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Convivência: o poder das boas-vindas

Por Cidades e Serviços
Última atualização: 16/10/2020
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Nos filmes norte-americanos, a cena é comum: assim que se muda para a nova casa, o morador é recepcionado pelos vizinhos com felicitações, um agrado em forma de presente e até mesmo com festas de boas-vindas. A correria do dia-a-dia impede que a vida real seja tão harmoniosa quanto à ficção hollywoodiana, mas é fato que a chegada de condôminos, sejam inquilinos ou proprietários, é uma oportunidade para o síndico deixar uma boa impressão nesses novos integrantes da dinâmica condominial.

Ao contrário do que acontece nos filmes, a recepção aos condôminos recém-chegados à unidade não precisa ser um mega evento. Na maioria das vezes, uma boa conversa basta para que os novos habitantes se sintam acolhidos e, de cara, passem a nutrir simpatia pelo gestor condominial. “Uma recepção adequada é o primeiro grande pilar para uma relação produtiva no dia-a-dia entre síndico e morador. Esse primeiro contato causa uma impressão primária positiva, que facilita a continuidade da comunicação futura. O condômino precisa sentir que há, de fato, uma preocupação genuína do síndico com ele”, afirma a psicóloga Célia Rocha.

Mesmo os administradores mais ocupados, que possuem um volume grande de responsabilidades que o impeçam de recepcionar os novos condôminos, podem se mostrar bons anfitriões. Uma dica é treinar os funcionários para a tarefa. “O síndico pode deixar algumas regras escritas para zeladores e porteiros transmiti-las aos novos habitantes. Ao chegar em casa, no fim do dia,  pode interfonar para o novo morador, se apresentar e perguntar se restou alguma duvida em relação à apresentação, colocando-se sempre à disposição para qualquer esclarecimento”, propõe Célia.

Quando Vânia Monteiro se mudou para o Condomínio Paulo Cavalcanti, em Botafogo, recebeu um cartão no qual uma de suas vizinhas a convidava para uma visita a sua casa. A recepção cordial foi tão marcante que, mesmo depois de quatro anos, ela ainda se lembra. Hoje, como síndica do edifício de 32 unidades, tenta deixar os moradores recém-chegados à unidade tão à vontade quanto se sentiu um dia. “Uma condômina, que havia morado aqui quando criança, voltou depois de se divorciar do marido. Dei as boas-vindas, fiz ambientação, conversei com ela. Acho que isso faz a diferença, pois mostra que somos receptivos”, conta Vânia.

Um primeiro contato cordial e acolhedor possibilita também ao síndico conquistar, logo no começo, o apoio dos novos condôminos. Isso pode impedir problemas de relacionamento no futuro. “Quando surgirem algumas dificuldades, como quebra das regras condominiais, por exemplo, o síndico já vai conhecer o morador e um pouco da sua história. O acordo poderá ser estabelecido com mais tranqüilidade e todas as pendências poderão ser resolvidas como entre amigos”, aponta a psicóloga Célia Rocha.

Quando o problema chega antes
O primeiro contato entre Maria de Lourdes da Silva e um casal de novos condôminos do Dom Aníbal, no Humaitá, não foi dos mais fáceis. Os recém-chegados procuraram a síndica do condomínio de 33 unidades, quinze dias depois da mudança, para fazer uma queixa contra uma moradora antiga do edifício. Segundo eles, a condômina em questão interrompeu uma reunião de amigos que estava acontecendo no apartamento do casal para exigir silêncio. E o pior: enfatizou que, por serem inquilinos, eles não deveriam fazer aquele tipo de comemoração.

Nos dois anos em que está à frente do edifício, Maria de Lourdes jamais incentivou posturas como a adotada pela condômina. Surpresa, ela não hesitou em manifestar apoio ao casal de recém-chegados. “O tipo de preconceito manifesto por essa moradora é inadmissível. Se o barulho no apartamento vizinho a estava incomodando, ela poderia ter falado de forma educada ou recorrido ao porteiro. Não precisava bater à porta e exigir que calassem a boca. Eu orientei o casal a escrever no livro do condomínio. Eles preferiram não registrar a reclamação para não criar, logo no início, um conflito interno. Mas eu dei toda abertura para que fizessem isso caso desejassem”, narra a gestora. Pouco tempo depois, em função de uma obra que estava sendo realizada no condomínio, a mesma condômina criou outra situação embaraçosa. Dessa vez, com a própria síndica. Maria de Lourdes conta que o casal foi um dos primeiros a mostrar apoio e solidariedade.

O exemplo da síndica do Humaitá mostra bem como o gestor condominial pode reverter a seu favor problemas ocasionados pela mudança de novos habitantes. Caso semelhante ocorreu com Vânia Monteiro. Em uma noite, ela se sentiu incomodada pela movimentação na unidade acima da sua. Interfonou e pediu, cordialmente, que os condôminos diminuíssem o barulho. Ela não sabia, mas eles tinham acabado de se mudar para o edifício e estavam comemorando a nova residência. O que poderia ter gerado animosidade entre os condôminos acabou estreitando os laços entre eles. “Eu expliquei a situação e não houve estresse maior. Tanto que, no dia seguinte, eles vieram falar comigo, me pediram desculpas e a situação se normalizou. Não ficou nenhum ranço. Tento lidar da melhor maneira possível com meus condôminos, sejam novos ou antigos. Prefiro sempre ser educada e flexível para não prejudicar nem a mim nem a eles”, pondera a gestora do Paulo Cavalcanti.

Primeiros esclarecimentos
A recepção é um momento propício também para conversar sobre as principais regras do condomínio. Assim, os recém-chegados podem conhecer, logo no início, as normas que vão facilitar sua convivência com os demais condôminos. É interessante que o síndico apresente a Convenção, o Regimento Interno e o livro de reclamações. O gestor deve também orientar os novos habitantes sobre como e onde são realizadas as Assembleias e reuniões, informá-los sobre seus horários disponíveis para atendimento e passar a eles telefones úteis, como os da administração e os de emergências. Outra boa ideia é apresentá-los aos funcionários.

A educação e a cordialidade devem compor o tom principal da conversa. “O gestor precisa destacar a importância e a satisfação que tem em receber os condôminos. Não basta entregar as normas de maneira fria, mas sim aproveitar a ocasião para uma aproximação maior e mais saudável”, sugere Célia Rocha.

Se for o caso, o síndico pode aproveitar a ocasião para mostrar aos condôminos as principais restrições do prédio. Problemas estruturais, como uma piscina que ofereça riscos ou um play desativado, por exemplo, devem ser informados logo no começo. Na opinião da síndica Vânia Monteiro, no entanto, os comunicados param por aí. Ela acredita que os novos condôminos não devem ser envolvidos em questões mais internas à administração, como aquelas relacionadas às finanças ou a pessoal.

Maria de Lourdes da Silva foi abordada por inquilinos recém-chegados ao condomínio. Eles estavam com dúvidas em relação às taxas condominiais. A síndica chegou a fornecer uma cópia da fatura de seu condomínio para esclarecer os vizinhos. “Cada condomínio tem uma política própria, despesas específicas. Cada novo morador tem suas inquietações e preocupações. Acho que é importante passar essas informações para eles, até mesmo para tranqüiliza-los”, opina.

Futuros aliados
Pode não parecer, mas o tipo de abordagem escolhido pelo síndico durante a conversa com os novos condôminos é crucial para que ela seja bem-sucedida. Pequenos detalhes fazem grande diferença nessa hora. A psicóloga Célia Rocha dá algumas dicas para aqueles gestores que não sabem como conduzir o papo: “o gestor deve atentar para a sua postura não verbal. Lembre que o corpo fala e de que, durante o papo, você está passando uma imagem ao outro. Não esqueça de ouvir com atenção o que o condômino está falando, sem o atropelar. Invista no contato visual, é muito desagradável o ouvinte ficar procurando o olhar do outro. Evite se comportar como se fosse o proprietário do prédio e o dono dos moradores. É importante ainda que o gestor seja breve, afinal o condômino também tem seus afazeres. A dica principal é pensar sempre que, antes de ser síndico, você é um ser humano como aquele que está lhe ouvindo”, esclarece.

A conversa pode ter como saldo final o apoio desses novos integrantes do condomínio ao síndico, item imprescindível à sua gestão. “Assim que assumi o Paulo Cavalcanti, promovi algumas mudanças. O nosso jardim foi uma delas. Os condôminos foram essenciais. Deram sugestões, ajudaram com orientações sobre como a obra deveria ser conduzida. Até hoje, as pessoas elogiam porque veem que o prédio está funcionando. Sou muito receptiva a isso. Um síndico rígido, que não preze pela boa comunicação com os seus moradores, acaba deixando de experimentar isso”, observa Vânia Monteiro.

Célia Rocha aponta que tanto os condôminos recém-chegados como os antigos devem sentir que integram uma equipe. “Quando há uma boa relação, todos se sentem à vontade para auxiliar, dar sugestões e ajudar colocando a mão na massa. Uma relação eficaz traz disposição a todos. Se não se estabelece uma boa relação desde o início, todos os pontos da gestão são enfraquecidos”, finaliza.

Texto: Aline Duraes
Foto: Marco Fernandes

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