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Coleta Solidária

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 13/10/2020

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Aline Durães

 

O lixo é o destino certo de muitos itens nas residências de todo o país. Além dos resíduos orgânicos, como restos de comida e dejetos humanos, é para ele que vão plásticos, embalagens, vidros, madeiras e metais. Diariamente, cada brasileiro descarta, em média, um quilo de resíduos; a maior parte deles — mais precisamente 73%, de acordo com o IBGE — acaba indo parar nos controversos aterros sanitários. Os impactos ambientais desse descarte são tremendos e vão desde a contaminação de águas e solos até a liberação de gases nocivos e a proliferação de insetos e pragas.

Na tentativa de dar melhor destinação aos resíduos gerados nas grandes cidades, ganharam força nos últimos anos — embora ainda não o suficiente — os sistemas de coleta seletiva. Basicamente, eles consistem em separar materiais recicláveis diretamente na fonte geradora do lixo, antes de descartá-los. Além de ecologicamente sustentável, a coleta seletiva tem um ganho econômico importante, pois gera energia e matéria-prima para a indústria. “Com a criação das usinas de processamento e separação do lixo, aquelas pessoas que viviam de catar lixo em condições adversas e sem qualquer proteção passaram a ter uma atividade produtiva, orientada e fiscalizada. Passaram a se sentir cidadãos. Por outro lado, nos condomínios, cresceu entre os moradores a vontade de contribuir nesse processo, envolvendo nele os funcionários que passaram a se preocupar em recolher esse lixo passível de reciclagem e, em alguns casos, comercializarem esse material auferindo uma renda extra”, destaca Pedro Carsalade, presidente do Conselho Deliberativo da Abadi (Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis), que recentemente passou a integrar o Pacto pela Reciclagem, programa da Prefeitura de incentivo à coleta seletiva solidária.

No Rio de Janeiro, a Lei nº 4.969 estimula, desde 2008, a separação do lixo comum e do lixo reciclável em condomínios residenciais do Rio de Janeiro. Para recolher os resíduos da unidade, os síndicos podem contratar uma empresa de coleta ou entregá-los diretamente em pontos de entrega voluntárias, os chamados PEVs.

Uma terceira opção, entretanto, tem se mostrado mais interessante; tanto do ponto de vista financeiro como do social. É a parceria com cooperativas de reciclagem. Formadas geralmente por catadores de lixo, essas cooperativas geram empregos diretos, promovendo aumento real da renda dos cooperativados, além de melhoria na qualidade de vida e inclusão social.

Para o condomínio, a parceria é uma oportunidade também de ganhar uma graninha extra. O lucro gerado com a venda do material ao grupo de catadores pode ser revertido em projetos na própria unidade.

Há quatro meses, Isaías Duarte implantou o sistema de coleta seletiva no Palácio Lumiéri, com 116 unidades na Tijuca, e firmou contrato com uma empresa de reciclagem. “A gente colocava os contêineres na rua e o lixo amanhecia revirado, espalhado na calçada. Pensamos então nesse projeto. Entramos em contato com a cooperativa e eles nos emprestaram três coletores. Cada bloco tem um. Os moradores separam os materiais e depositam nos condutores. Depois, a empresa vem buscar os resíduos”. O condomínio doa os resíduos e todo o lucro obtido com a reciclagem desses materiais é revertido em programas sociais para a comunidade.do entorno da unidade. “Já fazíamos coleta de óleo e ampliamos para os demais materiais recicláveis. Temos o contrato por um ano, sendo renovável a cada eleição do síndico”, conta o gestor.

 

O que levar em consideração

Há itens importantes a serem considerados na realização de uma parceria com cooperativa de reciclagem. Antes de mais nada, o síndico deve optar por uma que tenha CNPJ. A relação fica mais profissional e o processo de contratação em si, mais fácil.

É interessante também assegurar que a cooperativa escolhida é capaz de recolher o material separado no condomínio. Nem todos os catadores trabalham como todos os tipos resíduos. Há quem só retire, por exemplo, óleo ou papel.

O gestor precisa definir, ainda, a periodicidade e os horários em que os resíduos serão recolhidos. Afinal, os funcionários da unidade devem estar preparados para receber o grupo. Certifique-se também que a cooperativa escolhida possua caminhão próprio com capacidade de receber as quantidades estipuladas de resíduos.

Um último ponto de atenção é com a segurança do condomínio. Todos os cooperativados responsáveis pela coleta devem ser prévia e devidamente identificados. “Não podemos esquecer também da segurança do catador. O condomínio deve orientar os moradores sobre a necessidade de embalar e sinalizar os vidros quebrados e demais materiais cortantes. Enxaguar os recicláveis é fundamental também. Armazenar material sujo compromete a higiene do seu próprio ambiente e das áreas de armazenamento futuro – pequenas cooperativas, sucateiros, áreas de transbordo ou mesmo grandes intermediários, todos localizados em áreas residenciais”, salienta o consultor ambiental Eduardo Bernhardt.

 

O ciclo do lixo na cooperativa

De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), os catadores são responsáveis por quase 90% do lixo reciclado no Brasil. Existem hoje no país mais de 800 mil profissionais do tipo em atividade. “Para o catador as vantagens de ser cooperativado são várias: a capacidade de aumentar sua renda, ter seu INSS pago pela cooperativa, ter planos de saúde e seguro de vida, trabalhar de forma mais digna fazendo o uso de equipamentos de proteção individual e uniforme”, pontua Cristiane Pereira de Brito, presidente da Cooperativa Recicla Mais Brasil.

Mas como funciona uma cooperativa de reciclagem? Como o lixo é tratado depois que sai do condomínio? Depois de recolhidos, os resíduos são levados aos galpões das associações onde passam pelo processo de triagem. É nele que os catadores verificam o que, de fato, poderá ser reciclado. “Toda a separação é feita por catadores. O aproveitamento dos resíduos é de quase 100%”, descreve Cristiane.

Logo depois, os materiais semelhantes, do mesmo tipo, são aglutinados e levados para as prensas, onde são compactados. Somente depois disso, o material é levado para empresas recicladoras que, efetivamente, irão transformar os resíduos em matéria-prima para outros usos e utilizações.

Importante ter em mente que, para ser bem-sucedido, um projeto de coleta seletiva com parceria de cooperativa de catadores precisa ter adesão dos condôminos. “O assunto deve ser discutido entre os condôminos antes de mais nada. O ideal é que se leve o tema à assembleia, e ele seja muito bem explicado para todos, inclusive para os funcionários. Trata-se basicamente de uma mudança de cultura. Uma vez absorvida pelo morador, essa cultura será disseminada, naturalmente, nos seus relacionamentos e assim vamos mudando a atitude das pessoas”, confia Pedro Carsalade, da Abadi.

“Síndicos e condôminos devem encarar a parceria com cooperativas como um investimento na melhor gestão dos resíduos da cidade, uma parte da administração pública de equilíbrio muito frágil e que pode afetar a todos, rapidamente, caso a coleta seletiva continue relegada a segundo plano”, pontua o especialista Eduardo Bernhardt. “O condomínio está inserido em uma coletividade. Temos no entorno pessoas que precisam. Se podemos contribuir, por que não fazer a nossa parte?”, finaliza o síndico Isaías Duarte.

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