “Esse é um espaço completo no Quartier. O condômino pode acessar à internet e ao mesmo tempo, pode utilizar a biblioteca, caso precise estudar ou consultar alguma outra dúvida que não encontre nos computadores. Lá, o morador tem todo acesso à cultura e à informação, num ambiente silencioso e tranquilo, no qual as pessoas podem chegar e trabalhar, se quiserem. É uma realidade que facilita muito para todos os moradores, especialmente para os pequenos e os mais idosos, que nem sempre dispõem de um bom serviço em casa e acabam optando pelo espaço do condomínio”, diz.

Segundo Ferraz, ter um ambiente como esse num condomínio tão grande implica na necessidade de estabelecer regras claras para que o seu funcionamento seja eficaz e funcional. “Os moradores têm uma senha e acesso livre ao local. Somente os mesmos podem usar, não disponibilizamos o espaço para convidados. E quando o morador é novo, ou se ele não tem acesso, é bem simples. Basta procurar a Administração e se cadastrar. Assim também conseguimos manter a boa organização e o fluxo de utilização funcionando sem problemas”.

A sala de internet do Quartier conta com um mobiliário específico e apropriado, que dá mais conforto aos frequentadores, além de sofás e estantes. “É um ambiente bem aconchegante, ideal para estudar ou trabalhar com bastante concentração”, completa.

Ferraz explica ainda que esses espaços já foram mais comuns em condomínios grandes como o Quartier e que, ao longo dos anos, muitos foram se adaptando, transformando suas funções e sua atmosfera, que, hoje, chega a lembrar um coworking. “Na prática, acaba sendo isso. E dentro desse cenário, devem existir regras claras, como em qualquer situação. É preciso, por exemplo, criar um regulamento para termos um controle da situação, organizarmos melhor os horários, fazermos a manutenção periódica dos computadores e do espaço, entre outras coisas”, explica Ferraz.

O profissional lembra ainda que é importante estabelecer alguns limites. “No Quartier, nós temos bloqueios em alguns sites para evitar o acesso à pornografia, por exemplo. Isso é importante, até porque crianças e idosos podem usar o espaço e as ferramentas disponíveis, e não podemos correr o risco de comprometer a boa convivência e até mesmo a segurança da rede”, lembra ele, sugerindo a utilização de um antivírus de confiança e de outras funcionalidades que possam proteger o espaço e os equipamentos.

“Nós também tivemos que destacar um funcionário exclusivo para atender os moradores no local, organizar o tempo de utilização para que todos possam ter o mesmo benefício, tirar dúvidas e até ajudar os que não costumam fazer utilização constante de tecnologia, como os condôminos mais idosos”, diz ele, que conclui: “As pessoas precisam entender que a lan house é um espaço de cultura e informação. Esse sentido não pode se perder”.

Dicas para utilizar melhor o espaço

Além de criar um regulamento específico para a utilização do ambiente, garantir a segurança da rede e bloquear alguns tipos de sites, o síndico que possui espaços como esse deve tomar alguns cuidados.

Criar regras de utilização bem claras e deixá-las expostas no local é um item básico para o bom funcionamento do espaço. Restringir downloads e criar um tempo de utilização para cada morador vai facilitar a boa convivência e a democratização do espaço. A manutenção também deve ser obrigatória, bem como uma boa rede de segurança, além de programas que possam facilitar o acesso e a utilização pelos moradores. Para isso, o ideal é consultar um especialista que possa recomendar as melhores práticas, de acordo com o tamanho e o fluxo de utilização da sala de computadores.

O síndico deve ainda lembrar aos condôminos que os mesmos também são responsáveis pela manutenção do equipamento e pelo zelo de seus pertences enquanto estejam utilizando o espaço. Deixar avisos espalhados na sala para evitar possíveis problemas é uma boa dica.

E se o orçamento permitir, contratar um funcionário para ser monitor da lan house é o ideal. “A nossa experiência no Quartier mostrou isso. É um custo de mais um funcionário, porém, ele se transforma em economia a longo prazo”, completa João Ferraz.

O futuro desses ambientes

A tecnologia não para de avançar. Hoje, ao toque do dedo indicador, temos acesso à toda e qualquer informação que quisermos bem ali no telefone. E no atual ritmo de desenvolvimento de novas tecnologias, as lan houses podem perder seu lugar ao sol ou se adaptarem, virando salas de leitura, coworking, etc. “Hoje, por exemplo, eu vejo mais sentido em ter um WiFi disponível para todos no condomínio do que uma lan house”, diz a síndica Leda Rocha, do Condomínio Reserva Botafogo.

O condomínio, de 136 unidades, foi construído no início dos anos 2000, começou a ser vendido em 2009 e foi entregue em 2013. De acordo com a síndica, no início da construção, existia uma demanda grande por espaços como as lan houses, mas, quando o condomínio foi lançado, quase quinze anos depois, isso tinha mudado um pouco. “Na época, não tínhamos WhatsApp, a popularização de Smartphones… Então, inicialmente a lan house foi projetada com muita expectativa”, explica ela.

O espaço contava com cinco estações de utilização, cadeiras apropriadas, impressora, mobiliário, etc. “O prédio foi entregue no final de 2013. Ainda em 2013 e 2014, alguns condôminos utilizaram a sala, mas com o passar dos anos, a utilização caiu um pouco. Talvez pela nossa localização ou por falta de interesse, mas fomos sentindo essa queda. Aos poucos, foi acontecendo um desmonte: um dos síndicos trouxe um laptop para utilizarmos na Administração, depois veio a impressora… Enfim, a sala foi se desfazendo gradativamente”, conta ela.

Leda explica que, hoje, está estudando uma maneira de transformar o espaço e adaptá-lo. “Infelizmente não é uma demanda dos nossos moradores, mas eu entendo que a lan house ainda seja um espaço muito interessante e funcional em condomínios de grande porte”, opina.

Apesar da experiência de Leda no Reserva Botafogo, as lan houses continuam no radar das grandes construtoras e são espaços de lazer garantidos em novos lançamentos, especialmente de condomínios-clube. Segundo uma pesquisa de 2017 do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), entre 2005 e 2008, especialmente, quando os computadores e a banda larga tornaram-se mais acessíveis, a quantidade de usuários dos cybercafés aumentou bastante. Nesse período, os consumidores cresceram 75% e o acesso à internet por lan houses era maior no Brasil do que a internet doméstica, fazendo delas a principal forma de se conectar à web. Aos poucos, isso foi mudando, e a partir de 2010, no entanto, o acesso doméstico voltou a superar as lan houses.

Atualmente, 28% dos brasileiros têm nesses espaços uma das formas de se conectar à internet, de acordo com dados do TIC Domicílios e Usuários de 2015. O mesmo estudo diz que 67% do acesso é feito em casa. Já o ‘Censo Coworking Brasil’, de 2017, também do Sebrae, revelou que, em apenas cinco anos, estes espaços compartilhados de trabalho movimentaram 82 milhões de reais em 2016, e registraram crescimento acima de 100% no mesmo ano. Isso mostra que as lan houses ainda têm sim sua funcionalidade e seu propósito, mas que, aos poucos, vão se adaptar, deixando de ser “casas de jogos”, e adquirindo ares mais modernos.

“A tecnologia avança desenfreadamente e cabe a nós, como síndicos, estarmos atentos às mudanças e às necessidades tecnológicas e práticas dos condôminos”, completa Leda. A nós, não nos resta muito. É esperar para ver.

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