Todo mundo quer uma varanda
Por Cidades e Serviços
Última atualização: 29/01/2013
Edição 205 Nov/Dez 2012, Edições
Uma reclamação constante de quem sempre morou em casa e em dado momento da vida se mudou para um apartamento, sem dúvida alguma, é a falta do quintal. Em apartamentos, quem acaba assumindo o papel da área aberta para o convívio social é a varanda. Mas quando ela não existe? Alguns condomínios trataram de construí-la – um investimento que amplia o espaço e valoriza o imóvel.
Cada dia mais o acesso ao ar livre e o contato com áreas abertas tem se tornado pré-requisito na hora de escolher um imóvel para viver. Em apartamentos esse quesito pode ser um grande desafio, por conta disso, atualmente, a grande maioria dos edifícios novos ou em construção já contam ou planejam um espaço voltado para a varanda, facilitando assim esse contato. As varandas hoje em dia deixaram de ser um espaço esquecido, um local de depósito de materiais, vasos de plantas, bicicletas e varais, e têm sido desenhadas pelas construtoras para se tornar um cômodo de destaque, principalmente para o convívio familiar.
Alguns prédios antigos, por sua vez, não contam com esse espaço, já que a legislação vigente na época em que foram construídos inibia a construção das varandas. Foi o caso do edifício onde mora a aposentada Leila Martins, de 68 anos. A síndica do condomínio do Edifício Claude DeBussi, em Ipanema, comprou o imóvel sem a sacada, e o apartamento de125 metros quadradosaté satisfazia a proprietária, mas com o passar do tempo, a ideia de construir uma varanda falou mais alto. Foi quando ela e seus vizinhos decidiram investir e realizar uma grande obra no prédio para criar o espaço. “Tínhamos a ideia, mas faltava colocá-la em prática. O edifício tinha um recuo até a calçada, e o escritório de arquitetura que contratamos fez um projeto para aproveitar o espaço com a colocação de uma varanda pequena”, conta Dona Leila.
A síndica atenta que a fase mais demorada para a construção da varanda acabou sendo a licença junto à Prefeitura, e salienta a importância de se realizar o projeto nos trâmites legais. “Foram dois anos de aprovação junto à esfera pública e 10 meses de obras, ou seja, a licença demorou mais do que a própria obra”, pondera a síndica.
Um dos requisitos para aprovação na Prefeitura é de que a obra tenha o aval unânime de todos os condôminos. No prédio em Ipanema, o grande argumento de alguns moradores contra a intervenção eram os custos para o condomínio e os possíveis contratempos que a obra poderia causar na rotina do prédio. Dona Leila mesmo, na época moradora, preferiu deixar o apartamento vazio na época para evitar maiores transtornos.
A balança dos prós e contras, no entanto, pesou mais pelo pontapé inicial da obra. “O prédio ficou mais bonito, ganhei um cômodo de25 metros quadrados. Além disso, meu imóvel está mais valorizado, a procura para aluguel aumentou”, aponta Leila. O projeto das varandas, incluindo a construção, custou cerca de R$50mil e contemplou 15 apartamentos.
A construção
As varandas são hoje uma das principais áreas sociais da casa e contribuem para a iluminação e ventilação, e consequentemente para o conforto térmico do interior do apartamento, especialmente no Brasil, que possui clima tropical e faz calor.
O escritório HCH Arquitetura, trabalha há 10 anos no mercado imobiliário do Rio de Janeiro e é especializado na construção de varandas. Sérgio Fagerlande e seu sócio Hugo Hamann, acompanharam a trajetória da legislação municipal acerca da liberação da construção dessa área extra nos condomínios e por conta disso, entendem bem do assunto.
Fagerlande acompanhou dezenas de projetos em todo o Rio de Janeiro, desde prédios no Leblon e Ipanema, até edifícios na Ilha do Governador, Zona Norte da cidade. E diante deste público tão vasto, adquiriu experiência em driblar entraves e encontrar soluções para que o sonho da varanda não fique apenas no papel. Para o arquiteto, os desafios para iniciar a obra começam dentro mesmo do condomínio. É importantíssimo que todos os moradores aprovem a ideia, o que segundo ele, nem sempre é fácil. Sérgio argumenta que só vê benefícios para o desenvolvimento desse tipo de projeto. “Varandas são um ponto a favor na valorização do imóvel, e o ganho de área é incrível. Em alguns apartamentos, com o avanço do prédio para frente, a vista acaba sendo privilegiada. Em apartamentos não se tem muito como aumentar a área, não se dá para construir para cima nem para baixo”, brinca o arquiteto.
Como a maioria dos projetos de varandas são voltados para prédios antigos da década de 70, uma solução teve que ser pensada para se adequar todo o peso da nova construção e sua fixação na construção antiga. A ideia foi o uso de estruturas metálicas independentes. “As estruturas metálicas são montadas independentemente do prédio. As fundações são feitas, e a ligação dessas estruturas com o edifício é pequena. Ela se suporta sozinha”, explica Sérgio.
A arquiteta Mônica Cockell também já fez diversos projetos de varandas e, segundo ela, também existe a possibilidade de se criar varandas que aproveitem parte de um dos cômodos do imóvel, por exemplo. “Se a área já existir, como no caso de apartamentos do térreo, o procedimento é muito fácil. Trata-se de fazer a impermeabilização e aplicar os materiais de acabamento”, esclarece a arquiteta.
Os custos para se construir varandas a partir de um espaço pré-existente são menores, especialmente por demandar menos gastos com as obras. “Considerando o interesse atual pela sustentabilidade, o estilo de construção adotada nos anos 70 e 80, principalmente, em que foi adotado um padrão aonde prevalecia o uso de panos de vidro nas fachadas, a opção de criar varandas não só é esteticamente bem vinda, como favorece um uso mais racional de sistemas de refrigeração e iluminação dos ambientes”, aponta Mônica.
Com a normatização da construção das varandas, a procura por projetos de arquitetura com essa finalidade tem aumentado. Mas é trivial que os profissionais tanto do projeto quanto da construção, tenham experiência e qualificação. O conhecimento técnico é uma garantia de segurança.
Texto: André Luiz Barros
Foto: Marco Fernandes